Page 14 - APED 2018 N1

R. Sousa Almeida, et al.: Dor Neuropática Central após Acidente Vascular Cerebral
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Figura 1. Comorbilidades. DRC: doença renal crónica; CAD: doença coronária; FA: fibrilhação auricular; HTA: hipertensão arterial.
alterações no tálamo destes doentes, tanto em repouso como na dor evocada18.
Terapêutica
A DNC-AVC é uma dor de difícil compreensão, sendo o seu tratamento um desafio. Na tentativa de ultrapassar esta dificuldade surgiram alguns estudos de eficácia terapêutica, a maioria não- -duplamente cegos e sem grupo de controlo com placebo. Assim, as guidelines e algoritmos terapêuticos existentes baseiam-se na extrapo- lação da eficácia de tratamento de dor neuropá- tica central por outras causas ou para dor neu- ropática periférica.
A amitriptilina, a gabapentina e a pregabalina são considerados fármacos de primeira linha. Os inibidores seletivos da recaptação de sero- tonina-noradrenalina e a lamotrigina podem ser considerados nos casos em que a terapêutica prévia for ineficaz12. A prescrição de opioides deve ser criteriosa, uma vez que não há evidên- cia de benefício terapêutico na DNC-AVC quan- do comparados com os fármacos anteriormente descritos19.
Até à data, não existe evidência que suporte o tratamento preventivo de DNC-AVC.
As outras síndromes dolorosas concomitantes devem também ser identificadas e tratadas.
Os tratamentos não farmacológicos podem ser considerados em doentes com DNC-AVC refratária e têm sido abordados em alguns estu- dos recentes, embora com amostras de peque- na dimensão. Apesar dos resultados promisso- res da estimulação cerebral profunda em doentes com DNC-AVC, o parecer oficial do The National Institute for Health and Care Excellence (NICE) em 2016 concluiu que não existe ainda evidência suficiente para aprovar esta terapêu- tica20.
Os resultados da estimulação do cortéx motor não foram conclusivos21. A estimulação magné- tica transcraniana repetitiva pode diminuir a in- tensidade da dor. Alguns doentes beneficiam de outras abordagens, nomeadamente fisioterapia, terapia ocupacional e psicoterapia22.
Resultados
O CMD-HGO recebe doentes com dor cróni- ca de todos os grupos etários. De acordo com os dados recolhidos, foram realizadas, em 2017, 12 consultas (cinco primeiras consultas), correspondentes a nove doentes com diagnós- tico principal de DNC-AVC, com idade média de 64 anos (mínimo: 45; máximo 79). Verificou- -se o predomínio do sexo feminino (67 vs. 43%), concordante com os estudos de fatores de risco10.
As comorbilidades mais frequentes foram a hipertensão arterial (89%), a dislipidémia (77,8%), os hábitos tabágicos (66,7%) e a dia- betes mellitus (55,6%) (Fig. 1).
Todos os AVC foram isquémicos. Dos doentes com registo de exames imagiológicos, 60% apresentaram lesão em territórios da artéria ce- rebral média e 40% da circulação posterior. Se- gundo a classificação TOAST23, a etiologia mais frequente foi a cardioembólica (66,7%).
Os doentes foram referenciados maioritaria- mente pelas especialidades de medicina geral e familiar (33,3%) e neurologia (22,2%).
A mediana de tempo entre o AVC e o início da dor foi de 9,3 meses, com uma mediana de 8,7 meses entre o início da dor e a primeira consul- ta no CMD-HGO.
À data da primeira avaliação, a mediana da intensidade da dor, usando a escala numérica (EN), aquando da consulta foi de 3,9, sendo de 8,9 em pico (Fig. 2). Os descritores de dor mais frequentes foram «formigueiro» e «queimadura» (44% em ambos). Um dos doentes apresentava afasia sequelar. Em quatro doentes, a dor esta- va localizada em todo o hemicorpo, em três apenas no membro inferior e em dois no mem- bro superior.
Sete doentes apresentaram disestesia, oito com alodinia (tátil e/ou térmica ao frio) e cinco com hiperalgesia.
Verificou-se a presença de outras síndromes dolorosas em 55% dos doentes: quatro com dor miofascial, quatro com ombro doloroso e quatro
com cefaleia persistente. Não se verificou ne-
nhum caso de espasticidade. 11
DRC CAD
Depressão FA
Obesidade Diabetes
Fumadores Dislipidémia
HTA
DOR