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terapêutica e a duração da ação apoiam a hipó- tese de uma influência humoral mediada por neurotransmissores, hormonas e outras substân- cias químicas37. Revisões sistemáticas têm mostrado que a acupuntura é eficaz no alívio da dor a curto prazo, comparativamente com controlos subme- tidos a acupuntura sham (em pontos não tera- pêuticos)24. Para períodos com duração superior a 6-12 meses, os resultados são inconsisten- tes15,38. O Centro Hospitalar do Porto (CHP) inclui uma Unidade de Dor multidisciplinar em que, anual- mente, são efetuadas cerca de 600 primeiras consultas e 3.000 consultas subsequentes. Os doentes seguidos nesta Unidade padecem de patologia dolorosa crónica, oncológica e não oncológica, sendo a patologia mais frequente a do foro musculoesquelético. As técnicas usadas para o controlo da dor incluem a acupuntura. Geralmente, os doentes que são orientados para acupuntura apresentam dor musculoesquelética (nomeadamente dor miofascial) e dor neuropá- tica. Com este estudo, pretendemos avaliar o efei- to da acupuntura na intensidade da dor e no estado funcional dos doentes seguidos na Uni- dade de Dor Crónica do CHP e, ainda, avaliar o impacto da mesma na sua qualidade de vida. Métodos Este estudo prospetivo incluiu doentes segui- dos na Unidade de Dor do CHP, com dor de origem musculoesquelética ou neuropática e com indicação para acupuntura. Cada doente realizou sete sessões com periodicidade sema- nal, recorrendo à técnica convencional com ou sem eletroterapia, no período compreendido en- tre fevereiro e maio de 2015 e entre outubro de 2015 e março de 2016. Na primeira sessão, re- colhemos informação sobre caraterísticas demo- gráficas, diagnóstico, tempo de evolução da dor e de seguimento na Unidade de Dor, esquema terapêutico prescrito e eventual realização pré- via de acupuntura. Em cada sessão, questioná- mos os participantes relativamente à medicação administrada para controlo da dor nos sete dias anteriores e eventuais tratamentos não farmaco- lógicos realizados com intuito analgésico. Na primeira e na sétima sessão, todos os doentes completaram a versão portuguesa do EuroQol- -5D (EQ-5D)39-41 e do Inventário Resumido da Dor (Brief Pain Inventory – Short Form \[BPI\])42 para avaliar, respetivamente, a qualidade de vida relacionada com a saúde e a intensidade da dor e repercussões nas atividades de vida diária. Questionámos os pacientes ativos profis- sionalmente sobre o número de dias de absen- tismo laboral devido à dor crónica nos 30 dias anteriores. Finalmente, avaliámos a perceção da eficácia das sete sessões no estado de saúde, no final da sétima sessão, através da escala de A. Azevedo, et al.: Acupuntura no Tratamento da Dor Crónica Impressão Global do Doente sobre a Evolução do seu Estado (Patient Global Impression of Change \[PGIC\])43. Com o objetivo de avaliar o efeito do tratamento a médio prazo, três sema- nas após a conclusão, contactámos telefonica- mente os doentes para os questionar acerca dos tratamentos com intuito analgésico realizados nos sete dias anteriores, e para que completas- sem novamente o EQ-5D, o BPI e o PGIC. Para a realização da análise estatística, descritiva e inferencial, utilizámos o Statistical Package for the Social Sciences versão 22.0 para o Win- dows, tendo sido assumida uma probabilidade de significância (ρ-value) de 0,05, com intervalo de confiança de 95%. Resultados Caraterização da amostra Para o estudo, contactámos 37 doentes, dos quais cinco não realizaram as sete sessões por motivos alheios ao estudo. A amostra final é constituída por 32 doentes de etnia caucasiana, 90,6% (n = 29) do sexo feminino e com média de idades de 57,84 (± 12) anos. Relativamente à escolaridade, 37,5% (n = 12) dos doentes concluiu o 1.o ciclo; 6,3% (n = 2) o 3.o ciclo; e 18,8% (n = 6) o 2.o ciclo/12.o ano/ensino supe- rior. Quanto ao estado laboral, 56,3% (n = 18) dos doentes estão reformados, 25,0% (n = 8) são profissionalmente ativos, 15,6% (n = 5) es- tão desempregados e 3,1% (n = 1) encontram- -se de baixa médica. Em T1, 34,4% dos doentes ativos (11 doentes) tiveram necessidade de se ausentar do trabalho no mês anterior ao início do tratamento devido à dor, com uma média de 2,1 (± 4,3) dias de absentismo. Este impacto na atividade laboral não se verificou em T7, uma vez que não ocor- reram ausências ao trabalho por dor nos últimos 30 dias pré-conclusão do tratamento. A maioria dos doentes apresenta dor músculo- -esquelética (84,4%) e apenas 11,6% apresenta dor neuropática, com tempo mínimo de evolução de 10 meses e máximo de 31 anos, sendo a média de 11,1 (± 1,4) anos. Quanto ao tempo de seguimento na consulta de dor, a média é de 3,9 (± 4,1) anos, sendo o tempo mínimo 0 meses e o máximo 15 anos. Relativamente à acupuntura, 75,0% dos doen- tes já tinham realizado este tipo de tratamento previamente. Terapêutica da dor crónica A análise da variável Medicação Prescrita Realizada em T1 e T7 permitiu-nos verificar que 35,5% dos doentes diminuíram a medicação, 61,3% manteve e apenas 3,2% aumentou. Esta alteração, segundo o teste dos Sinais, é estatis- ticamente significativa (p < 0,05). Quatro doen- tes deixaram de sentir necessidade de tomar medicação. 9 DOR 


































































































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