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Dor (2018) 26 No que respeita à interferência da dor na ati- vidade geral, disposição, capacidade de andar, trabalho normal, relação com os outros, sono e prazer de viver dos doentes, constatámos uma diminuição da interferência em T8 comparativa- mente a T1. De facto, em T8 aumentou o núme- ro de doentes que referiram que a dor não teve interferência nas suas atividades na última sema- na, e deixaram de ocorrer ausências ao trabalho desde que o tratamento com acupuntura se ini- ciou, indo ao encontro de resultados anteriores21. Por sua vez, globalmente, os índices de qua- lidade de vida após as sete sessões de acupun- tura foram superiores aos estimados em T1, com melhorias a nível de mobilidade, cuidados pes- soais, atividades habituais (profissionais, do- mésticas e de lazer), dor/mal-estar e ansiedade/ depressão. Efetivamente, em T7, o aumento da frequência de resposta «sem problemas», em todos os índices, exceto relativamente às ativi- dades habituais, poderá estar relacionado com a diminuição da intensidade da dor perceciona- da. Os índices de dor/mal-estar e ansiedade/ depressão foram os únicos parâmetros avalia- dos que mantiveram doentes que responderam «muitos problemas» em T7. Este facto poderá ser explicado por estes doentes apresentarem dor crónica com tempos de evolução mais lon- gos e/ou dor generalizada. Comparando T1 com T8, em todos os parâmetros verificámos um au- mento na frequência de resposta «sem proble- mas». Por outro lado, apenas nos parâmetros dor/mal-estar e ansiedade/depressão se verifi- cou uma diminuição na resposta «muitos proble- mas». Não conseguimos encontrar uma explica- ção para esta tendência paradoxal. Comparando T7 com T8, não se observou uma tendência clara das respostas, no entanto, verificámos que os doentes que responderam «muitos proble- mas» correspondem a situações de dor crónica prolongada e/ou dor generalizada. Nos casos em que verificámos um aumento na intensidade da dor, de T7 para T8, houve um aumento con- comitante da interferência da dor e diminuição do índice de qualidade de vida. Estas variações entre T7 e T8 poderão indicar que, em alguns casos, um maior número de sessões poderá es- tar indicado, de modo a perpetuar os efeitos da acupuntura a médio prazo. Finalmente, é de ter em conta que o tempo de evolução da dor apresentou uma correlação ne- gativa moderada com a qualidade de vida as- sociada à saúde, em T7, tendência mantida em T8. Este aspeto alerta para a importância de intervenções terapêuticas precoces, que contra- riem o mais possível o instalar de cronicidade ao nível da dor. Quanto à impressão global do doente sobre a evolução do seu estado de saúde, é de salientar que, em T7, uma grande maioria dos doentes afirmou ter melhorado, estado que se manteve em T8. Este perfil de respostas reflete os resul- 12 tados favoráveis relativos à qualidade de vida associada à saúde e à interferência da dor na qualidade de vida descritos anteriormente, de- monstrando que a acupuntura tem resultados positivos, mantidos a médio prazo após conclu- são do tratamento. Estudos recentes sugerem que a avaliação dos índices de qualidade de vida e de interferência funcional são parâmetros mais adequados no estudo da dor, comparativa- mente com a avaliação da intensidade da dor47. Isto pode justificar que a perceção da melhoria do estado de saúde, avaliada pelo PGIC em T7, não se correlacione com a diminuição da inten- sidade da dor entre T1 e T7. Apesar dos resultados encorajadores, algu- mas limitações podem ser apontadas ao nosso estudo. A inclusão de doentes com dor gene- ralizada e/ou tempo de evolução prolongado poderá justificar alguns resultados menos favo- ráveis. Uma seleção mais rigorosa dos doentes a incluir no estudo poderia ser vantajosa, no- meadamente no que respeita ao tempo de evo- lução da dor, tipo de diagnóstico, terapêutica farmacológica e não farmacológica, podendo estas variáveis influenciar os resultados, tanto positiva como negativamente. Estas variáveis poderão ter influenciado os resultados obtidos, quer de forma positiva quer negativa. Se, por um lado, a inclusão de doentes com dor gene- ralizada e/ou tempo de evolução prolongado poderá justificar alguns resultados menos favo- ráveis, por outro, uma vez que vários doentes recorreram a outros tratamentos não farmaco- lógicos, não podemos afirmar que as melhorias observadas são devidas exclusivamente à acu- puntura. No entanto, o controlo de todas estas variáveis é difícil, se não mesmo inexequível. Da mesma forma, seria importante incluir um grupo controlo, com patologias equiparáveis, de modo a comprovar e comparar o efeito te- rapêutico da acupuntura com o da terapêutica convencional ou acupuntura sham. Assim, tam- bém se poderiam controlar eventuais melhorias devidas à passagem do tempo, a efeito place- bo, e/ou aos efeitos isolados da terapia farma- cológica e/ou não farmacológica. Deverão ain- da ser considerados os possíveis efeitos confundidores da relação médico-doente. Mais ainda, sendo um tratamento com periodicidade semanal, realizado num contexto terapêutico que visa o relaxamento do doente, não pode- mos negligenciar o facto de que os doentes possam sentir que estão a receber mais aten- ção e a ser mais «cuidados» do que o habitual, o que poderá ter um efeito atenuante sobre a perceção da dor. Uma amostra com maior número de partici- pantes daria, também, maior poder estatístico à nossa análise. Na verdade, o pequeno número de participantes pode justificar as tendências apenas moderadamente significativas encontra- das. No entanto, o facto de existir consulta de acupuntura na Unidade de Dor apenas uma tar- de por semana, limitações inerentes ao proces- DOR 


































































































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