Page 6 Cefaleias um desafio
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Prefácio
Não haverá, provavelmente, no nosso organismo, localização de dor com mais
significado para o ser humano que a cabeça. É ela a sede da actividade inte-
lectual, a razão da felicidade, a fonte da auto-estima e da imagem e até a ga-
rantia da sobrevivência.
No entanto, a cefaleia constitui uma das mais comuns e antigas queixas do
Homem, pelo que não é de estranhar que seja uma das razões que mais doen-
tes leva aos médicos de cuidados primários.
Quase sempre dolorosa e incapacitante, é certo que o seu significado pa-
tológico acaba muitas vezes por ser irrelevante, embora não seja menos ver-
dade que nalguns casos possa evoluir com grande gravidade lembrando-nos da
enorme complexidade que pode revestir o seu diagnóstico diferencial, um dos
maiores da medicina, com quase 300 tipos ou causas.
Estima-se que, em cada ano, 240 milhões de pessoas possam sofrer 1,4 biliões
de enxaquecas, bem como 5% de mulheres e 2,8% de homens possam ter cefa-
leias mais de 180 dias/ano. A National Headache Foundation nos EUA, calcu-
lou em 157 milhões de dias de trabalho perdidos em cada ano por doença re-
lacionada com este problema.
Dhirendra S. Bana, directora do John R. Graham Headache Center, The
Faulkner Hospital (Boston), defende que oito mecanismos para a dor de ca-
beça estão já reconhecidos há bastante tempo – conversão ou histeria, neural-
gia, pressão directa em estruturas algossensitivas, tracção ou distorção, dila-
tação vascular excessiva localizada ou generalizada, contracção muscular
prolongada e inflamação – e que ganha interesse crescente a convicção da
existência de uma fonte de dor no SNC que possa afectar o limiar álgico dos
mais periféricos impulsos periféricos.
Os números acima expressos, fazem da cefaleia um autêntico problema de
saúde pública e o que já se progrediu no seu conhecimento, na identificação
das suas categorias major e na metodologia da sua abordagem, obrigam a uma
intervenção cada vez mais qualificada e especializada.
No caso da enxaqueca, por exemplo, tratando-se de uma síndrome paro-
xística caracterizada por ataques recorrentes de cefaleia, habitualmente as-
sociados a náuseas e vómitos, precedidos de uma aura e separados por in-
tervalos totalmente assintomáticos, leva a que muitos doentes recorram a
automedicação para as crises, desconheçam a importância de uma terapêu-
tica de fundo e permaneçam, durante largos anos, afastados das consultas
especializadas.
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