Page 16 Multidisciplinaridade e Organização das Unidades de Dor Crónica
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Teoria do Portão
A introdução da Teoria do Portão (Gate Control Theory), a aceitação
da influência dos factores psicológicos e a percepção de que a dor é o
resultado de um processo biopsicológico muito complexo, permite
compreender melhor o fenómeno da dor.
Segundo a Teoria do Portão, a modulação da experiência da dor e
da sua reacção efectua-se a três níveis: na periferia, na medula espinal
e no cérebro, sendo estes os principais «portões de controlo».
O controlo é exercido no sentido ascendente, inibindo ou facilitan-
do a propagação do estímulo da periferia para o cérebro, e descenden-
te, do cérebro até aos cornos posteriores da medula. A abertura e o
fecho do portão que simbolizam a passagem ou não da informação
dolorosa ao longo das vias nervosas são controlados pelas substâncias
químicas produzidas pelo sistema nervoso. Os neurotransmissores de
excitação produzidos quando há lesão dos tecidos actuam abrindo o
portão se a sua libertação ou acção não for bloqueada pelos neurotrans-
missores de inibição, como por exemplo a serotonina, as encefalinas e
outras endorfinas que fecham o portão. A propagação da informação
no sentido ascendente é também condicionada pelo tipo de fibras ner-
vosas que predominam na condução dos estímulos: as fibras grossas
A-Beta levam ao encerramento do portão, enquanto as fibras finas A-
delta e C levam à sua abertura. Também na regulação descendente o
influxo sensitivo ligado aos processos cognitivos, emocionais e à esti-
mulação auditiva e visual das estruturas cerebrais promove o encerra-
mento do portão.
Neste modelo teórico, as funções cognitivas como a atenção, a
distracção e a memória, as funções emotivas como o stress, os estímu-
los visuais auditivos e tácteis, encontram o seu lugar intervindo no
controlo descendente, pois ao regularem a transmissão dos influxos
sensitivos e a produção de substâncias químicas, determinam pela aber-
tura ou pelo fecho do portão a qualidade e intensidade da experiência
dolorosa. No entanto, não sendo de todo linear, ou seja, não tendo re-
lação directa com o estímulo ou mesmo com a sensação que a provo-
cou. Por isso as respostas podem ser muito diferentes de pessoa para
pessoa e na mesma pessoa, dependendo do estado biopsicossocial.
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