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A dor no idoso
Especial DOR
A dor no idoso revela especificidades próprias, aparecendo geralmente asso-
ciada a outras patologias e constituindo um factor muito incapacitante, que
contribui para a diminuição da respectiva autonomia. Nesta faixa etária, a dor
crónica tem grande impacto, provocando ansiedade, insónia, depressão, per- Especial DOR
da de apetite, emagrecimento, alterações da memória e do raciocínio, limi-
tação nas actividades da vida diária e maior procura dos cuidados de saúde.
s causas de dor são múl- maior segurança, mas sempre por
tiplas: doença cancerosa, indicação do médico assistente, res-
osteoporose, artrose das ELsA vErDAsCA peitando a dose máxima adequada.
Agrandes e pequenas arti- médica Anestesiologista O médico também pode optar por
culações, doenças da coluna verte- Unidade de Dor medicamentos da familia dos opi-
bral (espondilartrose, fractura osteo- Hospital Garcia de orta óides. Neste momento já existem
Almada
porótica, hérnia discal, compressão multiplas opções no mercado que
de raízes nervosas) e nevralgia pós variam quanto à “potência”, forma Nos corredores da dor
infecção herpética. Há outras cau- e possiveis causas. É com base de apresentação (comprimidos, go- Nos corredores da dor
sas menos frequentes, como a neu- nessa informação que vai delinear tas, supositórios, sistemas transdér-
Centro Hospitalar entre o Douro e Vouga
ropatia diabética, a dor do membro um plano terapêutico adequado às micos) e rapidez de efeito, o que
fantasma, a dor pós AVC e a insufi- particularidades fisiológicas do ido- permite individualizar o tratamento Centro Hospitalar entre o Douro e Vouga
ciência vascular. so, tendo em conta a administração a cada doente.
A dor crónica é frequentemente simultânea de múltiplos fármacos, Ponderando todo o historial do do-
desvalorizada e maltratada. É fun- a deterioração cognitiva e o isola- ente e ajustando as doses dos fár- “Dói-me tudo da cabeça aos pés”. É desta forma que Maria Josefa Cardoso, 78 anos,
damental que todos, doentes e pro- mento social. macos, haverá menos efeitos secun-
fissionais de saúde, entendam que Continua-se a fazer um uso abusivo dários e maior adesão à terapêuti- nos fala da sua dor. É uma doente que conhece bem os corredores da unidade da dor do
hospital de Oliveira de Azeméis, uma vez que anda a ser seguida na consulta da dor há já
nove anos.
«Na maioria das situ- e facto, a funcionar há 17 Cativo divide em três grupos: os tra- ampolas de morfina e era quase
ações, a dor pode ser anos, e com doentes que tamentos com electro-estimulação, necessário meter um requerimen-
um tratamento não invasivo, feito
to ao ministro para conseguir uma
são seguidos, em alguns
controlada de forma Dcasos, há anos, na unida- sob a pele, regra geral três vezes por ampola”, desabafa. “Agora temos
eficaz, e isso é parti- de da dor do hospital de Oliveira de semana durante um mês e que o do- morfina e opióides de toda a qua-
Azeméis quase todos se conhecem.
lidade e feitio à nossa disposição,
ente pode, posteriormente, realizar
cularmente importante Maria Carlos Cativo, Coordenadora em casa, se adquirir o aparelho, ou e alguns deles vieram revolucio-
no idoso de forma a da unidade de dor crónica do Cen- voltar ao hospital duas ou três vezes nar o tratamento da dor crónica,
por ano para o repetir. “É um trata-
tro Hospitalar de entre Douro e Vou-
como por exemplo os transdérmi-
permitir a manutenção ga (CHEDV EPE), explica que esta mento, baseado no Gate Control, cos”, acrescenta.
da sua qualidade de foi uma unidade que foi crescen- que bloqueia os sinais de dor que Mas, para ter acesso a estas diver-
do e ganhando espaço dentro do
passam para o cérebro. É um trata-
vida» hospital e que, actualmente, trata mento com o qual temos excelentes sas opções terapêuticas, é neces-
dor crónica oncológica e não on- resultados”, afirma Maria Carlos Ca- sário chegar à consulta da dor. Re-
cológica. tivo. Depois há ainda os tratamentos gra geral os doentes são referencia-
ca com consequente alivio da dor. Pertencente ao Centro hospitalar en- por via endovenosa, que se realizam dos pelos centros de saúde, mas a
Uma abordagem multidisciplinar, em tre Douro e Vouga, a unidade da dor uma vez por semana, e finalmente verdade é que continuam a chegar
que se integram também as terapêu- de Oliveira de Azeméis funciona em os bloqueios, um tratamento muito mais tarde do que seria desejável.
ticas psicológicas (distracção, psi- sintonia com um outro pólo: a unida- mais invasivo mas que, graças ao
coterapia, psicodrama, relaxamen- de da dor do Hospital de Santa Ma- amplo leque de medicamentos ac- «Não temos a preten-
to, hipnose, pensamento positivo) e ria da Feira, pertencente ao mesmo tualmente disponível, é feito cada são de tratar todos
fisicas (exercicio fisico, hidroginásti- centro hospitalar. Em breve estes vez com menor frequência.
ca, hidroterapia, electroterapia, mas- dois pólos vão juntar-se no hospital “Quando comecei a trabalhar na dor, os doentes com dor.
a dor persistente não faz parte do dos anti-inflamatórios (por exemplo, sagem, manipulação, calor, frio, acu- de S. João da Madeira, com instala- há 20 e tal anos, não tinha nada. Tí- O médico de famí-
processo natural de envelhecimen- diclofenac, ibuprofeno, nimesulide) puntura), permite ainda reduzir a quan- ções novas, proporcionando assim nhamos os anti-inflamatórios e as
to, sendo sinal de doença ou lesão por automedicação ou prescrição tidade de fármacos e diminuir os seus um serviço ainda melhor ao utente. lia tem a obrigação,
Em Oliveira de Azeméis a consulta
que deve ser tratada; que o trata- inadequada, considerando errada- efeitos secundários. da dor funciona diariamente. Como e cada vez mais
mento farmacológico da dor deve mente que este grupo de fármacos Com o avanço dos conhecimentos complemente a estas consultas há, a capacidade, de
ser associado a complementares; é muito seguro. Na verdade, estes na área da Medicina da Dor, é pos- semanalmente, uma consulta mul-
e que o doente deve ter um papel fármacos podem provocar lesões sivel deixar de encarar este sintoma tidisciplinar com uma psiquiátrica, tratar grande parte
activo em todo o processo de con- graves do tubo digestivo, insufici- como uma fatalidade. Na maioria das uma especialista em reabilitação fí- mAriA CArLos CAtivo dos doentes que lhe
trolo da sua dor, adequando a ac- ência renal e toxicidade hepática, situações, a dor pode ser controlada sica e os médicos e enfermeiros Coordenadora da unidade de
dor crónica do Centro Hospitalar
tividade às suas limitações fisicas. particularmente neste grupo etário. de forma eficaz, e isso é particular- da unidade. de entre Douro e vouga (CHEDv chegam com dor
O médico assistente deve fazer uma Outros fármacos, como o parace- mente importante no idoso de forma Depois, para além das consultas, EPE) crónica»
08 cuidadosa avaliação da dor, carac- tamol, o metamizol e os relaxantes a permitir a manutenção da sua qua- há os tratamentos que Maria Carlos 09
lidade de vida. •
musculares, podem ser usados com
terizando o seu tipo, intensidade