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mente tende a ser desvalorizado mas se torna preponderante nestes casos: o tempo! É funda- mental dar tempo à criança para se sentir con- fortável e segura num meio, à partida, inóspito, sendo que, para tal, as primeiras consultas têm a duração de uma hora e as subsequentes de 30 minutos. Parecendo uma questão de menor importância, esta torna-se absolutamente fun- damental para obter resultados positivos numa abordagem multi e transdisciplinar. Só assim se torna possível que diferentes profissionais com uma visão necessariamente dependente da sua formação possam atuar em consonância.
A melhoria clínica demonstrada deveu-se, acreditamos, à associação das diferentes abor- dagens, com intervenção farmacológica, trata- mento fisiátrico e psicoterapia. A integração dos pais/cuidadores em todo o processo, bem como, quando pertinente, da assistente social, em con- junto com entidades do estabelecimento de en- sino da criança, permitiu intervir não apenas junto do indivíduo mas também no seu meio. Particularmente nesta faixa etária, torna-se fun- damental que assim aconteça e julgamos que este é um ponto incontornável em futuros pro- gramas de dor crónica pediátrica.
Tal como todos os projetos numa fase de de- senvolvimento, este apresenta alguns aspetos a modificar e a sua identificação é, para nós, a mais-valia deste trabalho, pois irá permitir a nossa evolução e poderá fornecer àqueles que estejam neste momento a considerar desenvol- ver um projeto nesta área uma ferramenta de base para melhorar a qualidade do serviço prestado.
Um dos aspetos identificados aquando da co- lheita de dados foi a necessidade de uniformi- zação de registos de consulta, que se encon- tram muito dependentes do elemento da equipa que os realiza com um claro foco na sua área de intervenção, dificultando também a posterior análise de dados.
Outro aspeto prende-se com a variabilidade de critérios de referenciação nos diferentes centros, em parte, devido à ausência de estruturação e divulgação dos mesmos. Neste ponto, iniciou-se a divulgação desta consulta e das suas particu- laridades junto do corpo clínico do próprio CMIN, encontrando-se já em fase de implementação a possibilidade de referenciação de outros serviços pediátricos de hospitais distritais.
Por outro lado, de uma perspetiva fisiátrica, destaca-se a necessidade de aplicação siste- mática de uma escala funcional, não só referen- te à capacidade de execução de atividades de vida diária, mas principalmente, e visto tratar-se de um grupo etário com caraterísticas especiais, com foco na funcionalidade em atividades lúdi- cas e participação prazerosa nestas.
Há ainda a referir que, por questões maiorita- riamente de logística de transporte e conveniên- cia dos pais, nem todas as crianças realizaram tratamento fisiátrico no Serviço de Fisiatria do Centro Hospitalar e Universitário do Porto, sendo orientadas para clínicas convencionadas na área de residência, o que apesar da informação clínica detalhada fornecida, com objetivos de tratamento, poderá representar um viés.
Conclusão
A dor crónica em idade pediátrica é uma en- tidade com impacto real na qualidade de vida, funcionalidade e participação das crianças e adolescentes que dela padecem. A conscien- cialização dos profissionais de saúde para esta temática tem crescido nos últimos anos, condu- zindo ao seu reconhecimento e valorização.
Tendo em conta os múltiplos níveis (funcional, cognitivo, emocional, familiar, social) envolvidos, a formação de equipas multidisciplinares é im- perativa na gestão deste problema. Assim, é prioritário investir na implementação de novas medidas para a identificação e tratamento da dor crónica pediátrica, bem como estimular a criação de novos grupos mutidisciplinares, que permitam um adequado controlo das queixas e retorno à atividade num menor espaço de tempo possível, evitando assim possíveis repercussões no futuro.
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