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Dor (2018) 26
terapêutico superior com a BoNT-A no controlo da dor e melhora da função, o qual se revelou, comparativamente, mais notório com a evolução do estudo. Apesar dos nossos resultados, o tem- po de follow-up do nosso estudo não nos permi- te extrapolar acerca da eficácia da BoNT-A IA na OA do joelho além dos seis meses. Contudo, os estudos têm apontado para um efeito mais sustentado com a injeção repetida (1-3) da BoNT-A IA com redução da dor de 42-100% e com duração de até 12 meses30. O aumento da população submetida a artroplastia total do joe- lho (ATJ) e a duração das próteses têm contri- buído para um incremento da população com articulações protetizadas dolorosas. A comple- xidade e a imprevisibilidade da cirurgia de revi- são alimentam a relutância dos doentes e a ur- gência em encontrar alternativas. Um estudo realizado com o objetivo de avaliar a eficácia da BoNT-A IA na ATJ demonstrou uma redução de 46% na intensidade da dor, que se evidenciou 7-11 dias após a injeção com duração de 1-9 meses32,33. O uso da BoNT-A IA provou ser seguro no nosso estudo, não se tendo observa- do qualquer caso de disfagia ou infeção articu- lar, fraqueza muscular periarticular ou aumento da inflamação articular. Apesar do mecanismo de ação da BoNT-A IA não ser ainda bem com- preendido, estudos têm mostrado que o dano articular relacionado com a OA gera uma ativi- dade nociceptiva aferente persistente, que pode produzir um grau de inflamação neurogénica e amplificar a dor articular30. A BoNT-A pode ligar- -se aos nociceptores das fibras tipo c e ser en- docitada, bloqueando a libertação de substân- cia P, peptídeo relacionado com o gene da calcitonina e glutamato, agentes envolvidos na geração e transmissão da dor à medula espinal. A inibição da libertação desses neuropeptídeos pela BoNT-A pode interromper a atividade dos nociceptores e diminuir a dor, modulando deste modo a sensitização periférica nas articulações artrósicas34. Estes resultados vêm corroborar a evidência prévia da literatura e colocar a BoNT- -A IA como uma alternativa viável no tratamento da OA do joelho. Este trabalho apresenta algu- mas limitações, nomeadamente não se tratar de um ensaio clínico aleatorizado e não existir com- paração com grupo de corticosteroide. Apesar de existir evidência de um efeito pouco duradou- ro associado com o uso de corticosteroide na OA do joelho, este é ainda um dos fármacos mais amplamente usados na abordagem desta condição. A medição da eficácia foi efetuada com as escalas VNS e WOMAC, as quais são medidas de avaliação subjetivas. O efeito tera- pêutico da BoNT-A pode ter sido influenciado pela idade média superior, em comparação com os restantes grupos (p < 0,05), quer pelas ex- petativas inferiores ou potencial de melhora mais acentuado. A pequena amostragem utilizada aconselha a interpretar os resultados obtidos
36 com cautela, sendo aconselhável estudos de
maior dimensão antes de se retirarem conclu- sões. Em suma, o principal objetivo deste traba- lho era comparar a eficácia do AH, do PRP e da BoNT-A no tratamento da dor e função da OA do joelho. Vários estudos têm sido realizados numa tentativa de encontrar alternativas ao tratamento da OA. Os resultados do nosso estudo demons- traram que todas estas alternativas apresentam benefício no outcome primário e secundário, sendo que a BoNT-A foi a que apresentou os melhores resultados.
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