Page 6 Opióides
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Prefácio












Nada falta dizer sobre os opióides, excepto que, mais de 200 anos de-
pois de ter sido sintetizada a morfina, por Sertürner, ela própria conti-
nua a ser central na terapêutica da dor intensa, seja oncológica ou não,
crónica ou aguda, traumática ou do foro pós-operatório.
Com a morfina, vieram todos os outros opióides que entretanto se
sintetizaram e que, juntos, continuam a constituir o mais poderoso
grupo farmacológico no combate à dor.
Poder-se-á dizer que uma nova era na investigação dos analgésicos
opióides começou com a identificação, há 25 anos, dos receptores opiói-
des e dos ligandos endógenos, representando os alvos de três famí-
lias de péptidos opióides – as beta-endorfinas, as encefalinas e as di-
norfinas – profundamente distribuídos em todo o nosso organismo,
desde o sistema nervoso central ao periférico e envolvendo múltiplos
outros órgãos e funções neuronais e extra neuronais.

O certo é que, na actualidade, não há procedimento anestésico ou
analgésico major que não tenha que incluí-los na abordagem terapêu-
tica dos doentes, não deixando de ser estranho que, chegados ao ponto
em que estamos, persistam na comunidade preconceitos para com a
sua utilização e mitos ligados ao seu consumo terapêutico.
Não se torna fácil explicar porque é que a própria classe médica se
deixou envolver por estes enviesados juízos, tanto mais que as preten-
sas razões de segurança e de habituação estão hoje sobejamente com-
preendidas, e sobram meios para as contornar e/ou evitar, principal-
mente num ambiente hospitalar.

Infelizmente, os números não enganam e a subutilização dos opiói-
des é um fenómeno mundial, embora mais claro e evidente nos países
de menor desenvolvimento. Portugal não foge à regra.

Se a informação e o conhecimento em torno destes fármacos con-
tinuam a constituir a pedra basilar para que se ultrapassem os mais
infundados receios, então, não deverá haver fadiga que de nós se apo-
dere para esse combate e o assunto deverá continuar a ser escolhido,
incessantemente, em todos os fora de divulgação ou discussão, bem


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