Page 44 A Via Epidural em Analgesia Pós-Operatória
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O prurido é um dos efeitos adversos mais frequentes (0-45%) e incomodativos . Está
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predominantemente associado à via epidural e, parece ser, dose dependente. A sua
etiologia não é conhecida, podendo estar relacionada com a difusão do opióide pelo
LCR. Não tem uma resposta metamérica, já que aparece sobretudo na cara e no abdómen
superior.
O tratamento reside na administração de anti-histamínicos ou naloxona ev. em pe-
quenas doses (100-200 µg) que não afectam a qualidade da analgesia epidural.
A retenção urinária aparece com alguma frequência (35%) e pode ter resolução espon-
tânea ao fim de 14-16 h ou exigir a algaliação do doente. A sua patogenia é pouco conhe-
cida, sendo provável que esteja relacionada com a depressão dos neurónios pré-ganglio-
nares do sistema nervoso parassimpático, que resulta numa diminuição da actividade dos
nervos pélvicos e da actividade colinérgica insuficiente do músculo liso vesical.
A administração de naloxona (100-300 µg) reverte por completo a retenção urinária,
não afectando as propriedades da analgesia.

Outros fármacos
Nos últimos anos, resultante da intensa investigação dos mecanismos de percepção da
dor e da modulação periférica, tem crescido o interesse pela administração epidural de
fármacos não opióides e não pertencentes à classe dos AL.

A clonidina, com uma acção agonista α , foi dos primeiros fármacos a ser utilizado
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por via epidural. Nas doses de 0,5-2 µg/kg/h provou ser muito eficaz e com poucos
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efeitos colaterais .
O midazolam actua nos receptores GABA localizados na medula espinhal. Quan-
do administrado por via epidural na dose de 0,05 mg/kg, diluído em 5-10 cc de soro
fisiológico, produz excelentes efeitos analgésicos em doentes submetidos a cirurgia
abdominal . Outros fármacos como a ketamina, adenosina, neostigmina, cetorolac
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e verapamil têm vindo a ser testados por via epidural com resultados promissores.
O desenvolvimento de sistemas de libertação controlada de fármacos tem sido alvo
de pesquisas há pelo menos quatro décadas. Desde que foi sugerida a sua aplicação na
indústria farmacêutica, muitos resultados foram obtidos, especialmente na manipulação
molecular de carregadores e no estudo de suas interacções com os fármacos encapsu-
lados. Entre os principais carregadores, destacam-se os lipossomas e as ciclodextrinas.
Os lipossomas têm a capacidade de veicular fármacos em «órgãos alvo», disponibilizan-
do apenas uma fracção (libertação controlada) para o local de acção. Já as ciclodextri-
nas alteram a intensidade e a duração dos efeitos dos fármacos através da baixa absor-
ção sistémica do complexo. Pesquisas laboratoriais e clínicas apontam como vantagens
do uso de AL encapsulados em lipossomas ou complexados com ciclodextrinas, a liber-
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tação lenta do fármaco, que prolonga a duração da anestesia e reduz a toxicidade .
Embora várias pesquisas ainda estejam em curso, os sistemas de libertação controlada
de anestésicos locais abrem novos horizontes no desenvolvimento de formulações anes-
tésicas mais seguras e eficazes.


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