Page 39 Volume 18 - N.1 - 2010
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Estes achados levantam a questão referen- qual terá contribuído negativamente para a ati-
te à consciência que os clínicos terão em tude global do grupo em causa.
relação à prevalência de comportamentos de Por fim, a análise dos valores médios de sco-
adição entre os pacientes com DCNO aos re total referentes a cada um dos grupos de
quais são prescritos MOF. Os resultados permi- clínicos considerados demonstrou a existência
tem também pôr em questão o nível de conhe- de uma diferença estatisticamente significativa
cimento dos clínicos inquiridos em relação ao (p < 0,05) entre os mesmos, evidenciando os
conceito de adição e de outros conceitos intima- clínicos favoráveis atitudes, de facto, mais favo-
mente relacionados, tais como os de dependên- ráveis (média [±DP], 10,28 [±6,96]; intervalo de
cia física, tolerância e pseudoadição 15-19 . valores possível, –28 a +28) em relação à pres-
A quase totalidade dos clínicos questionados crição de MOF do que aqueles que se haviam
(98,7% [147/149]) afirmou considerar ser prová- considerado como desfavoráveis (média
vel a obtenção de um controlo efectivo da dor [±DP], 6,48 [±8,04]; intervalo de valores pos-
através da utilização de MOF, crença esta que sível, –28 a +28) à mesma. Os resultados des-
se encontra de facto devidamente fundamenta- critos, sendo semelhantes aos obtidos por estu-
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da por estudos recentes 34-36 nos quais se de- dos similares , tornam no entanto evidente uma
monstrou que os MOF são efectivos no controlo atitude global aparentemente mais favorável do
sintomático da DCNO. Adicionalmente, a grande que a evidenciada nestes últimos.
maioria dos mesmos (94,0% [140/149]) referiu No que à classificação da formação específi-
também acreditar na efectividade da referida ca referente à prescrição de MOF para pacien-
terapêutica na melhoria da qualidade de vida tes com DCNO diz respeito, verificou-se que
global dos pacientes. No entanto, a probabilida- uma parte considerável dos participantes (41,2%
de relativa atribuída à referida ocorrência foi de [63/153]) a classificou como sendo suficiente;
facto significativamente menor no grupo de clí- parte igualmente significativa (39,2% [60/153])
nicos desfavoráveis do que no grupo de clínicos considerou a referida formação específica como
favoráveis (média [±DP], 0,96 [±0,86] vs 1,59 insuficiente. Assim sendo, estes resultados vêm
[0,55]; p < 0,01). Na verdade, não se poderá confirmar a existência de lacunas significativas
afirmar que as reservas evidenciadas a este pro- ao nível da formação, as quais se encontram já
pósito sejam de facto desprovidas de qualquer consideradas no Programa Nacional de Contro-
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sentido. Apesar de investigações entretanto lo da Dor . De resto, é feita referência a estraté-
efectuadas 35-40 sugerirem que os MOF podem gias de intervenção (p. e. criação e divulgação
proporcionar uma melhoria significativa da quali- junto dos profissionais de saúde de orientações
dade de vida global dos pacientes, os especia- técnicas sobre a utilização de opióides em pa-
listas nesta matéria concordam com a necessida- cientes com DCNO) e de formação (p. e. ela-
de de obtenção de dados adicionais e baseados boração de uma proposta visando a obrigato-
em evidências que fundamentem os possíveis riedade de formação específica no Internato
benefícios que têm sido atribuídos à utilização Complementar de Medicina Geral e Familiar)
terapêutica a longo prazo de MOF (p. e. menos que visam a obtenção de competências espe-
perturbações do sono, melhoria global do nível cíficas na abordagem diagnóstica e terapêutica
de funcionalidade física). da sintomatologia álgica em geral e da DCNO
Crenças positivas (favoráveis) como as an- em particular.
teriormente enumeradas tiveram um impacto
fundamental na determinação da atitude global
dos clínicos em relação à terapêutica em consi- Limitações do estudo
deração. O presente estudo apresenta, de facto, algu-
O presente estudo encontrou algumas diferen- mas limitações. À semelhança de muitos outros
ças consideráveis nas atitudes em relação à estudos utilizando inquéritos, o número limitado
prescrição de MOF entre os dois grupos de clí- de clínicos participantes, e portanto constituin-
nicos em comparação. tes da amostra analisada, faz com que os dados
De acordo com o esperado, os clínicos que obtidos devam ser interpretados com alguma
se assumiram como sendo desfavoráveis evi- precaução.
denciaram, de facto, atitudes menos favoráveis Face à natureza exploratória do estudo em cau-
em relação à prescrição do que os clínicos que sa, deve ter-se em consideração que nem todos
se classificaram como favoráveis. Foram, de fac- os factores que possivelmente influenciam a ati-
to, encontradas diferenças estatisticamente sig- tude dos clínicos foram devidamente identifica-
nificativas (p < 0,05) entre os dois grupos de dos e/ou caracterizados.
clínicos considerados aquando da análise dos Os achados do estudo são apenas generali-
itens referentes às crenças comportamentais. O záveis ao grupo de clínicos inquirido; assim sen-
grupo de clínicos desfavoráveis atribuiu uma do, devem ter-se as devidas reservas aquando
maior probabilidade relativa à possível ocorrên- de uma possível extrapolação dos resultados
DOR cia de comportamentos abusivos (média [±DP], obtidos para outros CCSP.
É possível que um viés de selecção tenha
0,63 [±1,38] vs –0,33 [±1,16]) e/ou de adição
38 (média [±DP], 0,33 [±1,55] vs –0,45 [±1,28]), a influenciado os resultados obtidos neste estudo,