Page 5 Volume 25 - N3 - 2017
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Dor (2017) 25
Dor (2017) 25
Editorial
Sílvia Vaz Serra
lá. para a importância deste fator de risco, inerente
Este volume tem início com um artigo ao doente, ao condicionar a alteração da elimi-
Oque reporta a experiência de uma Uni- nação da maioria dos opioides ou dos seus me-
dade de Dor numa técnica cada vez mais utili- tabolitos. Realçam a importância de ter em con-
zada, a radiofrequência. Neste impressivo texto, sideração as propriedades farmacocinéticas e
na primeira pessoa, de forma clara e objetiva, farmacodinâmicas no momento de selecionar o
os autores reveem as indicações da radiofre- opioide a prescrever nos doentes com insufi-
quência no tratamento da dor crónica, a evidên- ciência renal. Registam a inexistência de estu-
cia científica que suporta a sua utilização e ana- dos clínicos que suportem recomendações fide-
lisam, retrospetivamente, a sua experiência. dignas para o ajuste de dosagem, reforçando a
Uma análise crítica e construtiva. necessidade de novas investigações que permi-
tam estabelecer diretrizes nesta temática. Sem-
Continuamos com um título muito sugestivo: pre uma aprendizagem.
«O encontro multidisciplinar a propósito de um
caso clínico: viagem ao centro do mundo». Este Sendo o cancro da mama uma das neoplasias
artigo, como as autoras referem, é único e, em mais prevalentes no género feminino, e a mas-
simultâneo, o porta-voz de tantos. Continua a tectomia a cirurgia curativa mais frequentemen-
existir, demasiadas vezes, a discrepância entre te realizada, é de elementar relevância que se
o que a evidência demonstra e o que a realida- investigue a síndrome dolorosa pós-mastecto-
de constata. Dor crónica como experiência de mia, motivo de grande perda de qualidade de
rotura dos sistemas protetores; existência de vida dessas mulheres. Foi o que fizeram as au-
uma relação bidirecional entre dor crónica e toras neste exaustivo e importante artigo de re-
doença mental; analogia entre os movimentos visão da literatura, abordando a sua epidemio-
de pintura romântica e a pintura cubista com o logia, fatores de risco e potenciais tratamentos.
tratamento e investigação em dor crónica; con- Realçam a necessidade de mais investigação
vite a uma viagem ao estilo de Júlio Verne; re- para um melhor esclarecimento quanto à sua
volução coperniana... modelo multidisciplinar causa e potenciais tratamentos, deixando algu-
que trilha caminho para a multidisciplinaridade. ma esperança sobre algumas terapêuticas com
Intrigados o suficiente? resultados promissores.
O texto seguinte não é mais do que a reafir- Arrisco perguntar: quem nunca ouviu falar no
mação da importância da multidisciplinaridade mindfulness? Seguramente a percentagem de
num contexto mais descontraído e dinâmico – respostas negativas seria diminuta, mas se a
a bordo do veleiro Artemis: «uma experiência questão colocada fosse sobre o papel da me-
multidisciplinar, multidimensional e multimodal, ditação mindfulness na abordagem complemen-
à imagem e semelhança da abordagem da tar no tratamento da dor crónica, a resposta
dor!», como refere esta nossa navegadora seria bastante diferente. No excelente artigo de
lusa. revisão da literatura que se segue, os colegas
definem o conceito de mindfulness, a sua ori-
Os autores do artigo que se segue abordam gem, as variadas intervenções baseadas no
um tema no qual, de tão infelizmente banal, se mindfulness, a evidência clínica dos seus efei-
torna imperativo refletir sobre ele as inúmeras tos da meditação na dor crónica, os mecanis-
DOR mortes associadas a sobredosagem de formula- mos cerebrais envolvidos na modulação da
dor... abrindo a porta a uma abordagem
ções terapêuticas de opioides, debruçando-se
4 sobre o papel da insuficiência renal. Alertam per sonalizada e estimulante para o paciente,