Page 4 Volume 25 - N4 - 2017
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Dor (2017) 25
Editorial
Sílvia Vaz Serra
O lá. volume – também salpicado, como no anterior © Permanyer 2018
No artigo que dá continuidade a este nosso
Este volume da nossa revista inaugura-
-se com uma reflexão de um colega so-
premiadas – é abordado um tema atualmente
bre a questão: Para onde vamos na clínica da (devem ter seguramente notado) de belas fotos
dor? – extremamente pertinente e atual. muito caro: a dor crónica pós-cirúrgica. Os au-
tores analisam os fatores preditivos para a dor
No artigo que se segue, os autores abordam crónica após a cirurgia de reparação da hérnia
um tema que muitas vezes fica esquecido em- inguinal, concluindo que ajuda a identificar gru-
bora tenha um enorme impacto na qualidade de pos de risco e orienta o desempenho médico,
vida dos doentes. É analisada a relação e as ao permitir o desenvolvimento de estratégias
implicações da dor crónica na função sexual, preventivas e evitar tratamentos com efeitos co-
bem como os potenciais problemas decorrentes laterais nocivos para os doentes que não estão
do seu tratamento; fornecem ainda sugestões em risco de desenvolver dor crónica pós-cirúr-
para facilitar a comunicação entre os profissio- gica (DCPC). É sublinhado o papel da inflama-
nais de saúde e os seus pacientes. Não é es- ção local, da técnica anestésica, do controlo
quecida a abordagem e a orientação clínica das perioperatório da dor, da adesão terapêutica Vai
questões sexuais, sublinhando a importância da querer ficar para saber mais!
abordagem multidisciplinar. O ser humano é um
todo! E este volume é concluído com um último ar-
tigo que aborda a anestesia regional na SDRC
(uma vez mais) – uma das entidades de dor
O trabalho seguinte, elaborado a partir de um
inquérito feito a 130 anónimos de São Vicente, crónica mais desafiante para os médicos e
doentes e que pode ser associada a uma evo-
Cabo Verde, tem por objetivo analisar a forma lução prolongada de dor intensa e disfunção
como estes cidadãos lidam com a dor crónica, psicossocial. Os autores fazem uma revisão dos
a importância que atribuem ao seu diagnóstico artigos publicados nos últimos 15 anos, no âm- Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação.
e a implicação na sua qualidade de vida. As bito da SDRC e das técnicas de anestesia regio-
conclusões deste estudo servem como forma de nal para o seu controlo. Não foram encontradas
divulgação da importância do tratamento da dor, revisões ou ensaios clínicos, apenas relatos de
da existência de consulta de dor e unidades de casos individuais onde se aplicou a técnica,
tratamento de dor como forma de garantir cui- concluindo os autores da necessidade de mais
dados aos que padecem de dor. Um olhar aten- estudos para que se possa avaliar a eficácia da
to para uma realidade diferente do quotidiano de utilização da anestesia regional nesta síndrome
muitos de nós mas de extrema importância e e ressalvando que, na bibliografia analisada, os
que não pode ficar esquecida. resultados apresentam-se como favoráveis. Mais
estudos exigem-se, PIM!
Os autores descrevem três casos clínicos de
doentes com o diagnóstico de síndrome de dor Termino com o poema «O Mar» de Jorge Luís
regional complexa (SDRC). A dificuldade no Borges:
diagnóstico, a fisiopatologia pouco clara, os di- «Antes do sonho (ou o terror) tecer
ferentes fatores que a influenciam e a forma Mitologias e cosmogonias,
como se manifesta determinam a necessidade Antes que o tempo se cunhasse em dias,
de uma abordagem no seio de uma equipa mul- O mar, o sempre mar, já estava e era,
tidisciplinar, com uma terapêutica personalizada Quem é o mar? Quem é esse violento
caso a caso. O artigo realça ainda a importân- E antigo ser que rói estes pilares
cia de se realizar um diagnóstico precoce des- Da Terra, e é um e muitos mares
ta entidade clínica incapacitante e dolorosa, de E abismo e resplendor e acaso e vento?
forma a se adequar, da melhor forma, a abor- Quem o contempla o vê p’la vez primeira,
dagem de tratamento. Mais um artigo que colo- Sempre. Com o espanto que as perfeitas coisas
ca em cima da mesa algumas das ideias-chave Elementares deixam, as formosas
em dor crónica: diagnóstico precoce, multidis- Tardes, a lua, o fogo da fogueira.» DOR
ciplinaridade, individualidade e qualidade de
vida! Até breve. 3