Page 5 Volume 25 - N4 - 2017
P. 5



Dor (2017) 25
Dor (2017) 25
Para Onde Vamos na Clínica da Dor?



Filipe Antunes





Num mero exercício de perspetiva futura e de obrigação), genéricas e por vezes redutoras
tendo em conta o conceito de dor atual, no qual para tratar e cuidar, desprezando os diferentes
esta é entendida como «uma experiência sen- contextos e as diferentes circunstâncias. © Permanyer 2018
sorial e emocional desagradável, associada a São estas mesmas circunstâncias que nos fa-
uma lesão tecidular, efetiva ou potencial, ou des- zem ter diferentes estratégias, tendo sempre
crita em termos de tal lesão», importa desde como guia a funcionalidade, a independência
logo chamar a atenção para o papel de todos e, funcional e a qualidade de vida do indivíduo que
em particular, dos profissionais da área de saú- nos procura. Tentamos assim tornar mais huma-
de para o combate deste flagelo social. Todos na a estratégia terapêutica adotada, de acordo
somos poucos, mas se todos fizermos algo, com o contexto individual de cada um, no fundo,
mesmo que pouco, certamente contribuiremos a medicina baseada na experiência. Este parece
para minimizar as consequências globais da dor ser, de facto, o cerne da questão: a empatia
em qualquer um de nós e na sociedade. entre médico e doente, tal como Hipócrates já
A dor é um fenómeno total, com múltiplas con- preconizava: «É mais importante conhecer a
sequências a nível sensorial, emocional, cogni- pessoa que tem doença do que a doença que
tivo e social. Daí que caiba ao médico o papel a pessoa tem».
integrador de todas estas consequências, fazen- Para isso precisamos de investir nessa rela-
do em cada caso o diagnóstico clínico, para ção, escutando e perguntando (a história clíni-
depois melhor estabelecer o plano terapêutico ca), mas também vendo, palpando e tocando (o
individual eficaz e eficiente de cada um. exame físico objetivo), para melhor diagnosticar
É, de facto, ao médico que a sociedade reser- o quadro clínico e não cair em tentações abso-
va o papel de conselheiro e orientador de toda lutas de fluxogramas e algoritmos matemáticos
e qualquer condição de saúde, particularmente simplistas e redutores. Estes são ferramentas
no caso da dor, em que a nossa integridade importantes, mas numa lógica complementar, de
enquanto seres humanos é colocada em che- ajuda, tal como qualquer imagem ou análise de
que. fluidos corporais. Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação.
No caso da medicina, a medicina física e de Os desafios terapêuticos mais ou menos pró-
reabilitação tem como foco de atuação as con- ximos são enormes, desde a robótica e as suas
sequências funcionais de toda e qualquer con- potencialidades de tratamento preciso e à dis-
dição de saúde, e por isso não é estranho ter tância, à realidade virtual, com ativação de áreas
cada vez mais fisiatras a interessarem-se e a cerebrais e controlo visual sincronizado, passan-
colaborarem de forma crescente na área da me- do pela neuromodulação com estimulação de
dicina da dor. substratos neuronais mais precisos e específi-
Os desafios são imensos, particularmente cos, de forma a combinar terapêuticas eletivas
numa época de forte e rápido avanço tecnológi- com outras mais abrangentes e adjuvantes.
co, onde o presente é quase ontem e o futuro é A individualização terapêutica será certamen-
já aqui ao virar da esquina... te a chave do sucesso, baseada na geno e fe-
Para onde vamos na abordagem clínica da notipagem para o tratamento focalizado e indi-
dor? Esta é a pergunta com que nos debatemos vidual, tratando cada caso como um caso
no dia a dia, baseados na evidência científica da – ainda hoje, a máxima maior da medicina.
medicina, cada vez mais impregnados de estu-
dos e meta-análises científicos, ainda que muitas Bibliografia
vezes discutíveis em termos de real benefício
para o utente . Outras vezes acicatados e obri- 1. Packer M. Are Meta-Analyses a Form of Medical Fake News?
1
Thoughts About How They Should Contribute to Medical Science
gados a atuar com normas de orientação (e não and Practice. Circulation. 2017;136(22):2097-9.





DOR Medicina Física e Rabilitação, Medicina da Dor
Hospital de Braga
4 Braga
E-mail: filipe.j.antunes@gmail.com
   1   2   3   4   5   6   7   8   9   10