Page 4 Volume 9, Número 4, 2001
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Dor (2001) 9: 3 Jose Alberto Fial: Dor - Uma visão sociojurídica

Editorial I




José Manuel Caseiro





F inalmente, o Plano Nacional de Luta Contra a pertenceram, como é óbvio e sabido, à Direcção
A responsabilidade do inquérito e do próprio plano
Dor.
Mas, afinal, o que é um Plano Nacional de
Luta Contra a Dor? É, antes do mais, o reconhe- Geral da Saúde, se bem que com a colaboração técnica
de representantes da APED. A DGS não tem qualquer
cimento institucional que a dor, independentemente da intervenção na estratégia de saúde das Regiões Autó-
sua causa, deve ser tratada e que a Direcção Geral da nomas e foi o próprio Director Geral – à época o Prof.
Saúde, ao reconhecê-lo, encara esse desafio com a Saklarides – que lembrou ao Grupo de Trabalho essa
inclusão na sua estratégia de acção de um conjunto de impossibilidade, reafirmando que um inquérito oficial
recomendações e orientações genéricas para um harmo- conduzido pela DGS apenas podería ser efectuado no
nioso desenvolvimento das Unidades de Dor e para uma continente.
correcta abordagem e controlo de todas as formas do Esta mesma explicação já tinha sido dada ao grupo
fenómeno álgico. de profissionais da Unidade de Dor do Funchal em
A importância do lançamento do Plano só pode ter Março e Abril passados, embora continue a haver ele-
paralelo no reconhecimento de que a sua existência, mentos a quem continua a interessar fazer tábua rasa
por si só, não chega. Apenas com a congregação geral dessas explicações, pôr em causa a palavra de pesso-
de vontades, desde a tutela até aos profissionais de as que sempre os têm respeitado e com eles sempre
saúde, se poderá gerar a força motriz necessária para têm colaborado, denegrindo a Associação Portuguesa
que ele venha a corresponder aos desenvolvimentos para o Estudo da Dor com objectivos que nos escapam
que se desejam e se necessitam no panorama nacional. mas que, seguramente, se prenderão com a procura de
Foi sempre esta, de resto, a posição da APED. um protagonismo bacoco e desnecessário, já que o
Mas, como sería de esperar, ainda a procissão vai no bom trabalho que, inegavelmente, esse grupo do Fun-
adro e já, à boa maneira portuguesa, se percebem chal tem vindo a desenvolver sería razão mais que
comentários críticos e incompreensões motivadas pelas suficiente para que o tal protagonismo se tornasse
mais variadas razões, que pouco têm a haver com a evidente.
necessidade de melhorar as condições assistenciais E a maior prova disso é o facto da Direcção desta
aos doentes com dor, mas sim com questiúnculas de Revista ter convidado o Dr. Duarte Correia para orientar
ordem pessoal e/ou regional. a elaboração deste número, dedicando-o à demonstra-
Afinal, nada que o grupo que mais directamente ção pública do que tem sido o extraordinário trabalho
esteve envolvido na sua construção não estivesse à da Unidade que representam.
espera e o alvo das críticas, como não podería deixar O resultado é o que poderão ver: uma interessantís-
de ser, passou a ser a APED e quem a representou: ou sima abordagem da problemática da Dor, de acordo
porque no levantamento da realidade nacional que foi com a actividade, as preocupações e os anseios dos
levado a efeito não se incluíram as Regiões Autónomas, profissionais que na Ilha da Madeira se debatem com o
ou por causa das pessoas que procurou para colaborar, seu tratamento, em moldes diferentes do que é habitual
ou porque não fez referência a outros trabalhos já numa revista científica, mas com uma sensibilidade, um
existentes, etc. espírito crítico e um respeito científico que me obrigam
Não perderíamos um só segundo a justificar as deci- desde já a enaltecer.
sões tomadas, se não acontecesse a coincidência de Sería o número ideal para a época natalícia não fora
que este volume da Revista Dor, monotemático, dedica- o salpico carnavalesco de uma pseudoficção nele inclu-
do à “Dor na Ilha da Madeira”, não incluísse algumas ída, que não desperdiça a oportunidade de uma injus-
considerações jucosas e de mau gosto, desinteressan- tíssima crítica à APED (como se quem a produziu não
tes e de intenção duvidosa sobre a questão da não fosse o único a merecê-la).
inclusão da Unidade de Dor do Centro Hospitalar do Ficamos a saber que criticar a APED é mais fácil e
Funchal no inquérito levado a efeito pela DGS para a vantajoso do que com ela colaborar e muito menos compli-
abordagem da realidade nacional no Plano Nacional de cado e “arriscado” do que criticar a Direcção Geral da
Luta Contra a Dor. Saúde ou a restante tutela.



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