Page 6 Volume 9, Número 4, 2001
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J.M. Castro: Mensagem do Presidente da APED
Multidisciplinares de Dor, nas quais para além das carac- Europeia Contra a Dor no Parlamento Europeu, que era a
terísticas próprias das unidades de nível II, existirá a principal prioridade para o resto do seu mandato.
possibilidade de desenvolver com regularidade investiga- Os últimos 4 capítulos do Plano Nacional de Luta Contra
ção na área da dor, e formação pré- e pós-graduada, a Dor referem-se a orientações genéricas para o controlo
incluindo programas de mestrado e doutoramento. Salien- da dor crónica, da dor aguda no período peri-operatório,
to que neste momento não há qualquer unidade deste tipo da dor em obstetrícia e para a auto-ajuda dos doentes
no nosso país, mas, graças ao protocolo celebrado entre com dor crónica. São capítulos eminentemente técnicos,
o Hospital de S. João e a Faculdade de Medicina do Porto em que estão expressas algumas definições de diagnós-
para a investigação, ensino e tratamento da dor, com o tico e algumas indicações terapêuticas à luz do actual
financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian, poderá estado de conhecimento no que respeita à dor. São pois
num futuro próximo ser criada naquelas instituições a uma excelente base de trabalho para os profissionais que
primeira unidade de nível III em Portugal. virão a integrar as diferentes unidades de dor.
Por outro lado, o Plano Nacional de Luta Contra a Dor A implementação do Plano Nacional de Luta Contra a
prevê também a criação de Unidades de Dor Aguda Pós- Dor é pois um imperativo nacional pelos benefícios que
Operatória em 75% dos hospitais com actividade cirúrgica trará aos doentes com dor, aos seus familiares, aos técnicos
regular, o que implicará a existência de 72 unidades com de saúde e à economia do País. Afirmo aqui publicamente
estas características em 2007, contra as 16 actualmente a total disponibilidade da APED em colaborar empenhada-
existentes. mente, com o Ministério da Saúde e as instituições dele
Mas o Plano Nacional de Luta Contra a Dor não se limita dependentes, em tudo o que nos for solicitado e estiver ao
a enumerar objectivos, vai mais longe e estabelece desde nosso alcance para atingirmos os seus objectivos.
já as normas que devem presidir à criação das unidades No entanto, o combate à dor no nosso País não se
de dor. Realçando que não existem modelos uniformes e esgota na implementação deste plano. Outras acções
rígidos para a criação dessas unidades, que terão neces- paralelas e complementares terão que ser levadas a cabo
sariamente que se adaptar aos condicionalismos dos para enfrentarmos esta epidemia.
hospitais em que estarão integradas, aponta no entanto Num país em que ainda existe uma certa “cultura da
para alguns princípios básicos dos quais eu salientaria os dor” como sendo uma consequência inevitável de certas
seguintes. circunstâncias, um certo fatalismo tipicamente latino, numa
Em primeiro lugar, é imprescindível que os médicos que altura em que aumenta a esperança de vida da população
as integrem tenham formação adequada para trabalhar europeia, o controlo da dor surge como uma das condici-
em terapêutica da dor, ou, numa fase inicial, estejam em onantes principais na qualidade de vida das populações.
vias de a obter, formação essa que é tratada num outro Daí a necessidade de levar a cabo campanhas de infor-
capítulo do PNLCD que mencionarei adiante. mação e consciencialização da opinião pública em geral
Por outro lado, é fundamental a existência de um e dos profissionais de saúde em particular, para a verda-
coordenador em cada unidade, com competência para deira epidemia que a dor crónica representa como uma
elaborar e supervisionar protocolos de aplicação terapêu- doença por si só, doença essa que, com os meios de
tica, estabelecer acordos de colaboração com outras diagnóstico e tratamento actualmente ao nosso dispor,
instituições ou serviços, elaborar o plano de acção anual, pode ser controlada na esmagadora maioria dos casos.
assegurar a fluidez de comunicação entre a unidade de É fundamental igualmente promover desde já o treino e
dor e os restantes médicos hospitalares e, não menos a especialização em Medicina da Dor, de forma a criar um
importante, com os médicos dos centros de saúde. corpo de prestadores de cuidados de saúde capazes de
É igualmente necessário que o acesso às unidades de povoar as unidades de dor e enfrentar eficazmente a
dor esteja protocolizado de forma a que os profissionais epidemia.
de saúde e os seus potenciais utilizadores conheçam a É necessário estabelecer normas e protocolos tera-
existência da Unidade de Dor e das suas potencialidades pêuticos que orientem os médicos dos centros de saú-
e limitações. de, dos hospitais, e os levem a reconhecer quais e
Finalmente, é fundamental que as Unidades de Dor quando os doentes deverão ser enviados a especialis-
sejam sujeitas a uma avaliação contínua de qualidade por tas em dor.
forma a promover as melhores práticas profissionais e O aumento do ensino pré-graduado dos profissionais
assegurar uma evolução contínua no sentido da qualidade. de saúde no âmbito da dor é outra das condições para
Como referi, um outro capítulo do Plano Nacional de o sucesso da nossa luta, e para isso teremos que
Luta Contra a Dor refere-se à formação dos profissionais sensibilizar e obter o apoio das escolas médicas e de
de saúde. Tendo como base as recomendações da IASP enfermagem.
(International Association for the Study of Pain) e da EFIC, Por último, há que encorajar as entidades governativas
enumeram-se os conhecimentos base que possibilitam a e as organizações não-governamentais a aumentarem a
avaliação de um doente com dor. A este propósito saliento quantidade de recursos disponibilizados para a investi-
a iniciativa já levada a cabo pela APED, de lançar um gação dos mecanismos biológicos da dor e para a
debate no seio da classe médica, sobre a necessidade de análise epidemiológica da natureza e extensão do pro-
se criar uma competência ou uma especialização em blema da dor.
Medicina da Dor, à semelhança do que existe noutros Só com o empenho de todos poderemos chegar a
países europeus. Esta é aliás uma questão em que a 2007 com o sentido do dever cumprido. Estou convicto
Federação Europeia está também profundamente empe- da motivação e do interesse do governo português, e DOR
nhada, tendo o seu presidente, Prof. David Niv, referido há em particular do Senhor Ministro da Saúde e da sua
apenas dois dias, aquando do lançamento da Semana equipa. Podem seguramente contar com a APED.” 5
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