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Dor (2001) 9(2001) 9: 4-5
Mensagem do Presidente da APED



José Manuel Castro Lopes



O Plano Nacional de Luta Contra a Dor foi apresentado a patologia dolorosa crónica mais frequente, foi de 500
publicamente, em cerimónia organizada em conjunto pela milhões de contos em 1998. Mas se adicionarmos a esta
APED e pela Direcção Geral de Saúde, durante a celebra- despesa, os chamados custos indirectos, em resultado
ção da 1ª Semana Europeia Contra a Dor no passado mês das perdas de produtividade, do absentismo, das refor-
de Outubro. Dada a importância que esta cerimónia teve mas antecipadas, etc., esse número sobe para 3.500
para a prossecução dos fins a que a APED se propõe, milhões de contos. Ora tendo em conta o tamanho da
transcreve-se a seguir o discurso proferido na ocasião: população portuguesa e a % do PIB gasta em despesas
“A apresentação pública do Plano Nacional de Luta de saúde, podemos estimar que os custos totais das
Contra a Dor representa um momento crucial no combate dores lombo-sagradas no nosso País deverá ultrapassar
à dor no nosso País, pois implica assumir publicamente a os 300 milhões de contos por ano.
sua exequibilidade e o empenho em promover a aplicação Este número impressionante, por si só já justificaria a
prática, no terreno, dos objectivos e das directrizes que criação de um plano de luta contra as dores lombares,
nele estão consignadas. mas o Plano Nacional de Luta Contra a Dor é, felizmente,
Fruto do trabalho árduo e empenhado de uma comissão muito mais do que isso. Trata-se de um plano ambicioso
que englobava membros da APED e da DGS, a quem mas realista, que depois de feito o diagnóstico da situação
quero prestar a minha homenagem pública e o meu actual, em termos de assistência hospitalar diferenciada
testemunho de reconhecido agradecimento, o Plano Naci- no âmbito da dor, tem como objectivo principal dotar, até
onal de Luta Contra a Dor abre perspectivas de um 2007, 75% dos hospitais portugueses com unidades de
enorme avanço qualitativo no capítulo da assistência aos dor. Estas unidades serão obviamente diferenciadas con-
milhares, quiçá milhões, de Portugueses que sofrem do forme o tipo de hospital onde serão instaladas.
mais variado tipo de dores. É que, embora raramente se Assim, nos hospitais distritais serão implementadas
morra de dor, muitos são os que morrem com dor e mais unidades de nível I, designadas por Unidades Terapêuti-
ainda os que com a dor convivem diariamente. cas de Dor. São unidades vocacionadas para o diagnós-
Como nos recorda a declaração da EFIC para a Semana tico e orientação terapêutica de doentes com dor crónica,
Europeia Contra a Dor, a qual foi apoiada por vários e capazes de intervir em algumas situações de urgência,
ministros de saúde europeus, incluindo o Dr. Correia de aplicar algumas terapêuticas diferenciadas e referenciar
Campos a quem agradeço publicamente, a dor crónica não para especialidades complementares quando for caso
deve ser considerada como um sintoma mas antes como disso. São unidades que, embora não possam garantir
uma doença por si só, doença essa que constitui um grave uma abordagem interdisciplinar, funcionam em local pró-
problema de saúde pública com contornos de uma autên- prio, têm actividade regular organizada e registo próprio
tica epidemia. Embora os estudos sejam escassos, a inci- de doentes. Têm um coordenador e pelo menos mais um
dência da dor crónica na Europa está estimada em cerca médico treinado em tratamento da dor e um Psiquiatra ou
de 50% da população em geral, com consequências muito um Psicólogo. Tendo em conta o número de Hospitais
nefastas, quer sobre o indivíduo, quer sobre a sociedade. distritais actualmente existentes, em 2007 deverão existir
As repercussões da dor crónica no indivíduo estão bem pelo menos 50 unidades deste tipo, contra as 6 actual-
estudadas e englobam, para além da sintomatologia dolo- mente existentes.
rosa, ansiedade, perturbações do sono, depressão do Nos hospitais centrais serão criadas unidades de tipo II
sistema imunitário com o consequente aumento da suscep- ou Unidades Multidisciplinares de Dor. Estas unidades
tibilidade à doença, perturbações do apetite, farmacode- deverão estar aptas para o tratamento de qualquer tipo de
pendência, depressão, podendo mesmo levar ao suicídio. dor crónica ou aguda não cirúrgica, em doentes ambula-
Mais difíceis de estimar são as repercussões sócio- tórios, internados ou nos serviços de urgência. Estarão
económicas da dor, em particular no nosso País onde urge dotadas de uma equipa multidisciplinar de forma a poder
efectuar estudos sobre esta temática, alguns dos quais a abordar o doente com dor na sua globalidade biopsicos-
APED tem já em fase de planeamento. Porém podemos social. Para o efeito disporão de pelo menos um coorde-
socorrer-nos de alguns estudos europeus para tirar ilações nador, dois médicos treinados em tratamento da dor, um
sobre a situação no nosso País, e eu vou mencionar Psiquiatra ou Psicólogo, enfermeiros, fisioterapeuta, tera-
apenas dois: peuta ocupacional e técnico de serviço social, Funcionam
Na Holanda, a prevalência da dor cervical na popula- diariamente em local próprio e segundo protocolos de
ção em geral era de 10 a 15% em 1996, tendo causado actuação terapêutica sujeitos a avaliação regular. Deverão
um total de 1,4 milhões de dias de incapacidade para o ainda estar capacitadas para actividades de investigação
trabalho nesse ano, e implicando um gasto em despesas clínica e para a formação pós-graduada de profissionais
de saúde de quase 160 milhões de contos, o que repre- de saúde. Actualmente já existem 9 unidades com estas
DOR sentava 0,1% do PIB Holandês. características, devendo ser criadas mais 7 até 2007.
Finalmente, nos hospitais em que se pratica ensino
Noutro estudo realizado no Reino Unido, estimou-se que
4 as despesas de saúde relativas a dores lombo-sagradas, universitário serão criadas unidades de nível III ou Centros
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