Page 4 Volume 11, Número 2, 2003
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Dor (2003) 11 G. Miranda: Meet the experts: Revisión: la termografía infrarroja en los síndromes de dolor Dor
Editorial I Editorial II
As vitórias da APED O desafio da DOR
José Manuel Caseiro Deolinda Lima
omemorou-se mais um Dia Nacional de Luta Con submeteram a um longo e trabalhoso curso de pós-gradua- Ao contrário do que poderia parecer inquestio nável, o Embora uma das principais razões para este estado de
tra a Dor, este ano sob a égide do nº 5. De facto, ção, com um exigente e vasto programa inspirado no Core facto de a dor se impor sempre como um problema de saúde coisas seja o carácter peculiar da investigação em dor, que
Cfoi a 5ª vez que se celebrou o evento, tendo ficado Curriculum da IASP e avaliação em todas as áreas ensina- a quantos lidam com o deslindar dos mecanismos que lhe facilmente ultrapassa o de investigação pura em Neurociên-
fortemente assinalado pela decisão governamental de decre- das. Construíu-se assim, desde já, um esqueleto do que estão subjacentes (sejam eles os investigadores ditos “bási- cias para se constituir em investigação de um problema de
tar a Dor como o 5º Sinal Vital, algo que todos os que lutam poderão vir a ser, no futuro, as exigências curriculares para cos” ou as entidades financiadoras) tem contribuído mais saúde, não lhe são alheias circunstâncias de todos conheci-
no terreno por melhorar as condições assistenciais dos doen- a obtenção da tal Competência e sería bom que ninguém para retardar o progresso nesse domínio do que para a das, tais como a definição de prioridades pelas Instituições
tes com dor há muito reclamavam. Curiosamente, foi também, (repito, ninguém) a pudesse vir a obter sem se submeter descoberta das tão almejadas soluções terapêuticas. Esta a que detêm a capacidade de financiamento e a valorização
no meu entender, a 5ª grande vitória da APED (as outras igualmente a uma avaliação tão criteriosa como aquela a que conclusão a que facilmente se chega quando se comparam da investigação aplicada ou das relações com a Indústria.
quatro foram o decreto ministerial que instituíu o Dia Nacional se submeteram os primeiros e corajosos alunos do Curso de os conhecimentos alcançados sobre o sistema visual, audi- Julgo ser a altura de deixarmos de falar em “investigação
de Luta Contra a Dor, a publicação do Plano Nacional de Luta Pós-Graduação. O que se deseja, penso eu, com a futura tivo ou mesmo táctil, para não sair do domínio sensorial, e o aplicada” e passarmos a incluir no nosso léxico “aplicações/
Contra a Dor, o anúncio do objectivo estratégico da DGS de, Competência, é termos pessoas devidamente qualificadas e ponto em que nos encontramos no referente ao sistema aplicadores da investigação”. Quem investiga deve perse-
até 2007, virem a existir Unidades de Dor Aguda e de Dor que, tal como nas Especialidades Médicas, tiveram que nociceptivo. É um sistema complexo, dirão alguns, altamente guir o gosto pelo saber, seja ele qual for, e estar atento a
Crónica em 75% do hospitais portugueses e a realização pela fazer prova da sua competência, sem se escudarem em imiscuído noutros sistemas neuronais com os quais se rela- todas as questões que se lhe levantam, pertinentes ou não,
FMUP do 1º Curso Pós Graduado de Medicina da Dor, com argumentos oportunistas como o seu passado, o reconheci- ciona de forma permanente e dinâmica, ou, opinarão outros, com a perseverança indispensável para encontrar as respos-
patrocínio da Fundação Gulbenkian), sem prejuízo de outras mento público ou outros. falho de estruturação anatómica clara, de perfeita segrega- tas mesmo quando é necessário esperar pelas ferramentas
acções igualmente vitoriosas mas de menor impacto no meio. ção, em termos de estrutura e localização, dos vários com- adequadas ou promover a sua construção. A investigação
A comemoração deste ano, para além de muito participa- APED vai ganhando assim importância e suman- ponentes neuronais. Embora ambas as afirmações sejam enquanto procura do saber é sempre “fundamental”, e é
da na sua acção dirigida ao grande público, com uma meia do triunfos, sem prejuízo do desepero que conti- correctas, não bastam como explicação para o atraso senti- fundamental que assim seja para que o saber ocupe a
maratona e uma caminhada na cidade do Porto, envolveu Anuo a sentir em não perceber, nas Administrações do nesta matéria no momento presente, em particular se posição de relevo que merece no processo científico. Aplica-
ainda uma pequena mas simbolicamente importante campa- Hospitalares, sinais claros do mesmo empenho pela causa atentarmos no não menos complexo, e no entanto, bem ção da investigação acontece quando, movido ou não pelas
nha publicitária televisiva e uma cerimónia na Aula Magna da da Dor que a própria tutela faz questão de, episodicamente, melhor conhecido, processamento auditivo ou visual, e no circunstâncias, alguém, o próprio investigador (porque não)
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, menos exibir. Talvez mesmo, inexplicavelmente, também nem todos que de proveito prático se tem retirado desse conhecimento. ou quem melhor conhece o campo de aplicabilidade, desco-
concorrida do que devería ter sido, pela importância de os que são seus associados respondam com a mesma Sucede com frequência em áreas como a Biologia (o bre que o conhecimento adquirido, aquele preciso saber,
termos tido entre nós H. Breivick, presidente da EFIC e pelo assiduidade ou energia ao dinamismo dos que a represen- mesmo já não se aplica à Engenharia), e parece ser isso o pode ser utilizado para um determinado fim.
facto de terem sido publicamente distribuídos os diplomas aos tam. Ainda assim, Dia Nacional, Plano Nacional, metas para que neste campo testemunhamos, que a definição clara de É este o desafio que a investigação em dor nos coloca:
alunos do 1º Curso de Pós-Graduação em Medicina da Dor. 2007, 5º sinal vital e Curso de Pós-Graduação, são prova de objectivos num processo de investigação limita a capacida- tentarmos ignorar, nem que por períodos curtos, que aquilo
muito trabalho e de enorme entrega à causa. Tem sido de para avaliar dados e elaborar hipóteses fora do contexto que procuramos saber pode vir a ter alguma utilidade, para
importância do reconhecimento da Dor como 5º inexcedível o poder de argumentação, de firmeza e de pré-definido, aquele em que todo o processo se deve desen- nos dedicarmos à pesquisa desinteressada; conseguirmos,
Sinal Vital, não se esgota no facto de passar a persistência que tem caracterizado a acção da APED, bem rolar de modo a atingir os fins delineados. Facilmente, por- mesmo assim mantermo-nos tão próximo dos “aplicadores”
Aconstituír um registo obrigatório, em paralelo com expressos na forma como se têm obtido respostas instituci- tanto, são ignorados factos, como tal relevantes para a que nada do que de útil nos saia porventura das mãos possa
os outros quatro que sempre existiram (frequência cardíaca, onais absolutamente pioneiras em todo o mundo e, por isso compreensão do objecto em estudo, tanto por não serem ser desperdiçado. Dos “aplicadores” exige-se paciência e
pressão arterial, temperatura e frequência respiratória). A mesmo, também já em fase de serem imitadas. Até o Curso percebidos ou valorizados, apesar de revelados pela expe- compreensão para nos manterem no seu círculo coloquial
partir do momento em que um doente tiver um registo de Pós-Graduação, sem eu ter conhecimento de quantos rimentação, como por a pesquisa não admitir desvios ao apesar das tão grandes diferenças de linguagem. Talvez daí
quantificado de existência de dor, deu-se visibilidade a algo países já optaram por fazê-lo, é algo absolutamente inovador traçado estabelecido sob pena de nos afastarmos da meta nasça um Esperanto que nos aproxime definitivamente e
que, eticamente, não poderá deixar de ser tratado, nem que entre nós, que muitos dirão não ter nada a haver com a a atingir a ponto de a perdermos de vista. torne cada vez mais profícua esta relação.
seja pela administração rotineira de um simples analgésico, Associação, o que discordo. O prestígio, o dinamismo, o
mas que se deseja seja desencadeador de medidas adicio- espírito de luta e a capacidade de organização do seu
nais de apoio que permitam lidar com esse facto com a principal mentor, o Prof. Dr. José M. Castro Lopes, estão
mesma seriedade com que se lida com as alterações dos patentes nos sucessos obtidos, com a sua personalidade a
outros quatro sinais vitais. E se a qualidade de tratamento da atravessar incontornavelmente todos eles, mas pergunto se
dor não fica assegurada apenas pelo facto de reconhecer- tería tido a mesma facilidade em congregar toda a espécie
mos a necessidade de a tornar visível, também não é menos de colaborações que conseguiu para a organização teórico-
verdade que, a partir do momento em que se estabelece a prática do Curso, se não fosse o brilhantismo com que tem
obrigatoriedade de a incluír nos sinais vitais, se está a desempenhado o seu papel de Presidente da APED e tam-
aceitar como negligente a sua omissão. É também um bém, através dele, de Tesoureiro da EFIC.
excelente contributo para as mudanças de índole cultural
que o nosso País necessita, o que se sauda e se aplaude. ercebe-se que continuo muito optimista. Gostaría,
no entanto, de ver as coisas andarem mais de-
oncluíu-se, com enorme êxito, o 1º Curso de Pós- Ppressa no que diz respeito ao crescimento assis-
Graduação em Medicina da Dor. Numa altura em tencial hospitalar. Até porque a qualidade só poderá chegar
Cque se batalha pela possibilidade de obtenção, depois. Mas, mesmo confiante, a vida já me ensinou a não DOR DOR
no âmbito da Ordem dos Médicos, de uma Competência em ser demasiadamente ingénuo e a manter-me atento. Afinal,
Medicina da Dor, temos já 20 clínicos que, humildemente, se pouco falta para 2007! 3 4

