Page 41 Volume 12, Número 3, 2004
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Dor (2004) 12
Dor (2004) 12
Artigo de reflexão Artigo de reflexão
A poesia A dor na poesia
com a dor
Maria Teresa Flor de Lima Joaquim Martins Tomé
Ao terminar a difícil tarefa de compilar propostas, ideias, A dor é um sentimento
textos e imagens, em toda a sua diversidade e expressão da É uma sensação que magoa e provoca sofrimento
individualidade dos autores, ou simples manifestação de vi- É comunicada por palavras, gestos e expressões
vências, experiências e actividades, há uma que nos tocou, Será uma fatalidade ou um castigo divino?
especialmente, o fundo – se é que existe – da nossa sensibi- Ou o resultado de várias e incorrectas interacções?
lidade.
É a ideia da “Dor na poesia”, sentida e pesquisada ou, A dor está em todo o lado
porque não, a “Poesia da dor”? Recitada, cantada, pintada,
Quando algum profissional pretende estudar e entender a escrita e sobretudo gravada nos corações
dor, em primeiro lugar, tem que conhecer/perceber o “Doente Por todos é conhecida e indefinida
com dor”. Pode ler muitos textos sobre os efeitos psicológicos Carecendo de mais investigações
da dor, personalidade e dor, efeitos da dor na personalidade,
tratamento psicológico da dor, entre outros aspectos. Aqui, existir é sinónimo de sentir
E posso mesmo dizer que li muitos. Nenhum me ensinou Dois verbos que importa avaliar
tanto como o que o dia a dia do convívio com os doentes. Revelam grande ansiedade e depressão
Quão difícil é exprimir o que um especial doente nos tem Naqueles que deles não se conseguem libertar.
ensinado! Habituou-se a viver a sua dor durante décadas, em
poucos meses experimentou um alívio significativo, juntou-se Da constatação de um choro, agitação ou mal-estar
a nós voluntariamente em todas as campanhas públicas, des- São indícios de que algo há para avaliar
de o primeiro Dia Nacional de Luta contra a Dor e a primeira
Semana Europeia de Luta contra a Dor, aprendeu a ser amigo Dos mais fortes aos mais fracos
da sua dor, compreendeu a avaliação da dor, ensinou os seus A ideia de dor tem tendência a variar
alunos de português a pesquisar, a ler, a pensar, a escrever Um mostra-se confiante na sua gestão
sobre a dor – as crianças da escola também sentem dor ou O outro, mais experiente, a dor prolongada consegue baixar
dores –, numa palavra, a fazer poesia com a dor. Gosta, quer,
pede-nos para continuar a ensinar os outros que sofrem de Ao fim de alguns meses e tal
dor. Foi um dos poucos doentes que se fez amigo da dor, que Já se conhece a evolução da dor
não a hostilizou e, inclusivamente, até a trata com carinho – ela Sabe-se o nome e a dose do remédio
tem sido sua “companheira inseparável”, nos bons e maus como um experiente doutor
momentos da outra face da vida. Mas, muitos ainda não sabem que a dor é o 5º Sinal Vital
Enfim, ensinou, aos profissionais da consulta, a compreen-
der melhor a dor que já sentimos ou vamos sentir, certamente, Tolerância e intensidade são sinais distintos a avaliar
um dia. É assim a dor crónica, na nossa vida todos a sentimos Eu não sou tu e tu não és eu
ou vamos sentir. Mas em todos há que acreditar
Mas, de que maneira suportá-la? Da forma como, durante
séculos, foi entregue a Deus, ou fazendo poesia com ela. Esta Promover a qualidade de vida
também é uma forma de terapia. São objectivos que a Unidade da Dor pretende alcançar
Fornecendo todo o seu apoio
Para a dor aliviar
A Dor arde, a Dor queima
A Dor é de quem a sente Dos registos, nesta revista espalhados,
De ligeira a moderada e intensa, Mais não são do que a sua atenção chamar
Ou insuportável, se apresenta Para um ou mais sintomas
Se o seu dono mente Que a todos, em qualquer idade, podem tocar.
Ou em não se tratar, teima
Chefe de Serviço de Anestesiologia,
DOR Coordenadora da Unidade de Dor do HDES Professor do Ensimo Secundário
Ponta Delgada, Ilha de S. Miguel. Açores
Doente da Unidade da Dor do HDES
40 Aluna do 2º Curso de Pós-Graduação de Medicina Ponta Delgada, Ilha de S. Miguel. Açores
da Dor da Faculdade de Medicina do Porto