Page 39 Volume 13 - N.4 - 2005
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Dor (2005) 13
este desapareça quando é retirado o penso im- risco de neurotoxicidade. É metabolizada em
pregnado com fentanil . normeperidina, no fígado, e este metabolito é
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Embora a administração epidural de opióides neurotóxico. É excretado, lentamente, na urina,
seja muito usada no pós-operatório de determi- sendo a sua acumulação especialmente signifi-
nadas cirurgias torácicas e abdominais, a sua cativa em doentes com insuficiência renal. Tem
administração, isoladamente, por esta via, nos interacção clinicamente significativa com alguns
doentes de Cuidados Intensivos, é pouco utili- antidepressores, nomeadamente com inibidores
zada. A administração de opióides, isoladamen- da recaptação neuronial da serotonina.
te, por via epidural não é mais potente no alívio O alfentanil é um opióide sintético recente.
da dor do que a sua administração endovenosa Tem uma duração de acção curta, de cerca de
e a incidência de efeitos laterais não é despre- 15 minutos. De todos os opióides, é um dos que
zível. No entanto, o efeito analgésico dos opiói- tem menor probabilidade de ter metabolitos ac-
des por via epidural é potenciado quando se tivos, contudo, este facto não está provado.
administram concomitantemente com um anes- Embora haja pouca experiência em Cuidados
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tésico local do tipo da bupivacaína . Intensivos, a administração de pequenos bolus
(250 a 500 µg) poderá ser útil quando se exe-
Efeitos laterais cutam alguns procedimentos curtos de enferma-
A depressão respiratória provocada pelos opi- gem e que podem causar dor (como, por exem-
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óides é indissociável do seu efeito analgésico. plo, o posicionamento do doente) .
A diminuição da frequência respiratória e do vo- O remifentanil está pouco estudado em Cui-
lume corrente são frequentes, embora estas al- dados Intensivos, pois foi inicialmente concebi-
terações representem muitas vezes um efeito do para usar em anestesia. Difere dos outros
sedativo geral e não uma inibição específica dos opióides porque é metabolizado pelas esteara-
neurónios respiratórios do tronco cerebral. São ses que estão amplamente presentes em todos
muito raros os episódios hipoxémicos significa- os tecidos do organismo. Mesmo no período
tivos causados exclusivamente pelos opióides pós-transplante hepático, de ausência de fun-
no pós-operatório . No entanto, no seu uso em ção hepática, há poucas alterações na sua far-
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doentes com antecedentes de apneia obstruti- macocinética. O seu metabolismo é indepen-
va do sono ou com alguns tipos de doença dente das vias clássicas. Presentemente, está
respiratória crónica, pode originar, mais frequen- em investigação qual o seu papel como analgé-
temente, episódios apneicos com dessaturação sico no doente crítico. O seu efeito desaparece
grave. cinco a 10 minutos após a sua perfusão, qual-
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A administração de opióides pode provocar quer que tenha sido a sua duração .
hipotensão por três mecanismos:
– Efeito simpaticolítico. Analgésicos não-opióides
– Bradicardia mediada pelo vago.
– Libertação de histamina. Os anti-inflamatórios não-esteróides (AINE) são
Este último efeito pode ocorrer com a morfina raramente usados nos doentes em estado crí-
e não com o fentanil, motivo pelo qual no doen- tico porque, para além de serem pouco efica-
te crítico, hemodinamicamente instável, é prefe- zes, têm efeitos adversos significativos que
rível o recurso ao fentanil . incluem:
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Os efeitos sobre a motilidade do tubo digesti- – Efeito anticoagulante por interferência com
vo são frequentes e significativos. a função plaquetar.
Podem causar retenção gástrica, hipomotilida- – Risco de causarem insuficiência renal, parti-
de intestinal e até íleo paralítico. A introdução de cularmente em doentes idosos, hipovolémi-
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uma sonda no jejuno e a administração de esti- cos, sépticos ou com lesão renal prévia ,
mulantes do peristaltismo gástrico e intestinal, por inibição da síntese de prostaglandinas
pode ser indispensável para permitir a alimenta- no rim.
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ção entérica . – Risco de hemorragia gastrintestinal.
O prurido é especialmente frequente quando – Broncospasmo agudo.
se usa a via epidural e é resistente aos anti-his- A administração de AINE pode reduzir as ne-
tamínicos. cessidades de opióides, contudo não existe
Quando se usa a via epidural, o prurido, as qualquer estudo a demonstrar algum benefício
náuseas e a retenção urinária são efeitos laterais destes fármacos em doentes críticos.
frequentes. A depressão respiratória pode surgir Apesar destas limitações, há alguns casos
com frequência, idêntica à verificada com a uti- pontuais em que são utilizados, como por exem-
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lização da via endovenosa (embora aparecendo plo, em adultos jovens após trauma . Os mais
mais tardiamente). usados são o diclofenac intramuscular ou rectal
ou o cetorolac endovenoso. O uso do cetorolac
durante mais de cinco dias seguidos aumenta
Outros opióides
DOR A meperidina (petidina) não é um analgésico para o dobro o risco de insuficiência renal 21,22 .
A dose inicial é de 10 mg, seguida de 10 a 30 mg
38 adequado ao uso em Cuidados Intensivos pelo cada quatro a seis horas, não excedendo os
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