Page 37 Volume 13 - N.4 - 2005
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Dor (2005) 13
verificou-se que 30 a 70% dos doentes interna- – VRS (Verbal Rating Scale) – Nesta escala,
dos em cuidados intensivos referem recordar-se por baixo da linha horizontal, estão escritas
de ter tido dor; metade destes classifica a dor várias frases para caracterização da dor. O
como moderada, grave ou insuportável . doente escolhe e assinala a frase que melhor
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Num outro inquérito aos doentes que tiveram se coaduna com as características da dor
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alta da UCI , metade dos doentes que respon- que sente. (sem dor, dor ligeira, moderada,
deram identificaram a dor como a sua pior me- grave, muito grave, insuportável). Qualquer
mória da estadia nos Cuidados Intensivos. que seja a escala utilizada, o doente assina-
Há vários motivos para que a dor seja frequen- la o local da linha que acha que correspon-
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te nestes doentes, nomeadamente : de à intensidade da dor que sente.
– A situação patológica pré-existente. – NRS (Numeric Rating Scale) – É também
– A imobilização prolongada. constituída por uma linha horizontal de 10 cm
– Os dispositivos de monitorização ou tera- idêntica à VRS, com divisões de 0 a 10,
pêutica, como por exemplo os cateteres, sendo o 0 a ausência de dor e o 10 o má-
drenos, tubos traqueais, máscaras de ven- ximo de dor.
tilação não-invasiva. No doente que não está colaborante, este
– As rotinas de enfermagem tais como, a fi- tipo de escalas de avaliação de dor são inúteis.
sioterapia, as mobilizações do doente no Poder-se-á recorrer aos métodos denominados
leito para evitar as úlceras de decúbito, a por escalas comportamentais/fisiológicas. Neste
aspiração de secreções traqueais, as mu- tipo de escalas, tentam detectar-se comporta-
danças de pensos do local cirúrgico e mui- mentos que podem traduzir dor (movimento, ex-
tas outras intervenções frequentes no dia- pressão facial e postura) e indicadores fisiológi-
a-dia dos Cuidados Intensivos. cos (frequência cardíaca, pressão sanguínea e
Para além do sofrimento psicológico que a dor frequência respiratória). A normalização ou me-
provoca, esta tem muitos outros inconvenientes lhoria de algumas destas alterações após tera-
que podem afectar a própria recuperação do pêutica analgésica significa que estas correspon-
doente. A dor não aliviada pode contribuir para diam, provavelmente, a manifestações de dor e
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um sono inadequado, para agitação, e para uma que as medidas instituídas tiveram eficácia .
resposta de stress caracterizada por taquicar- A escolha do melhor método para avaliar a dor
dia, consumo aumentado de oxigénio pelo mio- depende do doente, da sua capacidade de co-
cárdio, hipercoagulabilidade, imunossupressão municar e da capacidade de quem cuida do
e catabolismo persistente . doente em interpretar os comportamentos que
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A dor também pode contribuir para a disfun- correspondem a dor e os seus indicadores fisio-
ção pulmonar por contractura muscular localiza- lógicos .
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da em torno duma área dolorosa, ou rigidez
muscular generalizada e espasmo que restrin- Terapêutica analgésica
jam os movimentos da parede torácica e do dia- Em Cuidados Intensivos, a analgesia deverá
fragma . ser feita, fundamentalmente, com opióides.
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A analgesia eficaz pode diminuir as complica- Há, no entanto, a possibilidade de se recorrer,
ções pulmonares no doente, no pós-operatório . em situações pontuais e em associação com os
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opióides, a analgésicos anti-inflamatórios não-
Avaliação da dor esteróides e ao paracetamol.
A melhor forma de avaliar a dor é inquirindo Há também medidas não-farmacológicas que
directamente o doente, ouvindo as suas queixas passam pelo uso de meios físicos (aplicação
e avaliando, depois, a resposta às medidas ins- de frio ou de calor), adequada estabilização de
tituídas. fracturas e eliminação ou atenuação de estímu-
No entanto, nos Cuidados Intensivos, na maio- los físicos que possam provocar dor ou descon-
ria dos doentes, este tipo de avaliação não é forto (por exemplo, posicionamento adequado
possível, pela dificuldade de comunicação. dos tubos dos ventiladores para evitar tracção
Esta pode ser devida a alterações do estado do tubo endotraqueal).
de consciência pelo processo patológico e/ou
pela sedação. No entanto, há outros doentes Opióides
que não comunicam apenas pela impossibilida- A estimulação dos receptores opióides no sis-
de de falar, devida à entubação traqueal. Nes- tema nervoso central e periférico é um dos me-
tes, poderá ser uma ajuda para a avaliação da canismos mais importantes da antinociocepção.
dor o uso de escalas de dor. Os analgésicos cuja acção é mediada por estes
Há, basicamente, três tipos de escalas 5,10,11 : receptores são designados por opiáceos quan-
– VAS (Visual Analogic Scale) – Esta escala do são de origem natural e por opióides quando
corresponde a uma linha horizontal com 10 são de origem semi-sintética. No entanto, tem
DOR cm de comprimento e numa das extremida- sido prática corrente e aceite designar-se todo
este conjunto de analgésicos, sejam naturais ou
des tem a frase «sem dor», e na outra «pior
36 dor possível». sintéticos, por opióides 12,13 .