Page 43 Cefaleias um desafio
P. 43
so a massagens, ultra-sons, mobilização cervical e outras técnicas da medicina
física podem igualmente ser importantes no tratamento agudo.
Temos então o tratamento preventivo farmacológico como uma parte im-
prescindível na abordagem das cefaleias que cursam com cronicidade ou re-
corrência frequente. Este tratamento visa reduzir a frequência, a intensidade
e a duração das crises e melhorar a resposta ao tratamento da mesma. Recor-
re-se a este tratamento se as crises ocorrerem mais de quatro vezes por mês,
ou se o tratamento da crise aguda é insuficiente e leva a que o paciente use
em excesso a medicação sintomática, ou se as crises são muito graves em
intensidade e em sintomas associados e gravemente incapacitantes para o
paciente e com prejuízo profissional. Claro que nestes casos não se dispensa
o tratamento sintomático agudo das crises que os pacientes possam ter apesar
do tratamento preventivo. Os fármacos usados no tratamento preventivo são
diferentes do tratamento agudo. Como existem em muitos casos várias pato-
logias associadas, dada a elevada comorbilidade, é útil o uso do tratamento
farmacológico combinado, como a associação de β-bloqueador e antidepressi-
vo, de um antiepiléptico e antidepressivo.
O tratamento preventivo não farmacológico incluiu modalidades como fi-
sioterapia, treino com biofeedback, técnicas de relaxamento, psicoterapia,
adequar a dieta alimentar ou promover a actividade física.
Outra parte do tratamento é o tratamento preventivo educacional, isto é,
ao abordarmos o tratamento da dor de cabeça é fundamental que se explique
e informe o paciente sobre o que tem, quais as implicações, que tratamento
tem que fazer, os limites e efeitos desse tratamento ou se há lugar a tratamen-
tos complementares, como utilizá-los, que vantagens e inseri-los num contexto
multidisciplinar integrado e articulado. Outro aspecto é ensinar o paciente a
rever e monitorizar os sintomas, as condições associadas, comportamentos e
uso de medicação. Após ter detectado quais os factores desencadeantes mais
próximos, ajudar o paciente a dar atenção aos mesmos ou elucidar sobre ou-
tros factores também possíveis e mostrar a grande vantagem que se obtém
desta prevenção. Pois se o paciente os evitar pode contribuir para uma redução
significativa dos episódios sem qualquer fármaco. Também nalguns tipos de
cefaleia existem aspectos que o paciente tem que ser elucidado e alertado
como o sono, o consumo de álcool, actividades físicas, posturas ou a alimen-
tação. O registo diário pelo paciente das cefaleias, características, aconteci-
mentos, medicação é muito útil para o acompanhamento e até fundamental
para a prevenção. O ensino e esclarecimento sobre como usar a medicação
contribuem significativamente para melhorar a adesão e os resultados terapêu-
ticos. O tratamento preventivo educacional ajuda também a estabelecer uma
relação terapêutica ajustada com o paciente e a que o mesmo seja também
parte responsável no tratamento.
Existem dois grandes grupos de cefaleias primárias, que é, em primeiro
lugar, a enxaqueca, e em segundo, a cefaleia de tipo tensão; estes em conjun-
to contribuem para quase 90% de todas as dores de cabeça. Por outro lado,
35-45% dos pacientes que procuram tratamento em consultas de cefaleias so-
frem de dor de cabeça persistente ou crónica. Tudo isto representa muitas
consultas e dias de incapacidade para o trabalho. Mas não só também a perda
de qualidade de vida pessoal e os efeitos nefastos ao longo de dezenas de anos
com cefaleias na vida familiar ou social. As dores de cabeça, sobretudo as
crónicas, não afectam apenas o próprio mas também todos os conviventes
próximos. Assim, vale a pena reflectir sobre o tratamento da enxaqueca e da
cefaleia de tipo tensão.
40