Page 47 Cefaleias um desafio
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psicológica anterior à própria dor de cabeça, e agravamento reactivo à presen-
ça persistente da cefaleia. Isto pode e deve ser prevenido na consulta de
acompanhamento.
Pode ser necessária a opinião de um psiquiatra em termos de avaliação
complementar de diagnóstico da dor de cabeça e orientação de tratamento.
Este deve ser de preferência com experiência na área de avaliação e tratamen-
to de pessoas com dor ou na área psicossomática. É importante a modificação
de atitudes, e que o envio a um psiquiatra se faça o mais precoce possível
quando há a suspeita da presença de comorbilidade psiquiátrica com a cefaleia
e não como o último recurso do paciente, que só contribui para que o pacien-
te pense que o clínico não acredita nele, se sinta rejeitado ou abandonado ou
que não sabe mais o que fazer com o seu problema, aumentando posteriormen-
te a resistência a intervenção psiquiátrica. É também necessário que o trabalho
e intervenção sejam de equipa e de colaboração entre o clínico assistente e o
psiquiatra, e isto deve ser explicado ao paciente para fortalecer a relação te-
rapêutica. O psiquiatra deve continuar a avaliar o paciente do ponto de vista
biopsicossocial, valorizando a cefaleia e os aspectos psicológicos envolventes
e não apenas o diagnóstico de doença psiquiátrica.
Não podemos continuar a pensar porque a dor de cabeça não se resolve,
ou é crónica, que a pessoa tem problemas psicológicos ou sofre de alguma
perturbação psiquiátrica; esta é uma hipótese que tem de ser diagnosticada
afirmativamente por critérios de diagnóstico e não por exclusão. Este aspecto
é ainda mais importante porque sabemos por experiência que a comorbilidade
psiquiátrica está associada a um pior prognóstico da resolução da cefaleia. Na
dor crónica, quanto mais tardia a intervenção, pior o prognóstico do tratamen-
to. A grande evolução das áreas que estudam a emoção e o comportamento
do ser humano permitem hoje que se compreenda e intervenha também nas
pessoas com cefaleias (apesar de não haver uma doença psiquiátrica) de um
modo integrado com o tratamento somático.
Relaxamento
A aprendizagem de técnicas de relaxamento permite ao paciente mais facil-
mente estabelecer a conexão entre os estados mentais e o estado somático,
uma consciência mental do corpo ou de outro modo uma mentalização do
corpo. Permite aprender a lidar de modo mais consciente com os estados de
tensão emocional e a autocontrolar as reacções. No caso das cefaleias, o pa-
ciente pode conseguir através do relaxamento associado a medicação obter
mais rapidamente o controlo da crise de dor de cabeça. Na experiência práti-
ca, em alguns pacientes tem sido possível alcançar um estado de controlo de
crises agudas sem medicação. Este é um dos tratamentos a usar também
quando há abuso de medicação, para que o autocontrolo externo passe para
o autocontrolo interno por parte do paciente. É um dos métodos de trata-
mento preventivo que pode ser usado nas cefaleias. Exemplos de técnicas de
relaxamento são o relaxamento muscular progressivo de Edmund Jacobson,
o treino autogénio de Schultz, a visualização ou simbolismo controlado,
meditação.
Biofeedback
O uso de biofeedback, que consiste no uso da monitorização de parâmetros
físicos como o ritmo cardíaco, temperatura corporal, a tensão muscular, fre-
quência respiratória e até as ondas cerebrais nos pacientes (através de apare-
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