Page 44 Cefaleias um desafio
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Enxaqueca
Os pacientes que sofrem de enxaqueca devem ter uma medicação sintomática
eficaz e segura para as crises. Este objectivo pode não ser alcançado logo de
início em todos os pacientes e várias alternativas podem ser tentadas de
acordo com as características, tolerância e outras condições clínicas da pes-
soa. A importância deste, é o facto da pessoa que sofre, saber que tem uma
possibilidade de reduzir ou aliviar a dor, e este aspecto é fundamental para a
evolução da crise. Isto é, não só a medicação actua como todo o sistema ner-
voso central de dor, está em consonância com este objectivo e o facto de ter
uma expectativa positiva contribui favoravelmente para o controlo da crise.
Pelo contrário, os pacientes que não tem meios ao seu alcance adequados ao
tratamento da crise, devido a vários episódios recorrentes de enxaqueca de-
senvolvem uma antecipação ansiosa nociva, por vezes, mesmo fóbica das
crises e assim a dor é amplificada pela expectativa de uma crise. Não se
trata apenas do comportamento antecipatório de dor, mas o processamento
da dor vai ser diferente conforme a pessoa espera ou não ter a crise e como
controla a mesma. É o que ocorre no sistema de dor quando se administra
um medicamento placebo. Não é apenas psicológico, é na realidade a activa-
ção dos processos endógenos de modelação da dor. O tipo de fármaco a usar
depende em muito das condições clínicas do doente, como exemplo, a gastri-
te ou a úlcera péptica contra-indicam o uso de anti-inflamatórios, a doença
vascular periférica e a coronariopatia contra-indicam o uso de triptanos, to-
lerância de efeitos secundários e frequentemente são pacientes que fazem
medicação preventiva, o que condiciona a opção terapêutica a seguir. A me-
dicação preventiva é fundamental em pacientes com crises recorrentes fre-
quentes. A escolha desta vai depender também dos múltiplos factores asso-
ciados e concomitantes com a dor de cabeça. Se o paciente tiver depressão
e insónia associadas pode ser útil o recurso a um antidepressivo tricíclico
sedativo, mas se não existe qualquer outra condição associada pode ser útil
um bloqueador de canal de cálcio.
Cefaleia de tipo tensão
Este é um grande grupo das cefaleias e que afecta uma percentagem significa-
tiva da população, mas apesar disso talvez os que têm menos atenções clínicas.
É muito importante relembrar que a dor de cabeça é um sintoma, e neste
grupo de pessoas esta pode ser durante muito tempo a ponta visível de um
iceberg. Entendo que tratar uma cefaleia de tipo tensão recorrente é muito
mais do que o sintoma, mas um tratamento da pessoa.
A maioria das dores de cabeça episódicas só justifica o uso de medicação
sintomática analgésica se a intensidade for grave e as crises episódicas. O
recurso, nestes casos, apenas à medicação analgésica por regra é um tratamen-
to muito pobre e paliativo. Por outro lado, pode conduzir ao abuso medica-
mentoso e à cronicidade. A intervenção preventiva é sempre aconselhada. Esta
vai depender muito do resultado da avaliação da pessoa e os factores conco-
mitantes para as crises. Assim, temos, que prioritariamente a abordagem des-
tes factores é imprescindível e pode impedir a evolução para o curso crónico
da dor de cabeça. Este tipo de dor de cabeça pode estar associada a enxaque-
ca, sobretudo em pacientes com dores de cabeça persistentes.
O tratamento farmacológico sintomático é usado nas situações agudas das
cefaleias e tem como objectivo abortar a crise de dor de cabeça e reduzir os
sintomas associados. Tem enorme importância para a pessoa, pois permite o
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