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enervada pelo nervo trigémeo e dos aferentes cervicais provenientes do gran-
de nervo occipital. A activação da dura-máter aumenta a actividade electro-
miográfica nos músculos suboccipitais para-espinais. É importante, portanto,
saber que estímulos de dor cervical podem ser referidos à região frontal, tem-
poral ou outra área a partir de, por exemplo, pontos trigger existentes nos
músculos posteriores cervicais e escapulares e outras patologias de estruturas
cervicais. Ou também o inverso: que a dor sentida a nível cervical não tenha
obrigatoriamente uma patologia periférica. A dor sentida na parte posterior do
olho e parestesias oculares são, frequentemente, causadas por patologias cer-
vicais do mesmo lado cuja enervação proveniente das primeiras fibras nervo-
sas cervicais convergem com as fibras nervosas do trigémeo. A estimulação
de estruturas da fossa posterior e do pescoço, que é enervada pelos ramos
nervosos superiores cervicais, pode causar dor occipital mas também na área
do nervo trigémeo. Por outro lado, os aferentes do grande nervo occipital não
convergem apenas para o mesmo lado mas também para o contralateral. Isto
pode explicar a generalização da dor para o outro lado de uma dor unilateral
que é observada na clínica. Em relação a este aspecto, a unilateralidade da
enxaqueca poderá ser explicada pelo efeito inibitório do locus coeruleus no
locus contralateral. Experiências em animais têm sugerido a existência de
intercomunicação entre o nervo trigémeo, nervos cervicais, nervo vago, para
além do que previamente estava estabelecido.
A persistência de estimulação nociceptiva a nível cervical poderá constituir
uma facilitação para uma dor primária de tipo enxaqueca e assim produzir o
seu agravamento. A descrição do início de enxaqueca após trauma cervical é
disso um exemplo. Por outro lado, temos que uma crise de enxaqueca pode
apresentar-se com dor na região cervical.
Está confirmada a sensibilização como um mecanismo em que um estímulo
aferente aumenta a entrada de um outro estímulo aferente convergente. Isto pode
ser aplicado à dor mas também à parte motora. Assim, foi demonstrado que a
excitabilidade do complexo trigémino-cervical através da activação dos nocicep-
tores da dura conduzia à actividade electromiográfica nos músculos subocci-
pitais e à presença de tensão muscular e hiperalgesia (resposta aumentada a
estímulos nociceptivos). Este mecanismo poderá explicar a pulsatilidade da
dor na enxaqueca através da sensibilização periférica dos nociceptores menín-
geos que se tornam reactivos aos estímulos provocados pela pulsação normal
dos vasos sanguíneos, tosse, inclinação e movimentos bruscos da cabeça e
manobras que aumentem a pressão intracraniana. Também é crucial consi-
derar a ocorrência de sensibilização central a nível dos neurónios talâmicos,
que poderá explicar a ocorrência de alodinia (percepção dolorosa de estímu-
los que não o são) principalmente nas áreas periorbitais e temporais. Ou seja,
hipersensibilidade dolorosa cutânea em dermátomos fora da área de enervação
primária. À medida que a enxaqueca progride, o envolvimento central é maior
e a alodinia pode ser sentida no lado contralateral da cefaleia e membro supe-
rior do mesmo lado.
A enervação contribui para que várias e diferentes patologias se manifes-
tem de modo comum com uma cefaleia com características, por vezes, de
outro tipo de cefaleia. Isto é, a presença de uma queixa cervical associada a
uma enxaqueca não significa necessariamente a presença de patologia cervical.
O bloqueio periférico, por exemplo, a nível dos nervos espinais pode diminuir
a dor frontal de uma crise de enxaqueca. Isto pode ser devido a uma influência
sobre os mecanismos centrais de processamento da dor através da modulação
da resposta na entrada da convergência sináptica.


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