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Mecanismos
de dor de cabeça
Para que o clínico possa avaliar e tratar as pessoas que se queixam de dor de
cabeça é fundamental que conheça os mecanismos e fontes possíveis de dor
na cabeça.
A dor de cabeça secundária resultante de uma causa orgânica ou lesão da
cabeça pode ser provocada por inflamação, tracção, compressão, deslocamento
das estruturas e componentes da cabeça. Nesta, os mecanismos de dor centrais
e periféricos estão em geral íntegros e cumprem a sua função vital, como no
caso de um tumor cerebral, hidrocefalia, meningite, e os exames complementa-
res são um importante meio de diagnóstico para determinar qual a causa.
Na dor de cabeça idiopática ou primária esta dever-se-á à activação e à
disfunção ou desregulação dos mecanismos ascendentes ou descendentes cen-
trais que interagem e reagem aos estímulos nociceptivos que provêm da peri-
feria, principalmente a nível muscular, dos nervos e dos vasos sanguíneos, em
resposta a alterações directas ou internas ou alterações indirectas e externas
como cheiros, frio, ou mesmo factores emocionais ou de stress. Neste caso
não há nenhuma doença orgânica identificada, como na enxaqueca, na cefaleia
de tipo tensão ou na de tipo cluster.
A dor de cabeça sintomática e secundária ou sintoma de uma doença sis-
témica resulta da activação dos mecanismos normais de dor, periféricos e
centrais, muito importantes para sinalizar e alertar que algo de errado ou alte-
rado se está a passar no organismo, sendo, assim, um importante sinal de
alarme para a vida da pessoa. Nestes casos, os exames complementares da
cabeça não revelam alterações e há necessidade de procurar outras causas.
Há estruturas na cabeça que são sensíveis à dor como a pele, nervos sen-
soriais cranianos (V, VII, IX e X) e cervicais, artérias carótidas externas e os seus
ramos, os músculos da face e cabeça, mucosa nasal e seios perinasais, olhos,
dentes e ouvidos, articulações temporomandibulares e o periósteo do crânio.
Na parte interna temos as meninges, sobretudo adjacentes aos vasos me-
níngeos, os grandes seios venosos, as veias tributárias, e os vasos meníngeos.
O cérebro não dói. Os grandes vasos sanguíneos são sede de dor mas perdem
a sensibilidade após o círculo de Willis ao tornarem-se vasos piais. A membrana
tentorial, os nervos sensoriais e seus gânglios dentro do crânio são dolorosos.
A dura-máter é ricamente enervada por fibras aferentes da divisão oftálmica do
trigémeo e por fibras aferentes provenientes das raízes cervicais superiores.
É muito importante inserir a cefaleia no contexto global da complexa fi-
siopatologia da dor. Os nociceptores são os neurónios periféricos responsáveis
pela detecção e transmissão dos estímulos sentidos como dor. Estes possuem
várias substâncias como o glutamato, substância P, peptídeo relacionado com
o gene da calcitonina (CGRP). Os prolongamentos centrais terminam no corno
dorsal da medula espinhal, que interagem com os interneurónios locais, com
os neurónios espinhais de projecção e o sistema modulador descendente. Os
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