Page 8 Guia para o Tratamento da Dor em Contextos de Poucos Recursos
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Prefácio



A convicção de que o tratamento da dor é um profissionais de saúde em geral, era uma barreira
direito humano tem sido aceite por muitos há muito para a disponibilidade e uso desses fármacos,
tempo, mas em 2004, a afirmação de que "o alívio embora, de facto, esse medo seja principalmente
da dor deve ser um direito humano" foi considerada uma consequência da má formação.
tão importante que foi publicada após o lançamento A produção deste manual é oportuna porque irá
da primeira campanha global contra a Dor em 2004, preencher uma lacuna importante no conhecimento
em Genebra, pela IASP International Association for the de quem lida com pessoas com dor nos países em
Study of Pain (Associação Internacional para o desenvolvimento. Abrange a ciência básica da dor, e
Estudo da Dor), a EFIC European Federation of talvez seja o único, a abordar o racional para o uso
Chapters of the IASP (Federação Europeia dos de medicamentos naturais. Também proporciona
Capítulos da IASP), e a WHO World Health conhecimento aprofundado e conselhos sobre a
Organization (Organização Mundial da Saúde). gestão dos principais distúrbios dolorosos que
Infelizmente, um grande número dos doentes que ocorrem nos países em desenvolvimento, incluindo
sofrem com dor e, especialmente, nos países em os dois grandes flagelos do presente, Cancro e
desenvolvimento, não recebem tratamento para a VIH/SIDA.
dor aguda e, mais especialmente, para a dor crónica. Este livro deve estar disponível para todos os
Existem várias razões para este problema, que responsáveis pelo tratamento da dor, seja aguda ou
incluem a falta de profissionais de saúde crónica, trabalhem em cidades, vilas, ou província,
adequadamente treinados, a indisponibilidade de porque seguramente vão considerá-lo uma ajuda
fármacos, especialmente opióides, o receio da inestimável para a sua prática.
utilização de opióides, devido à crença errónea de
que, inevitavelmente, o uso destas substâncias Professor Sir Michael Bond
causam dependência. O primeiro grande passo na Glasgow, Escócia
melhoria do tratamento dos doentes com dor nos Agosto 2009
países em desenvolvimento é proporcionar-lhes,
profissionais treinados, não apenas médicos e
enfermeiros, mas também os demais profissionais
de saúde.
Uma pesquisa realizada pela IASP em 2007 revelou
que entre os seus membros nos países em
desenvolvimento, poucos reconheceram ter
recebido uma educação adequada na compreensão e
tratamento da dor enquanto universitários.
Na maioria das regiões do mundo, menos de
metade receberam formação no tratamento da dor,
mesmo que fosse uma parte significativa do seu
trabalho diário. Não é de estranhar, portanto, que
91% relatassem que a falta de formação tenha sido a
principal barreira para o tratamento da dor no seu
país. É claro que em muitos países em
desenvolvimento, o alívio da dor não é uma
prioridade, e que a preocupação com doenças
infeciosas como a malária, a tuberculose, e acima de
tudo VIH/SIDA tem precedência. De facto, 75%
dos que responderam à pesquisa da IASP,
considerou a não prioridade ao controlo da dor um
falha do governo e o segundo obstáculo mais
comum para a melhoria da qualidade do tratamento.
Quase todos referiram que o medo da dependência
de opióides, entre médicos, enfermeiros e

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