Page 33 Volume 9, Número 4, 2001
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Dor (2001) 9: 32-33
Dor (2001) 9
Infecção em cateter epidural
Isabel Brazão, Teresa Ferreira, Rui Silva, Gil Bebiano, Decla Freitas,
Duarte Correia
Resumo
Os autores apresentam o caso clínico de um paciente com arteriopatia periférica IIIB
Fontaine que após introdução de cateter epidural tunelizado, desenvolveu um processo
infeccioso. Pela sua gravidade, natureza, complexidade clínica e terapêutica, implicou
uma revisão dos métodos e procedimentos efectuados e a efectuar, constituindo um
alerta para todos os intervenientes.
Palavras chave
Cateter epidural. Infecção. Dor isquémica.
Introdução te permaneceu internado durante 24 h, sem intercorrênci-
A dor provocada pela isquémia, pela sua gravidade as e com melhoria objectiva da sintomatologia.
pode apresentar características álgicas muito intensas, A revisão efectuada às 72 h não registou qualquer
constituindo um desafio terapêutico para as unidades alteração.
de dor. No 5º dia pós-introdução do cateter epidural (Sába-
Na impossibilidade de tratamentos mais diferenciados do), o doente permanecia apirético, no entanto referindo
(p.e. electroestimulação medular), indicados e praticados a posteriori, dor lombar ligeira e rubor no orifício de
noutros países europeus, tem sido prática, ao longo dos exteriorização do cateter, situado no flanco abdominal.
anos, na Unidade de Terapêutica de Dor do CHF, a Apesar do ensino efectuado previamente, ao apresentar
introdução de cateteres epidurais com tunelização sub- estes sinais e sintomas não recorreu ao hospital.
cutânea para analgesia por perfusão contínua por drug A 5/3/01 (7º dia pós-introdução cateter), na consulta
infusion balon (DIB) ou PCA (patient controled analgesia), de Terapêutica de Dor o doente referia dor lombar,
no internamento ou no ambulatório. hipertermia, sinais inflamatórios no percurso do cateter
Consideramos indicações para a realização desta epidural e exsudado purulento no orifício cutâneo. Foi
técnica, isquémia grau III A, B e grau IV de Fontaine internado, procedeu-se de imediato à retirada do cateter
após o fracasso da terapêutica oral com persistência de epidural e enviou-se para exame microbiológico a ponta
dor intensa. do cateter epidural e o exsudado. Efectuaram-se de
urgência exames complementares de diagnóstico: hemo-
Caso clínico grama, bioquímica, hemoculturas, uroculturas, radiografia
de tórax e electrocardiograma, TC lombar. Observado
M.V., sexo masculino, raça caucasiana, 70 anos pelo neurocirurgião da Unidade de Terapêutica de Dor, o
de idade, portador de patologia aterosclerótica, exame neurológico efectuado foi normal. Iniciou antibio-
amputado ao membro inferior direito em Setembro/ terapia, com cefradina (1 g e.v. 8/8 h) e gentamicina (160
2000, é referenciado para a consulta de Terapêutica mg e.v./dia). Modificou-se a técnica analgésica para
de Dor do CHF por dor no coto e membro fantasma. morfina subcutânea em perfusão por DIB.
Apresentava isquémia distal grau III B Fontaine com Às 72 h pós-internamento / início de antibioterapia (10º
dor intensa refractária à terapêutica oral. A sintoma- dia pós-introdução cateter) o doente mantinha a hiperter-
tologia álgica acompanhava-se de alterações impor- mia, sem lesão neurológica, alguns períodos de confu-
tantes do sono, humor e da actividade. são, referia tossícula e expectoração mucopurulenta es-
A 26/2/01 (Segunda Feira), procedeu-se à introdução cassa. A TC lombar e a radiografia de tórax não revelaram
de cateter epidural, no bloco operatório, com tunelização qualquer alteração. Apresentava 11.900 leucócitos/µl com
DOR subcutânea e reservatório externo. Após bólus inicial ini- 89% de neutrófilos, sem outras alterações laboratoriais.
Cinco dias após internamento (12º dia pós-introdução
ciou-se perfusão epidural para analgesia por DIB 1 ml/h
32 com bupivacaína 0,0625% e sufentanil 20 µg/dia. O doen- cateter) persistia a hipertermia, apresentava agrava-