Page 47 Volume 13 - N.1 - 2005
P. 47
Dor (2005) 13
entre os 10 e os 70 anos e pode recorrer em 25% A indometacina é o fármaco de eleição. A admi-
42
dos casos. Elas são mais frequentes nos doentes nistração inicial deve ser 25 mg 3 vezes/dia que
que têm enxaqueca e após o episódio de cefaleia pode ser aumentada para 50 mg 3 vezes/dia,
explosiva muitos doentes desenvolvem outros ti- eventualmente mais, até ao máximo de 250 mg/
pos de cefaleias primárias como enxaqueca e dia . A resposta consiste na resolução absoluta
48
cefaleia de tensão. Podem ocorrer espontanea- da dor após 1 ou 2 dias de administração da
48
mente em repouso ou podem ser precipitadas, dose eficaz . Alguns doentes toleram a suspen-
num terço dos doentes, por esforço físico inten- são do fármaco após um período de terapêuti-
so, manobras de Valsalva ou actividade sexual. ca 47,50 mas a maioria requer a sua administração
A fisiopatologia da cefaleia explosiva primária crónica. Outros fármacos com resposta parcial
não é conhecida mas pensa-se que possa estar ou completa em alguns casos incluem naproxeno,
relacionada com vasoespasmo arterial segmen- paracetamol, paracetamol com cafeína, ibupro-
tar causado por mecanismos neurogénicos 43,44 . feno, piroxicam, aspirina, rofecoxib, dihidroergo-
Por outro lado tem sido descrita uma associação tamina, metilsergide, corticoides, lamotrigina,
com serologia positiva para o vírus Erve, cuja gabapentina e carbonato de lítio 48,50,51 .
prevalência nos doentes com cefaleia explosiva
primária (13,9%) é significativamente superior à Cefaleia persistente diária desde o início
nos controlos saudáveis (1%), nos doentes com As cefaleias crónicas diárias são uma síndrome
encefalite viral (0%) e nos doentes com hemor- que pode ser devida a uma cefaleia secundária
45
ragia subaracnóidea (4,3%) . com causa não tratável ou de difícil resolução
(ex. cefaleia pós-traumática) ou pode evoluir de
Hemicrania contínua uma cefaleia primária, quer devido a abuso
46
Descrita inicialmente por Sjaastad em 1984 , de analgésicos, quer devido à própria história
é uma dor unilateral constante, tipo pressão ou natural da doença, podendo acontecer na enxa-
aperto, de intensidade moderada, que pode ter queca e na cefaleia de tensão . No entanto, exis-
52
exacerbações, com dores tipo picada ou facada, te uma entidade em que as cefaleias são diárias
muito intensas e de duração variada (minutos a desde o seu início, sem existir uma causa subja-
dias), acompanhadas por sintomas autonómicos cente, abuso de analgésicos ou uma cefaleia
subtis homolaterais, tais como lacrimejo e rinor- prévia que aumente de frequência até ser diária
reia 46-48 . Alguns doentes descrevem uma sensa- – a cefaleia diária persistente desde o início.
ção de corpo estranho ocular homolateral 47,48 . As Tipicamente, este tipo de cefaleias é mais frequen-
suas características cardinais são a unilateralida- te em mulheres e, nestas, ocorre mais cedo (segun-
de e a resposta terapêutica à indometacina, da ou terceira década), enquanto que nos homens
quando administrada em dose adequada. tende a surgir na quinta década de vida 53-55 . No
Ocorre com maior frequência em mulheres entanto, um estudo recente na população japo-
48
(1.8:1) , tendo início geralmente entre os 20 e os nesa descreve a sua ocorrência na primeira ou
50 anos de idade, não se conhecendo quaisquer segunda década em ambos os sexos e uma pre-
47
factores precipitantes . Apesar da nomenclatura, valência superior em indivíduos do sexo masculi-
existem casos descritos em que os sintomas são no . Oitenta por cento 54 dos doentes consegue
56
remitentes, com dias ou períodos livres e tam- descrever o dia e o momento em que os seus
47
bém casos com dor bilateral, embora alguns com sintomas se iniciaram, sendo que alguns doentes
clara predominância de um dos lados 47,48 . Embo- descrevem um crescendo de sintomas nos primei-
ra a sua patogénese seja desconhecida, um re- ros dias e outros referem que a cefaleia se mantém
cente estudo de tomografia de emissão de po- idêntica desde o primeiro momento. Em 22 a 54%
49
sitrões revelou activação do hipotálamo posterior dos doentes 54,55 há um factor precipitante identifi-
contralateral e da protuberância dorsal e mesen- cável (síndrome gripal, cirurgia extra-craniana e
céfalo ventrolateral homolaterais à dor, durante acontecimento na vida pessoal que condiciona
crises de hemicrania contínua, sendo que esta stress, sendo a síndrome gripal geralmente asso-
55
activação é bloqueada pela administração de in- ciada com infecção a EBV ). É descrita como
dometacina, e não de placebo. uma dor bilateral, com frequente localização occi-
O diagnóstico diferencial coloca-se em rela- pito-nucal, acompanhada de náuseas, fotofobia,
ção a outras cefaleias unilaterais primárias, prin- sonofobia, cabeça vazia e desconforto cervical.
cipalmente a hemicrania paroxística, da qual se Apesar de alguns autores reportarem uma remis-
distingue pela presença de dor constante e pela são espontânea de sintomas em 73 a 86% dos
escassez de sintomas autonómicos, a cefaleia doentes ou 66% aos 2 anos de evolução , ou-
53
55
por abuso de analgésicos (geralmente bilateral tros descrevem uma má resposta à terapêutica e
sem sintomas autonómicos), a nevralgia supra- cronicidade das queixas. Desconhece-se a ver-
orbitária, cefaleia cervicogénea, enxaqueca uni- dadeira incidência deste tipo de cefaleias mas
54
lateral persistente, dor facial atípica, disfunção um recente estudo italiano reporta que represen-
da articulação temporo-mandibular, entre ou- tam 0,8% dos casos seguido em consulta de
DOR tras . Existem casos descritos de hemicrania cefaleias nos últimos 70 meses . Permanece um
50
55
contínua secundária a tumor mesenquimatoso
diagnóstico de exclusão dado as múltiplas etio-
46 da base do crânio e a carcinoma do pulmão . logias que podem mimetizar estes sintomas.
48
51