Page 46 Volume 13 - N.1 - 2005
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E. Parreira, et al.: Outras cefaleias: Outras Cefaleias Primárias
te e irregular. Os doentes devem ser aconse- Tal como noutras cefaleias primárias, a tera-
lhados a interromper a relação sexual se elas pêutica da cefaleia hípnica é empírica. Na maior
surgirem. Podem ser prevenidas com as se- parte das séries descritas, que incluem um pe-
guintes medidas: perda de peso, exercício físi- queno número de casos, verificou-se resposta
co, papel mais passivo no acto sexual, evitar ao carbonato de lítio. Alguns doentes respon-
ter mais de uma relação sexual por dia e utili- dem a um pequeno período terapêutico, ficando
zação de medicação (indometacina, proprano- sem dores após a suspensão da terapêutica.
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lol 40-200 mg/dia e diltiazem 180 mg/dia ). Outros (cerca de 40%) requerem terapêutica
crónica. Outros fármacos que provaram ser efi-
Cefaleia hípnica cazes (em casos individuais ou estudos não
A cefaleia hípnica 21 é uma cefaleia primária controlados) são a indometacina , a flunarizina
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que se caracteriza por ocorrer exclusivamente e o verapamil mas também estão descritas res-
durante o sono. postas à cafeína e à melatonina.
É mais frequente nas mulheres e costuma ini-
ciar-se tardiamente na vida (depois dos 50 anos Cefaleia explosiva primária
de idade), sendo 61 anos a média de idade dos A cefaleia explosiva, como o seu nome indica,
doentes quando aparecem as primeiras cri- é uma cefaleia de início abrupto (instantâneo,
ses 22,23 . A dor ocorre durante o sono (tanto no num segundo), atinge a sua intensidade máxima
sono nocturno como durante as sestas), como em menos de 1 minuto, é muito intensa e des-
um despertador que acorda o doente (era ante- crita pelos doentes como «a pior cefaleia da sua
riormente chamada alarm clock headache), e vida». Embora possa ser uma cefaleia primária
dura entre 15 a 180 minutos desde o acordar. com bom prognóstico, muitas vezes é manifes-
Para o seu diagnóstico a cefaleia deve ter uma tação de patologia intracraniana grave. Ela é,
frequência mínima (pelo menos 15 crises por por exemplo, característica da hemorragia suba-
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mês) e não ocorrer de forma errática e ocasio- racnóidea (que ocorre entre 15 a 25% 32,33 dos
nal. A dor é bilateral em cerca de 70% dos do- doentes com cefaleia explosiva), sendo essen-
entes, mas pode ser unilateral. Alguns doentes cial excluir sempre a sua presença através de
descrevem-na como pulsátil e tem uma intensi- TC CE e se esta for negativa, punção lombar.
dade ligeira ou moderada (é raro ser muito in- Pode também ser secundária a: trombose venosa
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tensa). Tem poucos ou nenhuns sintomas acom- cerebral , malformações vasculares que não
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panhantes. Pode associar-se a uma sensação sangraram (aneurismas na sua maioria), dis-
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de náusea (sem vómitos), ou a foto ou sonofo- secções das artérias do pescoço , angeíte do
bia, mas apenas a um destes sintomas, ao con- SNC , angiopatia benigna reversível do SNC ,
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trário do que sucede na enxaqueca. Não se apoplexia hipofisária , quistos do III ventriculo,
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acompanha de sinais autonómicos oculares. hipotensão de LCR , sindrome de leucoencefa-
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A patogenia da cefaleia hípnica não é conhe- lopatia posterior reversível e sinusite aguda
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cida. Tem sido conceptualizada como uma do- (sobretudo se barotrauma). As várias séries pu-
ença cronobiológica, dada a sua ocorrência blicadas demonstram que é não possível distin-
durante o sono. Contudo, a sua relação com as guir clinicamente entre uma cefaleia explosiva
fases do sono é algo controversa. A maioria dos por ruptura de aneurisma cerebral (quando esta
estudos relaciona as crises com o sono REM se manifesta exclusivamente por cefaleias com
mas existem descrições de crises noutras fases exame neurológico normal) e uma cefaleia ex-
do sono 24-28 . A cefaleia hípnica parece ser sen- plosiva idiopática já que as características clíni-
sível às variações dos ritmos circadianos uma cas da cefaleia (modo de instalação, intensida-
vez que pode ser precipitada por mudanças de de, sintomas associados) são semelhantes nos
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fuso horário , mas existem poucos estudos so- dois casos 33,40 . O diagnóstico de cefaleia primá-
bre os seus possíveis factores desencadeantes. ria explosiva só pode ser feito após exclusão de
O seu diagnóstico diferencial faz-se com ou- causas orgânicas e a procura de uma causa
tras cefaleias cíclicas e nocturnas (como a ce- subjacente deve ser persistente e exaustiva.
faleia em salvas e a enxaqueca cíclica) e com a Num estudo recente sobre doentes observa-
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cefaleia cervicogénea. Distingue-se da cefaleia dos num Serviço de Urgência com cefaleia ex-
em salvas pela localização bilateral, pela ausên- plosiva, 16,7% tinham hemorragia subaracnói-
cia de sintomas autonómicos e pela menor in- dea, 10,2% outras patologias do SNC e em
tensidade das crises. Relativamente à enxaqueca 72,9% não foi identificada qualquer causa (ce-
(que também se pode iniciar durante a noite acor- faleias primárias).
dando o doente mais cedo que o habitual, devi- A cefaleia explosiva idiopática é mais frequen-
do à dor), esta cefaleia aparece isolada, sem a temente occipital (50%) e frontal (38%) , geral-
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constelação de sintomas acompanhantes que mente dura várias horas (mas pode persistir
habitualmente se verificam na enxaqueca. Dado semanas como cefaleia ligeira) e pode ocorrer
o seu início tardio na vida, esta cefaleia deve ser repetidamente nos primeiros 7 a 14 dias 4,32 . Acom-
investigada por exames de imagem para excluir panha-se de náuseas, vómitos e sonofobia. O exa- DOR
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lesão estrutural do SNC , embora habitualmen- me neurológico é normal. Tem a prevalência de
te não se associe a patologia orgânica 23,26 . 0,1% na população geral, idade de início variando 45