Page 7 Volume 13 - N.1 - 2005
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Dor (2005) 13
Dor (2005) 13
Cefaleias
Introdução
José M. Pereira Monteiro
A cefaleia é um sintoma álgico subjectivo referido à Avaliação clínica
extremidade cefálica. É um dos sintomas mais frequentes Deve proceder-se à avaliação dos seguintes elemen-
na clínica e um dos principais motivos de contacto com o tos semiológicos:
médico. A dor é sempre uma manifestação de uma lesão – Dor
ou disfunção que envolve o sistema nervoso. A cefaleia • Instalação (data e forma)
surge na maior parte das vezes como sintoma principal, • Localização (principal ou inicial e irradiação)
outras vezes como sintoma associado e mais raramente • Carácter
como manifestação isolada. • Intensidade
Geralmente, aos serviços médicos recorrem os doen- • Duração
tes com cefaleias que apresentam alguma das seguintes • Evolução temporal (monofásica ou polifásica)
características: – Sintomas associados (sequencialmente)
– A primeira cefaleia. – Doenças prévias
– A pior cefaleia de sempre. – Doenças familiares
– A cefaleia progressiva.
– A cefaleia acompanhada de náuseas e vómitos in-
coercíveis. Conduta clínica
– A cefaleia acompanhada de sintomas ou sinais ge- – Proceder à classificação sintomática das cefaleias
rais. utilizando o perfil temporal
– A cefaleia acompanhada de sintomas ou sinais – Definir o perfil temporal (instalação + evolução)
neurológicos focais. • Agudo (instalação súbita ou rápida e evolução
– A cefaleia que não cede ao tratamento habitual. curta – horas a dias)
Ao regime ambulatório recorrem, sobretudo, doentes • Subagudo (instalação insidiosa, evolução pro-
com cefaleias de longa duração, isto é, cefaleias cróni- gressiva – semanas a meses < 6)
cas mas, por vezes, também as agudas ou subagudas • Crónico
isoladas ou associadas às formas crónicas. ▪ Episódico (instalação episódica aguda, evolu-
Perante uma cefaleia, a primeira preocupação do médico ção por surtos – meses a anos)
deverá ser a de procurar a sua causa, isto é, se é lesional ▪ Contínuo (instalação insidiosa, evolução flutuante
ou estrutural, também por vezes designada «orgânica» e/ou sem remissões – meses a anos)
«sintomática», ou se é disfuncional, também por vezes de- – Correlacionar o perfil temporal com a etiologia
signada «funcional» (infelizmente, por muitas vezes com • Agudo (vascular, infecciosa, traumática, tóxica e
tonalidade pejorativa), isto é, primária ou «idiopática». metabólica)
São sinais de alerta de possível causa orgânica os • Subagudo (HIC – hipertensão intracraniana por
seguintes: abcesso, hematoma, quisto, granuloma, tumor 1.
o
– A cefaleia de início súbito. ou 2. )
o
– A cefaleia de início tardio (depois dos 40 anos) • Crónico
– A cefaleia subaguda e progressiva (em dias ou ▪ Episódico (enxaqueca, cefaleia em salvas,
semanas). hemicrania paroxística, nevralgias cranianas,
– A cefaleia associada a sintomas ou sinais gerais. cefaleias tipo tensão episódicas)
– A cefaleia associada a sintomas ou sinais neuroló- ▪ Contínuo (cefaleias tipo tensão crónicas e/ou
gicos focais. abuso medicamentoso).
A melhor forma de obter o diagnóstico correcto é atra- – Proceder à investigação etiológica
vés da anamnese, pela caracterização sistemática, pri- • Cefaleias agudas e subagudas
meiro do sintoma principal (neste caso a dor) e depois ▪ Investigar – SIM (sempre)
dos sintomas associados pela ordem sequencial da sua • Cefaleias crónicas
relevância clínica. ▪ Típicas (de acordo com os critérios de diag-
nóstico da IHS – International Headache So-
ciety): não investigar
▪ Atípicas: investigar como se agudas ou suba-
gudas
DOR Centro de Estudos de Cefaleias Investigação
Serviço de Neurologia
6 Hospital de Santo António – Imagem: TC, RM, Rx, SPECT, PET, Ecografia
Porto, Portugal