Page 9 Volume 13 - N.1 - 2005
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Dor (2005) 13
Dor (2005) 13

Cefaleias
Epidemiologia



José M. Pereira Monteiro





A cefaleia, como sintoma isolado ou integra- Balyeat e Rinkel, em 1931, encontraram refe-
do em síndromes mais ou menos complexas, é rência a enxaqueca em percentagens variáveis
um fenómeno extremamente frequente, tendo de 3,7 a 13,5% dos vários grupos sociais estuda-
acompanhado o ser humano desde tempos ime- dos, com uma média para a população geral de
moriais. 5%. Bille, em 1962, encontrou em 9.000 crianças
A sua elevada frequência e relação com situ- suecas, 1% de enxaquecas na idade dos 6 anos
ações difíceis ou desagradáveis fez com que e 5% aos 11 anos. Dalsgaard Nielsen, em 1970,
este sintoma fosse usado e integrado na lingua- num estudo de crianças dinamarquesas, en-
gem corrente como metáfora para designar tais controu enxaquecas em 3% aos 7 anos e 9%
situações difíceis ou problemáticas. aos 15 anos e, em adultos, 11% no sexo mas-
O facto de ser tão comum, frequentemente culino e 19% no sexo feminino. Waters e
familiar e de curso previsível, em grande parte O’Connor, em 1970, no País de Gales, encon-
dos casos, contribui significativamente para que traram enxaqueca em 19% de 2.933 mulheres
muitas vezes passe fora do alcance médico, isto com idades de 20 e 64 anos. Em Inglaterra, um
é, evolua sem recurso a cuidados médicos . estudo efectuado em 15.000 pessoas, pelo Bri-
1,2
Esta é uma das razões que justificam a neces- tish Migraine Trust, em 1975, mostrou que 10%
sidade de recurso a estudos epidemiológicos de dos homens e 16% das mulheres sofriam de
base populacional, como única forma de avaliar cefaleias unilaterais periódicas e que se fossem
a verdadeira dimensão desta situação clínica e incluídas as cefaleias bilaterais com caracterís-
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as suas implicações económicas e sociais . ticas de enxaqueca atingir-se-iam valores de
20% para o sexo masculino e 26% para o sexo
Prevalência feminino. A média para a população estudada
Os dados existentes da prevalência de cefa- foi de cerca de 20% (sendo maior na mulher e
menor na criança).
leias são claramente determinados pelas formas Um estudo efectuado por Ogunyemi, em 1982,
clínicas mais frequentes e idiopáticas, como a numa população rural da Nigéria, revelou uma
enxaqueca e a cefaleia de tensão e refletem as prevalência de 5% no sexo masculino e 9% no
diferenças dos critérios de diagnóstico que fo- sexo feminino, aumentando até 17% durante a
ram utilizados . idade reprodutiva .
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Os estudos de prevalência de cefaleias efec- Em Portugal há dois estudos epidemiológi-
tuados anteriormente 10-35 , quer na Europa quer cos: um estudo de prevalência de cefaleias
no resto do mundo, estão sintetizados, respecti- numa população estudantil universitária efec-
vamente nos tabelas 1 e 2.
tuado por Pereira Monteiro, Eduarda Matos e
José M. Calheiros em 1992, que revelou uma
Enxaqueca prevalência de enxaqueca de 6,1% e um es-
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Como consequência da grande variabilida- tudo de base populacional também sobre to-
de da apresentação clínica da enxaqueca, dos os tipos de cefaleias que revelou uma
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torna-se difícil a avaliação da sua prevalência. prevalência de enxaqueca de 8,8%, na forma
Os resultados dos diversos estudos efectua- pura, isto é, não associada a outras varieda-
dos são contraditórios, não só porque as po- des de cefaleias. Se consideradas também as
pulações estudadas são diferentes em idade, formas combinadas com outros tipos de cefa-
sexo e situação profissional, mas, e essencial- leias, principalmente com as cefaleias de ten-
mente, porque foram utilizados critérios de são que representavam 12,1%, então a preva-
diagnóstico diferentes. Assim, vemos que lência de enxaqueca na população estudada
era de 20,9%, isto é , um valor idêntico ao dos
estudos mais recentes e com metodologias
semelhantes.
Estes dados demonstram claramente que a
Centro de Estudos de Cefaleias
DOR Serviço de Neurologia enxaqueca é uma afecção amplamente distribu-
ída na população mundial e em diferentes raças
8 Hospital de Santo António e condições sociais.
Porto, Portugal
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