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deve substituir (caso esteja competente) do passado, os laços afectivos, enfim, um lega-
nas decisões a tomar. Há que garantir tem- do que se transporta e que não é passível de
po para a discussão franca, estabelecen- ser modificado num curto espaço de tempo.
do as consequências possíveis para as Podem ser necessárias várias reuniões, com a
várias opções em debate. Deve enfatizar- presença de diferentes elementos profissionais,
se que as decisões visam o bem-estar do para se atingir um patamar de maior confiança
paciente e que ele e a família não serão e acordo.
abandonados, qualquer que seja a deci-
são tomada.
– Responder às emoções dos elementos pre- Após a conferência
sentes, validá-las se for caso disso, e res- Após a conferência, a síntese do ocorrido deve
peitando os silêncios, se os houver. Podem ser registada no processo clínico, e os vários
fazer-se observações sem criticismo e os membros da equipa, nomeadamente os mais
conflitos devem ser explicitados. Facilitar os ligados ao caso, devem ser informados do que
consensos: «Acha que isto que X disse po- se abordou e do plano acordado.
deria ser uma forma de resolver o proble- Trabalhar com as famílias envolve frequente-
ma?»; «E se considerasse outra alternativa, mente expor a nossa vulnerabilidade, embora
que implicações teria para o bem-estar do desejavelmente respeitando sempre a distância
doente?». terapêutica. Se de alguma forma anteciparmos
– Estabelecer um plano de actuação con- as questões e as reacções dos familiares – e
sensual para o doente/família e equipa: isso deve preferencialmente fazer-se em equipa
«Ficou claro para todos os passos que – poderemos correr menos riscos de «sobreen-
vamos seguir daqui para a frente?»; «Há volvimento» e de manter a perspectiva terapêu-
mais alguma questão que queiram colo- tica desejável, até para a prevenção do burn-
car?». Idealmente – sobretudo em situa- out. Por outro lado, após a conferência, o
ções de conflito evidente – tomar nota por profissional que a conduziu deve sempre fazer
escrito dos pontos debatidos e do plano um balanço dos resultados imediatos, reflectir
acordado, e mostrar-se disponível para ou- e identificar as suas próprias emoções (raiva,
tros encontros. tristeza, culpa, serenidade), aceitá-las como
– Encerrar a conferência – sumarizar os prin- parte integrante do processo terapêutico e, em
cipais aspectos abordados, os pontos de caso de maior insegurança ou angústia, parti-
conflito e os consensos atingidos. Elogiar o lhá-las com outro profissional da equipa. Se por
papel da família (se for esse o caso) e ga- algum motivo persistirem sentimentos de culpa,
rantir continuidade e disponibilidade para a de revolta, que interfiram negativamente na
apoiar, bem como ao doente. Se neces- prática clínica, é aconselhável o apoio de um
sário, programar uma outra reunião e rever terapeuta que ajude o profissional a explorar
contactos. esses temas.
Como já dissemos, o doente nem sempre
estará presente, por incapacidade e/ou por a
família se sentir mais à vontade discutindo as- Conclusão
pectos sensíveis da doença separadamente. Realizar uma conferência familiar pressupõe
De qualquer forma, ele será sempre o cerne do uma preparação rigorosa e tão exigente quanto
processo de tomada de decisões, já que é com a requerida para outros procedimentos técnicos,
ele que existe primazia na relação terapêutica (e nomeadamente os da área do controlo sintomá-
só depois com a família). tico. A preparação para este tipo de intervenção
Nem sempre se atingem consensos e ocor- em cuidados paliativos não deve estar apenas
rem, por vezes, situações de maior tensão entre reservada aos profissionais de saúde com inter-
as famílias, o doente e os profissionais. Habitu- venção psicossocial mais estrita, como os psi-
almente, os conflitos acerca de medidas tera- cólogos e os assistentes sociais. Médicos e en-
pêuticas fúteis e/ou relacionados com alterações fermeiros devem desenvolver as aptidões que
terapêuticas, têm por base o próprio sofrimento lhes permitam dar um apoio mais completo aos
emocional da família relacionado com a doença, doentes e famílias que têm a seu cargo, num
ao não ser capaz de admitir a perda próxima do esforço para corresponder às expectativas e ne-
seu ente querido. Há que reconhecer esse mal- cessidades dos mesmos.
estar, deve sempre ser frisado que se pretende A nossa prática e as referências encontradas
trabalhar em conjunto para assegurar o melhor na literatura fazem-nos pensar que este é um
bem-estar para o doente e que os profissionais instrumento de trabalho fundamental em cuida-
tudo farão para esclarecer as dúvidas que natu- dos paliativos.
ralmente a família possa ter. Apesar do interesse que esta prática desper-
O médico e/ou outros profissionais devem ta e do consenso sobre a sua utilidade, parece-
DOR aceitar que, nestes processos, há aspectos que nos importante o desenvolvimento de investiga-
controlam e outros que nem tanto, que têm a
ção mais detalhada por forma a gerar evidência
32 ver com a história de cada família, as vivências mais específica, nomeadamente em áreas como