Page 38 Volume 16 - N.3 - 2008
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S. Moutinho: Apoio no Luto em Cuidados Paliativos
Existem algumas questões-chave que nos po- 12
dem orientar nesta tarefa, tais como: «Pode fa- Quadro 1. Princípios de ajuda a uma pessoa em luto
lar-me um pouco acerca da morte?». Outros
aspectos a avaliarem são: «O que aconteceu 1. Não esperar reacções idênticas em pessoas
nesse dia?»; «Pode falar-me acerca da pes- diferentes.
soa?»; «Como começou a vossa relação?»; 2. Evitar frases triviais como: «Todos temos de morrer
«Como estão as coisas desde a morte?». Estas um dia», «As coisas vão melhorar», etc.
questões podem-nos ajudar a compreender o 3. Não comparar tragédias.
momento da vivência do luto para cada pessoa 4. Validar, «normalizar» as emoções.
em particular, compreendendo o significado da 5. Facilitar a identificação de sentimentos de culpa,
perda para aquela pessoa em especial. Outros raiva.
aspectos a avaliar é a presença de pensamento 6. Esclarecer que provavelmente se sentirá pior antes
mágico, assim como de sentimentos de culpa; de começar a melhorar.
a descrição do significado da perda e a análise
de todos os factores psicológicos, sociais e fi- 7. Ajudar a actualizar a perda permitindo a repetição
siológicos que podem influenciar a resposta de da história.
luto e fazer a história de perdas anteriores. De- 8. Identificar a forma como lidou com outras perdas.
vemos ainda garantir que o sobrevivente tenha 9. Ajudar a restaurar a confiança em si, tomando
apoio médico sempre que os sintomas assim o decisões e aprendendo coisas novas.
determinem e encorajar a verbalização de sen- 10. Lembrar tarefas de autocuidado.
timentos, assim como a recordação da pessoa 11. Ajudar a explorar o lado positivo de criar novos
que morreu. Ajudar o sobrevivente a reconhecer, laços sem se sentir culpado.
actualizar e aceitar a perda. Por vezes o sobre-
vivente resiste a fazer o processo de luto. Nestas
situações, o nosso papel enquanto profissionais
de saúde deve ser entender quais as razões
deste comportamento e de que forma podere- zes com impulsos autodestrutivos; comporta-
mos contribuir para uma resolução saudável do mento «seco», como se nada tivesse aconteci-
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luto, encorajando o sobrevivente a rever de for- do, evitando referências ao objecto perdido .
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ma realista a pessoa que morreu, e o seu rela- Como refere o mesmo autor , as reacções
cionamento e a resolver tarefas não resolvidas, mais comuns de luto complicado/(psico)patoló-
bem como lutos prévios. É igualmente importan- gico são:
te planear intervenções que reforcem as estraté- – Reacções crónicas de luto.
gias de coping do sobrevivente, ajudando-o a – Reacções de luto retardadas.
descobrir uma nova identidade e os novos papéis – Reacções de luto exageradas.
que deve assumir como consequência da perda, – Reacções de luto mascarado.
assim como ajudá-lo a reinvestir num novo pro- No quadro 1 apontamos alguns princípios na
jecto de vida encorajando-o na descoberta de ajuda a uma pessoa em luto.
actividades gratificantes, e a identificar aquilo
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que pode tirar de positivo desta experiência . o luto nas crianças
Os principais factores que podem influenciar Existem várias razões por que devemos ser
a evolução no processo de luto podem resumir- honestos e dar informação às crianças durante
se às seguintes questões essenciais: quem era o processo de doença de um familiar. Deste
a pessoa que morreu, qual a natureza da relação modo, pode começar por referir-se que o segre-
com o sobrevivente, como ocorreu a morte, os do torna a situação mais difícil e que não pode-
antecedentes históricos, a personalidade do so- mos enganar as crianças para sempre, podendo
brevivente, as variáveis sociais e as situações as mesmas obter a informação através de outras
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stressantes concorrentes . pessoas. Devemos ainda ter presente que as
Quando o processo de luto não se desenvolve crianças conseguem lidar com a informação e
de uma forma adaptativa, poderemos estar pe- que têm o direito de saber a verdade e a uma
rante um quadro de um diagnóstico de luto com- oportunidade para falarem sobre a doença e as
plicado/(psico)patológico. Mas quando pode- suas preocupações .
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mos falar deste tipo de diagnóstico? Quando o
indivíduo não conseguir falar do objecto perdido
sem se emocionar, apresentando tristeza não Assim sendo, como podemos ajudar as crianças a
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justificada em determinadas circunstâncias (da- lidar com a doença do familiar?
tas, locais); apresentar sintomas físicos seme- A mensagem que procuramos transmitir a to-
lhantes ao objecto perdido; compulsão para dos os pais/familiares é:
imitar traços do objecto perdido, ou sensação – Não esperem ser perfeitos/saber tudo, dei-
de contínuas obrigações para com ele; mudan- xem a criança colocar as suas questões e
ças radicais e/ou prematuras no estilo de vida; aproveitar todas as oportunidades para DOR
história prolongada de depressão com culpa conversar. Sendo verdadeiros, irão manter
persistente e diminuição da auto-estima, por ve- a confiança da criança. 37
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