Page 37 Volume 16 - N.3 - 2008
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– Dimensão social (a perda é sentida no qua- mesmo processo, permitindo ao sobrevivente ter
dro de uma rede social e pode provocar um papel mais activo na resolução do luto e, ao
mudanças de estatuto e papel). mesmo tempo, reconhecendo a importância da
– Dimensão física (os sintomas físicos são intervenção exterior na facilitação do mesmo. As
comuns). tarefas de luto descritas por Worden são as se-
– Dimensão de estilo de vida (pode provocar guintes:
grandes mudanças no estilo de vida das – Aceitar a realidade da perda (aceitação in-
pessoas). telectual e emocional da perda).
– Dimensão espiritual (pode espoletar o ques- – Trabalhar a dor do luto (experiência de sen-
tionar das crenças). timentos dolorosos).
– Dimensão da identidade (pode afectar a – Adaptar-se a uma vida sem a pessoa signifi-
identidade e a auto-estima do indivíduo) . cativa (adaptação à mudança de papel, iden-
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O mesmo autor, Rando , faz referência às tidade, auto-estima e crenças pessoais).
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palavras-chave do processo de luto: – Reinvestir num novo projecto de vida (en-
– Grief (sofrimento): reacções psicológicas, contrar «um lugar» para a pessoa falecida,
sociais e somáticas à perda. libertar-se da ligação emocional e investir
– Mourning (luto): reacção cultural à perda, em novos relacionamentos).
incluindo os processos intrapsíquicos, cons- Outros modelos mais actuais, tais como o mo-
cientes ou inconscientes, desencadeados delo dual (Stroebe M.S. e Schut H., 1999), adap-
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pela perda. tado de Twycross , referem que o indivíduo ao
– Bereavement (perda): o estado de ter sofri- vivenciar o processo de luto oscila entre enfrentar
do uma perda. a dor (examinando os pormenores da experiência
e expressando os seus sentimentos) e evitá-la
(evitando as recordações distraindo-se e manten-
teorias do processo de luto do-se ocupada). Deste modo, o indivíduo na sua
Existem vários autores e teorias explicativas experiência da vida diária, assume respectiva-
do processo do luto. mente comportamentos orientados para a perda
Segundo Parkes C.M. (1986), o indivíduo que se ou comportamentos orientados para a recupera-
encontra a vivenciar um processo de luto passa ção ou «restauração», sendo que o indivíduo
por um processo que inclui as seguintes fases: apresenta um processo de luto saudável ou «nor-
– Primeiro uma fase de entorpecimento, onde mal», se oscilar entre estes dois tipos de com-
inicialmente a pessoa em luto pode sentir-se portamentos, sem se reter apenas num deles.
desligada da realidade, desamparada/imo-
bilizada ou perdida. A negação inicial pode
ser uma forma de defesa do indivíduo contra apoio no processo de luto
um acontecimento de difícil aceitação. Segundo Rando , o apoio psicológico no pro-
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– Em seguida, segue-se uma fase de anseio cesso de luto deve integrar os seguintes passos:
e protesto que é caracterizada por emo- primeiro, estabelecer contacto com o sobrevi-
ções fortes, agitação motora e sofrimento vente e avaliar o momento do luto, estabelecen-
psicológico, podendo também aparecer do uma relação empática e avaliando a situação
prováveis culpabilidades e sentimentos de para planear a intervenção. Estar presente física
raiva dirigidos ou para si próprio ou para a e emocionalmente, de forma a dar segurança e
pessoa que morreu pela sensação de aban- suporte, especialmente na fase inicial de cho-
dono que a mesma provocou. que, tentando focalizar a família na resolução de
– Depois, uma fase de desespero na qual o tarefas concretas, antes de progredir para o ní-
enlutado reconhece a imutabilidade da per- vel dos sentimentos. Em seguida, deve-se “au-
da e normalmente se instala a apatia e de- torizar” o sobrevivente a sofrer: demonstrar ver-
pressão. Deste modo, é muito comum que balmente, e através de comportamentos e
ocorra o afastamento das pessoas e activi- atitudes não avaliativas, que a expressão do so-
dades, falta de interesse, assim como a ina- frimento é essencial para a resolução da perda.
bilidade para se concentrarem em tarefas Deve-se ainda tentar evitar que o sobrevivente
rotineiras ou para iniciar novas actividades. se isole: o suporte social é fundamental para a
– Por último, a fase de recuperação e restitui- boa resolução do luto, podendo ser considerado
ção onde, com mais frequência, aparecem um factor protector. Deste modo, o luto deve ser
sentimentos positivos e menos devastado- abordado numa perspectiva familiar, na medida
res em substituição da depressão e da fal- em que se está a lidar com a perda de uma
ta de esperança, surgindo então uma nova relação especial e com a perda da família como
identidade e o enlutado procura fazer novas era concebida até ao momento.
amizades e reatar antigos laços. O mesmo autor refere ainda que é necessá-
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Abordagens mais recentes concebem que o rio avaliar a evolução do processo de luto. No
DOR processo de luto pode ser influenciado por in- desenvolvimento de qualquer intervenção é fun-
tervenções exteriores que encorajam as pessoas
damental situar o sobrevivente no seu luto e
36 a realizarem determinadas tarefas durante esse determinar quais os factores que o influenciam.
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