Page 43 Volume 16 - N.3 - 2008
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Dor (2008) 16

Quadro 1. Análise da situação
Estatísticas populacionais sistema de Cuidados de saúde
Epidemiologia Sistema de Saúde
– Taxa de mortalidade – Politica e regulação (controlo da dor e cuidados paliativos como
– % de doentes com patologia prioridade)
crónica, avançada e progressiva – Serviços de agudos, domiciliários e de internamento de longa duração
– Distribuição e formação dos profissionais
Estatística socioeconómica – Serviços disponibilizados, profissionais de saúde, disponibilidade de
– Estrutura social e familiar fármacos e outros processos terapêuticos, equipamentos e manutenção
– Rendimentos financeiros
– Religião Utilização de fármacos
– Disponibilidade de opióides e outros fármacos essenciais
Recursos da comunidade – Custos associados, comparando com benefícios
– Organizações não-governamentais – Quota de utilização de opióides
– Actividades comunitárias – Quem controla, analisa a quota de utilização de opióides
– Rede de acção/apoio social – Como são disponibilizados os opióides




populacionais gerais com dados de prevalência/ Estimação das necessidades
incidência de problemas apresentados pelos
doentes, obtidos através de estudos sensíveis Na ausência da possibilidade de se obterem
locais ou populacionais, assim como a percep- os dados mais sensíveis para a determinação/
ção dos profissionais de saúde, dos doentes e avaliação das necessidades, em matéria de cui-
seus familiares, tanto a nível geral como local. dados paliativos, as mesmas poderão ser esti-
Deste modo, a avaliação das necessidades, madas com recurso a algumas fórmulas.
para estes autores, passa pela obtenção de dados Começando pelo número total de doentes que
quanto à taxa de mortalidade global, prevalência necessitariam de cuidados paliativos, este pode-
e grau de controlo dos sintomas e situações mais rá ser obtido sabendo, numa primeira fase, o total
prevalentes, utilização de opióides, utilização (in- de doentes falecidos sendo que em média, 60%
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cluindo frequência) de recursos, local de morte . destes necessitariam de cuidados paliativos 8,13 .
Higginson, et al. definiram também como fun- Tendo em atenção que os cuidados paliativos
damental para a implementação de um adequa- se dirigem também aos familiares, poderemos
do programa de cuidados paliativos, a avaliação assumir que estarão envolvidos por doente um
das necessidades da população abrangida ou a a três familiares, que consequentemente, serão
abranger. Para estes autores, deverão ser avalia- alvo dos cuidados.
das segundo a hierarquia de Maslow que, como Partindo destes dados, utilizando os dados
bem conhecemos, em primeiro as necessidades demográficos do Instituto Nacional de Estatística
fisiológicas ou de sobrevivência, em segundo as (INE), quanto ao número de óbitos, em relação
necessidades de segurança e protecção, a que ao ano de 2007 , temos que faleceram no país
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se seguem as necessidades de amar e de perten- 103.512 pessoas, pelo que, de acordo com a
ça, de respeito e auto-estima e por fim de supera- fórmula dos 60% de falecidos, obtemos que em
ção e auto-realização/autoconhecimento . Portugal, nesse mesmo ano, estima-se que
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Uma importante forma de avaliar as necessida- 62.107 falecidos/pessoas tiveram necessidade
des, para este conjunto de autores, é a utilização de cuidados paliativos. Se acrescentarmos o nú-
da taxonomia de Bradshaw, que não só identifica mero de familiares possivelmente envolvidos,
as necessidades como têm em conta o ambiente obtemos um universo de 124.214 a 248.428 pes-
onde elas se desenvolvem e os factores que podem soas que em 2007 deveriam ter recebido cuida-
influenciar esse desenvolvimento. Nesta contextua- dos paliativos de qualidade.
lização, as necessidades poderão surgir do interior Sendo a população oncológica, desde sem-
do indivíduo (o que sente que necessita), poderão pre, uma referência para os cuidados paliativos,
ser avaliadas pelo tipo de solicitações que apre- e aqueles que paradigmaticamente foram os pri-
senta, poderão ser encontradas pela percepção meiros alvos deste tipo de cuidados, na ausên-
dos profissionais que os cuidam, assim como resul- cia de dados, os mesmos poderão ser estima-
tado de comparações com outras pessoas . dos entre 21 e 25% do número total de falecidos .
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A prestação de adequados cuidados paliativos Desta forma, no ano de 2007, estima-se que
passa por uma adequada e intensa avaliação das faleceram por cancro no nosso país entre 21.738
necessidades dos doentes e suas famílias, quanto e 25.878. Se tivermos em conta os dados do INE
ao controlo da doença, controlo dos problemas relativos a 2005 , observamos que a percenta-
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físicos, psicológicos, sociais, espirituais, questões gem de doentes falecidos por cancro em rela-
de índole prática, questões inerentes à fase final ção ao total, se aproxima mais dos 21 que dos
DOR de vida, luto. Sempre que possível, apesar da di- 25%. Assim, estima-se que em Portugal o total
ficuldade, estes aspectos deverão também ser ti-
de doentes falecidos por cancro se aproxime do
42 dos em conta na avaliação das necessidades . extremo inferior do intervalo apresentado.
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