Page 39 Volume 16 - N.3 - 2008
P. 39
Dor (2008) 16
manifestar esse desejo. Leve a criança a
Quadro 2. Mitos relativos às crianças e adolescentes e visitar o cemitério, se assim for a sua von-
as suas perdas 5
tade, tendo o cuidado de explicar à criança
– As crianças não fazem o luto ou só o fazem quando aquilo que ela vai presenciar em cada um
atingem uma determinada idade. destes momentos.
– A morte de um ser querido é a única grande perda – Sendo capaz de ouvir e explicar, sem nunca
experimentada pela criança ou adolescente. esquecer a importância do contacto físico,
– É melhor proteger a criança da perda, pois é
demasiado nova para viver uma tragédia. referindo à criança que é permitido passar
– As crianças não devem ir aos funerais/ou devem ir um mau bocado e desta forma normalizar o
sempre aos funerais. sofrimento envolvido neste processo, são
– As crianças ultrapassam as perdas rapidamente factores essenciais para criar o contexto
– As crianças ficam marcadas permanentemente por
perdas precoces e significativas. mais adequado para o apoio à criança.
– Ajudar as crianças e adolescentes a lidar com a – Disponibilizando o tempo possível para po-
perda é da responsabilidade da família. der estar com a criança e explicando-lhe a
situação lentamente, adequando a lingua-
gem ao seu nível de desenvolvimento. Um
dos melhores métodos é deixá-los falar e per-
guntar com liberdade. As crianças percebem
– Tentem perceber o que a criança sabe so- os sinais se não lhes for dada informação,
bre a doença e esclarecer as suas causas, podem fazer as suas próprias interpretações,
assim como demonstrar afecto e as suas muitas vezes com recurso à fantasia, o que
emoções, tentando encontrar tempo para a pode ser mais ansiogénico e assustador.
família e manter as rotinas habituais. – Não temendo dizer-lhe que está triste e,
– Estejam preparados para ouvir e ter cons- por isso, mais irritado e nervoso do que é
ciência que a capacidade de compreensão habitual.
da doença, na criança, está relacionada – Não evitando o uso das palavras morte ou
com o seu grau de desenvolvimento. morrer, pois é importante dar nome aos pro-
– Compreendam que as crianças conseguem cessos, acontecimentos e sentimentos, as-
lidar com situações muito negativas como sim como, evitar o uso de eufemismos e de
a doença e a morte, e que muitos gostariam palavras que possam confundir ou ter sig-
de poder ver o pai ou a mãe depois da nificados alternativos para a criança, por
morte. Deixem que a criança possa fazer exemplo: «O avô ficou a dormir», pois a
perguntas e demonstrar os seus sentimen- relação entre morte/sono pode ser assusta-
tos, permitindo-lhes ser um elemento activo dora, ou «Foi fazer uma longa viagem»,
na família. tendo consciência de que quem viaja, re-
A maioria das crianças que sofre a morte de gressa e neste caso poderemos criar al-
um ser querido consegue superar o luto sem guns receios infundados na criança.
4
grandes complicações . Ao não falar da morte, Existem múltiplas formas e oportunidades de
o adulto crê estar a proteger a criança, como se abordar o tema da morte. A literatura infantil
essa protecção aliviasse a dor e mudasse ma- pode ser um excelente recurso. Livros infantis
gicamente a realidade. O que ocorre é que a que abordam o tema socorrem-se muitas vezes
criança se sente confusa e desamparada sem de mortes de animais, plantas/árvores, sendo
ter com quem conversar . uma forma mais confortável para o adulto intro-
17
«Não me lembro de me terem dado qualquer duzir o tema na sua conversa com a criança.
explicação. Ninguém me disse que depois do
funeral levariam o meu irmão Danny, pois neste
caso ter-lhe-ia dito adeus antes de ir para casa Assim sendo, o apoio psicológico no processo de 4
dos meus vizinhos. Queria ir ao funeral mas não luto da criança poderá ser realizado a vários níveis :
me deixaram porque lhes parecia que era de- – Intervenção psicológica individual, onde
masiado pequena» . deverá existir um duplo enfoque: aliviar e
9
O testemunho anterior revela como é impor- ajudar a criança na vivência actual da per-
tante envolver as crianças no processo de ado- da e prevenir as possíveis sequelas nos
ecer e no processo de luto. anos posteriores ou na idade adulta. Este
No quadro 2, fala-se sobre muitos mitos exis- apoio psicológico tem o objectivo de facili-
tentes relativos às crianças e adolescentes e tar o processo de luto através de técnicas
suas perdas. que permitam a expressão emocional da
criança; normalização do processo com vis-
ta a promover uma reacção adaptativa à
de que forma os adultos podem ajudar? 8 perda que a criança está a vivenciar e uma
– Permitindo à criança despedir-se do pai ou tentativa constante de manter a memória
DOR da mãe, ou seja, confrontar-se com a reali- – Intervenção psicológica em grupo, com o
viva da pessoa que morreu.
dade da perda. Deixe a criança ver a mãe
38 ou o pai e deixe-a ir ao funeral se ela objectivo de permitir a expressão emocional