Page 6
P. 6
S. Vaz: Editorial
da qualidade dos registos; a diminuição dos ferramenta, os autores esperam contribuir para
erros, riscos e custos; a manutenção da clareza a transformação global dos registos clínicos
dos dados; o auxílio na decisão clínica e uma para formato digital.
valiosa ferramenta para a investigação clínica. Termino com pequenos excertos do livro «Je-
Trata-se de uma aplicação informática especifi- rusalém» de Gonçalo M. Tavares.
camente concebida para unidades de dor cró- «…Uma das mais perturbantes perguntas do
nica. O interface é acedido por nome e palavra doutor Gomperz, a qualquer doente, era preci-
passe. A página principal inclui quatro separa- samente esta: em que é que está a pensar, meu
dores: história clínica; diagrama corporal; exa- caro?
mes e diagnósticos e consulta e follow-up. Este Em que é que está a pensar? A resposta ver-
último separador permite aceder à informação dadeira a esta questão só poderia ser conhecida
de consultas anteriores e tem nove formulários pelo próprio, não havia partilha possível. Todos
com questionários frequentemente usados em podiam mentir e portanto todos podiam estar
dor crónica. A informação é introduzida em cai- seguros. No entanto, o assustador nesta pergunta
xas de texto e questões de escolha múltipla, os era o oposto: nenhum dos doentes poderia provar
algoritmos usam-na para cálculo. Todos os da- que dizia a verdade.
dos são categorizados e guardados numa base …Mesmo para Theodor Busbeck – habituado
de dados eletrónica. Após o preenchimento dos aos labirintos mentais em que doente e médico
dados, pode ser impresso um relatório em pa- por vezes entravam, aquela pergunta era inacei-
pel, ou exportado um documento PDF para o tável, ou pelo menos ameaçadora.
ficheiro clínico digital. Adicionalmente, pode ser Em que deve pensar um homem? Para onde
impressa automaticamente uma folha com a pres- deve o homem dirigir o seu pensamento?
crição e recomendações para o doente. Realça- …Estava ali, não apenas um problema terapêu-
-se que os programas desenvolvidos por médi- tico, dirigido a loucos, mas um problema moral,
cos estão melhor adaptados às suas preferências básico, que dizia respeito a todos os homens.
como utilizadores e a capacidade de atualizá-los Um homem moral em que assuntos deve pen-
gratuitamente e com facilidade aumentou a ade- sar? E em que assuntos não deve pensar?»
são à tecnologia. Ao partilharem livremente esta Até breve.
DOR
5