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M. Oliveira, F. Antunes: Impacto da Dor Neuropática em Contexto de Internamento
Quadro 3. Caracterização dos doentes com dor
neuropática por diagnóstico, etiologia e sequela
Características n
Lesão medular 9
DN – Etiologia
Sem dor 28% • Traumática 4
39% • Degenerativa 4
• Inflamatória 1
– Status neurológico
• Tetraplegia 4
• Paraplegia 5
DNN – Nível de lesão
33%
• Cervical 4
• Dorsal 3
• Lombar 2
– Tipo de lesão
Figura 2. Distribuição dos doentes em estudo por DN, • Completa 1
DNN e sem dor. • Incompleta 8
Doença cerebrovascular 3
– Etiologia
• Enfarte cerebral 2
doentes tiveram uma pontuação inferior a três, e • Hemorragia intracerebral 1
foram assumidos como tendo dor não neuropá- – Sequela
tica (DNN). • Hemiparesia esquerda 3
Verificou-se que 41% (n = 9) dos doentes com
lesão medular internados no serviço de MFR Outros 1
apresentaram DN, por oposição aos doentes – Síndrome de Guillain-Barré 1
com sequelas de doença cerebrovascular –
apenas 14% (n = 3). Na quadro 3 apresentam-se
os resultados relativamente às características com sequelas de doença cerebrovascular com
em termos de diagnóstico, etiologia e sequelas DN o reportaram. Todos os descritivos foram
dos doentes com DN. De salientar que todos os mais prevalentes nos doentes com DN do que
doentes com sequelas de doença cerebrovas- nos doentes com DNN.
cular com DN tinham como sequela hemiparesia
esquerda e, como tal, envolvimento do hemisfé-
rio direito. Discussão
Na quadro 4 procedeu-se a uma análise com- A prevalência de DN em contexto de interna-
parativa entre os doentes com DN e doentes mento de MFR, assim definida com base no
SDN internados no serviço de MFR durante o resultado da aplicação do questionário DN4,
período em estudo. Na análise por sexo e idade mostrou ser elevada neste estudo prospetivo,
não se verificaram diferenças significativas entre corroborando estudos prévios.
os dois grupos em estudo. Procedendo a uma Para esta elevada prevalência contribuíram
análise relativamente ao parâmetro duração de sobretudo os doentes com sequelas de lesão
internamento, verificou-se que os doentes com medular. Estudos anteriores mostraram que a
DN apresentaram uma duração média superior dor crónica é bastante frequente na lesão me-
(48 ± 28 vs 41 ± 15), embora sem diferença dular, com uma prevalência reportada que varia
estatisticamente significativa (Fig. 3). Relativa- de 11 a 94% . Estudos que avaliaram especifi-
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mente à variação da MIF, os doentes com dor camente o componente neuropático nesta popu-
neuropática também apresentaram uma varia- lação, também mostram prevalências de DN
ção superior entre a admissão e a data de alta elevadas – 38% em doentes com lesão medular
(27 ± 13 vs 24 ± 16) (Fig. 4), contudo a diferen- não traumática e 40% em doentes com lesão
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ça não foi significativa (à exceção do subgrupo traumática . Nenhum destes estudos conseguiu
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com lesão medular). estabelecer correlações entre DN e nível de le-
Procedendo à análise dos resultados do ques- são e tipo (completa e incompleta). No presente
tionário DN4, e fazendo uma análise comparati- estudo, constatou-se uma prevalência seme-
va entre o subgrupo de doentes com DN e doen- lhante de DN nesta população (41%) e também
tes com DNN (Quadro 5), verificou-se que o não foi possível estabelecer relações significati-
descritivo mais frequentemente reportado pelos vas entre nível e tipo de lesão.
doentes com DN foi «formigueiros», seguido de Analisando a prevalência de DN nos doentes DOR
«dormência». «Comichão» apenas foi reportado com sequelas de doença cerebrovascular, ve-
por doentes com DN, sendo que os três doentes rifica-se que esta foi consideravelmente mais 9