Page 8 Volume 25 - N1 - 2017
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Dor (2017) 25
Dor (2017) 25
Abordagem Clínica da Dor: Expetativas
e Comportamentos
Maria João Berkeley Cotter , Marta Oliveira e Filipe Antunes 3
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Resumo
Objetivos: Análise de fatores de influência de dor numa consulta de dor crónica (CDC), relacionando a in-
tensidade da dor manifestada, utilizando a Escala Visual Analógica da dor (EVA), com o impacto na qualida-
de de vida, utilizando a escala Brief Pain Inventory (BPI) e as perturbações de ansiedade e depressão,
usando a Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS). Correlacionar resultados de questionários de iden-
tificação de dor neuropática (PainDETECT e Douleur Neuropathique en 4 Questions (DN4)] com a expetativa
clínica de dor neuropática e consequente orientação terapêutica. Materiais e métodos: Revisão dos registos
clínicos referentes às primeiras consultas de uma CDC realizadas por médico fisiatra, referentes ao ano de
2016. Foram analisadas as variáveis: idade, sexo, diagnóstico e os resultados da EVA, HADS, PainDETECT,
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DN4 e BPI. A análise estatística dos dados foi realizada através do programa SPSS Statistics 20.0 (IBM ).
®
Foram utilizados os teste t de Student para averiguar diferenças entre grupos e o coeficiente de correlação
de Pearson para averiguar associações entre variáveis. Resultados: Estudo retrospetivo de 38 doentes. A
idade média foi de 57,32 anos (± 13,69). 57,9% eram do sexo feminino. O DN4 (n = 38) identificou 58% dos
doentes com provável componente neuropático doloroso. O PainDETECT (n = 36) classificou do mesmo modo
apenas 14% dos doentes. Verificaram-se valores de EVA superiores nos doentes que foram classificados
como tendo dor de provável componente neuropático, em ambas as escalas, mas sem diferenças estatisti-
camente significativas (PainDETECT 5,08 vs. 3,74; DN4 4.41 vs. 4.00). Não se verificou correlação positiva
entre os valores da escala EVA e da escala HADS (ansiedade r = 0,32, p = 0,057; depressão r = 0,29, p =
0,114). No BPI a dimensão mais alterada do questionário foi a do «trabalho normal» com uma média de 7,32
(± 2,69) e a menos alterada a de «prazer de viver» com uma média de 4,11 (± 4,02). O grupo de doentes com
síndrome dolorosa pós-cirurgia lombar (SDPCL) foi o que obteve uma maior percentagem de DN4 positivo
(cerca de 78% dos doentes). Relativamente ao PainDETECT, o grupo que teve maior percentagem foi o da
fibromialgia com 50%. O grupo de doentes com SDPCL foi também o grupo com maior percentagem na di-
mensão «ansiedade» da escala HADS (66,7%). Já na dimensão «depressão», o grupo da fibromialgia foi o
que apresentou maior valor (100%). A taxa de concordância entre a expetativa clínica e os resultados de
questionários de dor neuropática foi de 78,4% para o DN4 e de 51,4% para o PainDETECT. Conclusões: O
impacto da dor na qualidade de vida é a chave para a qualidade de prestação de cuidados de saúde e daí a
importância de avaliar esse impacto com escalas específicas. A utilização de questionários de rastreio de
dor neuropática alerta o clínico para a instituição de tratamentos específicos e assim potencialmente mais
eficazes, mas sempre correlacionados com o primado da clínica.
Palavras-chave: Dor neuropática. Dor. Qualidade de vida.
Abstract
Objective: Analyse factors that influence pain in a chronic pain clinic. Correlating the intensity of pain using
the Visual Analog Pain Scale (VAS) with impact on quality of life, using the Brief Pain Inventory scale (BPI)
and anxiety and depression disorders using the Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS). Correlate
the results of neuropathic pain questionnaires (PainDETECT and Douleur Neuropathique in 4 Questions
1 Interna de formação específica
2 Assistente Hospitalar
3 Assistente Graduado
DOR Serviço de Medicina Física e de Reabilitação
Hospital de Braga
28 Portugal
E-mail: mariajoaocotter@gmail.com