Page 34 Analgesia em Obstetrícia
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a provável inocuidade da mesma sobre o decurso do trabalho de parto
(induzido ou espontâneo), decide solicitar a nossa intervenção. Ainda
na nossa experiência pessoal, parece ser efectivamente irrelevante o grau
de dilatação cervical, salvaguardada a decisão obstétrica de que o trabalho de
parto será sempre para “avançar”!
5.5. Existem pré-requisitos ou condições
impeditivas da realização da técnica?
Não nos alongaremos muito neste item, até porque o mesmo não é
consensual em algumas das suas alíneas. Apenas acrescentamos algumas
considerações sobre um aspecto que nos preocupa particularmente, carecendo
de acções eficazes de educação para a saúde e mudança efectiva de atitudes.
Referimo-nos à necessidade ou não de jejum durante o trabalho de parto.
As técnicas modernas de analgesia de parto, sendo bastante seguras,
raramente condicionam situações que colocam a grávida em risco de aspira-
ção do conteúdo gástrico. Assim, as recomendações actuais da Sociedade
Americana de Anestesiologia são as de se autorizar a ingestão de fluidos
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simples em quantidades moderadas, durante todo o trabalho de parto . Esta
recomendação é ainda suportada por um estudo recente que revela que a
ingestão de bebidas isotónicas reduz a incidência de cetose materna associada
ao jejum prolongado, não aumentando o volume gástrico ou a frequência de
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náuseas e vómitos, sendo ainda muito apreciada pelas grávidas .
5.6. Como eu faço a analgesia peridural para
o parto vaginal
5.6.1. Aspectos essenciais da anatomia e fisiologia materna
O útero apresenta inervação torácica baixa e lombar, envolvendo as raízes
nervosas de T10 a L2 no primeiro estádio do trabalho de parto (fase latente
e activa da dilatação). No final do primeiro estádio e durante os segundo e
terceiro estádios (período expulsivo e saída da placenta), para além das raízes
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de T10 a L2 são também envolvidas as raízes sagradas de S2 a S4 .
A grávida de termo “saudável” apresenta alterações fisiológicas da água corpo-
ral, que se caracterizam por um aumento do volume circulante efectivo. Assim,
existe um quadro típico de hipervolemia. A pressão arterial sistólica é, normalmen-
te, mais baixa do que no início da gravidez, e é muito frequente encontrar grávidas
em início de trabalho de parto que, em decúbito lateral, apresentam valores de TA
sistólica entre os 80 a 100 mmHg, sem repercussões sobre o bem-estar fetal.
5.6.1.1. Posicionamento; material
Qualquer que seja a técnica escolhida, a nossa opção pessoal é invari-
avelmente a de colocar a grávida em decúbito lateral – DL – (indiferente o
lado, aquele para onde a grávida já esteja eventualmente posicionada), com
a cabeceira da cama a 0º ou a < 5º. Esta posição, tradicionalmente indicada
como envolvendo maior dificuldade técnica, é aparentemente mais cómoda
para a grávida, assegurando ainda uma maior estabilidade do tronco.
Adicionalmente, não existe compressão dos vasos femorais, situação que
dificulta o retorno venoso dos membros inferiores. Em DL, a identificação
da linha mediana, por vezes difícil nas grávidas obesas, é conseguida pela
palpação descendente das apófises espinhosas a partir das vértebras torá-
cicas – de fácil identificação mesmo nas obesas – até se atingirem as
vértebras lombares.
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