Page 32 Analgesia em Obstetrícia
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5. Analgesia do trabalho de parto
por bloqueio do neuroeixo
ou peridural
PAULO SÁ RODRIGUES
5.1. Introdução
A dor é um dos fenómenos mais perturbadores da condição humana, com
expressão física e emocional, ao qual se tem dado, progressivamente, maior
relevo ao nível dos cuidados de saúde. Com efeito, a dor é considerada, hoje
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em dia, como o “quinto sinal vital” (Pain: the fifth vital sign – American
Pain Society, 11 de Novembro de 1995).
Em 14 de Junho de 2003 (Dia Nacional de Luta Contra a Dor), o Governo
português tomou uma iniciativa pioneira a nível europeu, ao “decretar” formal-
mente a implementação deste conceito nos serviços de saúde. Logo, e assim
o aguardamos, em todas as salas de parto de Portugal continental e ilhas.
O parto por via vaginal está normalmente associado a dor e sofrimento
físico intenso. Assim, ter um parto sem dor é hoje reconhecido como um direito
essencial de todas as grávidas, as quais devem ser educadas nesse sentido.
Recentemente, o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia e a
Sociedade Americana de Anestesiologia emitiram uma declaração conjunta
sobre este assunto, da maior importância em termos de educação para a
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saúde . Assim, desde que sob vigilância médica e na ausência de contraindica-
ção clínica, o pedido da grávida é um critério suficiente para iniciar de
imediato a analgesia do trabalho de parto (TP).
A aplicação deste princípio só terá sucesso se os profissionais de saúde e
as grávidas forem adequadamente esclarecidos sobre a evidência actual: a
analgesia “precoce” não parece ter qualquer influência negativa sobre a evolu-
ção do trabalho de parto, nomeadamente no que diz respeito à incidência de
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parto distócico, e a efeitos sobre o feto ou recém-nascido ou sobre a mãe .
De todos os métodos de analgesia de parto disponíveis, o mais solicitado
pelas grávidas (cerca de 60%, nos EUA) é a analgesia por técnica de bloqueio
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do neuroeixo ou peridural . A qualidade da analgesia por estes métodos é
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muito superior à proporcionada pela analgesia endovenosa com opióides .
Assim, neste capítulo procuraremos transmitir alguns dos conceitos que
pautam a nossa actuação individual nesta área e usando estas técnicas, na
maternidade de um hospital central (Hospital de Santa Maria) – com um
número estável de aproximadamente 3.100 partos/ano – e na sala de partos do
Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa (aprox. 1.400 partos/ano).
5.2. O papel do anestesiologista da sala de partos
Nos tempos actuais, o anestesiologista é, necessariamente, um dos mem-
bros residentes da equipa de saúde maternoinfantil da sala de partos. A sua
integração nesta equipa exige o conhecimento profundo dos aspectos anató-
micos, fisiológicos e fisiopatológicos inerentes à grávida, ao feto e ao parto –
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