Page 33 Analgesia em Obstetrícia
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incluindo a cardiotocografia fetal – e uma experiência adequada no manejo
anestésico e cuidados intensivos de situações de “catástrofe” (p. ex. hemorra-
gia pós-parto, a actual causa de morte mais frequente).
A diferenciação técnica na execução das técnicas de anestesia regional –
normalmente o mais “valorizado” pelos que nos circundam – é, em nossa
opinião, um aspecto secundário: apresenta uma curva de aprendizagem clás-
sica, dependente do tempo e do número de casos, e posteriormente requer
uma prática regular de forma a manter no valor mínimo as complicações.
Ao anestesiologista da sala de partos pede-se ainda uma tolerância elevada
ao stress e um esforço de empatia e conforto regular da grávida, mesmo na
presença dos casos mais “difíceis”. Comparativamente à grande maioria das
áreas de actuação do anestesiologista, esta é, sem dúvida, uma daquelas onde
necessitamos de desenvolver e manter uma grande capacidade de relação
interpessoal e de gestão adequada de situações de “crise” do foro emocional
ou social. Adicionalmente, ao anestesiologista da sala de partos pede-se ainda
que seja um educador: das grávidas e dos demais utentes, dos colegas médicos
e enfermeiros, e dos internos das especialidades.

5.3. O consentimento esclarecido
É por todos reconhecido a relevância deste tema, pelo respeito que nos deve
merecer a pessoa humana e o seu direito à informação, e pelos aspectos
medicolegais envolvidos. Várias abordagens são possíveis, desde a consulta de
anestesia pré-parto, estruturada, até ao diálogo breve, mas necessariamente
esclarecedor, antes do início da técnica. Chamamos a atenção para o facto de,
muita vezes, a grávida apenas pretender “algo ou alguém” que lhe alivie a dor
aguda intolerável, sem que esteja adequadamente informada sobre os métodos de
analgesia disponíveis. E que lhe é sempre possível alegar que, no momento em que
foi abordada, a violência da dor e a labilidade emocional a ela associada não
permitiram outra opção que não a de “aceitar” o que lhe tinha sido proposto – “é
só uma picadinha na coluna”… expressão tão frequente, nas salas de partos.
Uma abordagem segura, convicta e “acutilante” em termos da selecção da
informação relevante, se possível na presente de uma ou mais testemunhas,
permite tornear, quase sempre, o medo, ansiedade e segurança.

5.4. Quando iniciar um método de analgesia do
trabalho de parto por via peridural?
È da nossa experiência que, entre muitos dos profissionais de saúde ligados ao
período periparto, ainda existe a convicção firme de que a analgesia peridural deve
ser iniciada a partir de um valor específico de dilatação cervical, que varia entre os
3 a 5 cm, consoante as “correntes”. A sugestão seria a de que, caso a analgesia fosse
iniciada antes, a incidência de parto por cesariana ou parto distócico vaginal
aumentaria. Esta concepção resulta dos dados fornecidos por alguns estudos caso-
controlo, de observação, não aleatórios, utilizando protocolos de fármacos e
técnicas muito desajustadas da realidade actual, para além de diferentes metodolo-
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gias de condução obstétrica do trabalho de parto . Ao invés, existe um importante
conjunto de evidências, resultantes de estudos prospectivos e aleatórios, que
mostram não haver diferença significativa nas taxas de cesariana e parto distócico
vaginal, se a analgesia for iniciada antes dos 3 cm de dilatação cervical 10-13 . Mais
ainda, técnicas mais recentes como a analgesia combinada subaracnoideia-epidural
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parecem incrementar o número de partos vaginais eutócicos .
É da nossa experiência pessoal que o momento ideal para iniciar a
analgesia peridural é aquele em que a grávida, devidamente informada sobre

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