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Avaliação do paciente

com cefaleias









Da experiência clínica resulta que uma das etapas mais importantes na con-
sulta de um paciente com cefaleias é a avaliação. Esta tem que ser abrangente
e deve ser biológica, psicológica e social. Sobretudo nas cefaleias persistentes
ou com vários meses de evolução esta é a única via para conduzir a um diag-
nóstico clínico completo e alterar o curso do doente. A cefaleia é, nestas
condições prolongadas, um sintoma multidimensional e não apenas o somató-
rio de acontecimentos biológicos. Assim, é muito importante que a avaliação
do doente com cefaleias seja feita não apenas com o objectivo de rastrear uma
causa maligna ou orgânica e ficarmos descansados porque é do tipo tensão ou
enxaqueca, mas também há necessidade de pensarmos a pessoa com dor de
cabeça como uma pessoa que sofre, que se relaciona, que enfrenta problemas,
que tem emoções e que se vê prejudicada no seu bem-estar. Pois daquele modo
a evolução do paciente não se altera, o que se modificou foi a preocupação e
atitude do clínico perante a pessoa com dor de cabeça. Assim, o que queremos
salientar é passar de um diagnóstico fundamental mas exclusivamente sinto-
mático para um diagnóstico total biopsicossocial. A única excepção que pode-
mos considerar são as cefaleias de tipo agudo e subagudo e cuja evolução em
minutos, menos de horas ou em dias tem um desfecho objectivo.
A avaliação tem que ser compreensiva e global, começando pelo orgânico
passando para o psicológico, socioambiental e consequências das cefaleias no
paciente e na sua vida em geral.
Para que se consiga estes objectivos é necessário que se tenha conheci-
mentos, desenvolva a capacidade para obter dados clínicos, observe-se o com-
portamento do doente e expressões não verbais, a permitir ao doente uma
exposição aberta das circunstâncias das cefaleias, estar a atento a resistências
e emoções mas não as confrontar no imediato, determinar quais são as expec-
tativas e convicções do paciente, interrogar, propiciar informação, explorar,
clarificar, dar enquadramento às questões e à cefaleia.
O entrevistador tem que estabelecer uma atitude empática com a pessoa
muitas vezes já com longo trajecto de cefaleias e, por isso, com emoções ne-
gativas para com o entrevistador que vem de anteriores experiências de trata-
mento e intervenções. As cefaleias tem que ser inseridas no contexto do dia a
dia do doente para que se consiga clarificar factores desencadeantes ou que
exacerbam a dor. Um aspecto relevante é a cronologia dos acontecimentos da
vida da pessoa e a evolução das cefaleias. Verifica-se, com frequência, um
aumento de frequência, por exemplo, dos episódios de enxaqueca em associa-
ção a alterações emocionais e maior stress. Se esta cronologia não for avalia-
da perde-se a possibilidade de diagnóstico dos factores de agravamento ou
desencadeantes e manutenção de uma persistência de cefaleia.
O entrevistador tem que ver qual o momento mais apropriado para explorar
as emoções do doente, os acontecimentos mais traumáticos da vida e permitir
que o paciente os desenvolva na relação terapêutica. Claro que um dos objec-


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