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As guinadas e fisgadas súbitas estão frequentemente associadas a cefaleia com
factores provenientes da coluna cervical.
A periodicidade e frequência da dor de cabeça são também questões re-
levantes e necessárias para se estabelecer um diagnóstico. Por exemplo,
podem ocorrer com períodos sem cefaleias e períodos do ano com cefaleias,
como ocorre na cefaleia de tipo cluster e dentro do período de cluster, que
pode ir de duas semanas a seis meses. A frequência dos ataques diários pode
ser de só um por dia ou oito vezes por dia, podem ter predomínio diariamen-
te nocturno ou diurno. Nas cefaleias de tipo tensão, estas podem ocorrer
episodicamente ou de modo crónico com a frequência de mais de quinze epi-
sódios por mês e até quando diárias estão presentes de manhã no início do dia
e têm um agravamento ao final do dia. É importante questionar se houve
algum período livre de cefaleias e quando ocorreu, por quanto tempo, por
exemplo pode ter acontecido aquando de uma gestação, e isso orienta para
uma maior possibilidade de diagnóstico de enxaquecas. A associação com o
ciclo menstrual é frequente na enxaqueca. Também o facto de o período livre
de cefaleias ocorrer após a menopausa e depois haver outra recorrência ou
cefaleias de novo, temos que diferenciar bem o seu diagnóstico actual. Tam-
bém é fundamental este registo de ocorrência da parte do paciente fazendo o
seu diário, o que ajuda bastante o clínico no seu acompanhamento e a estabe-
lecer o padrão ou não da periodicidade e frequência das crises. A periodicida-
de pode estar relacionada com acontecimentos vitais, o que nos orienta tam-
bém para o diagnóstico de cefaleias de tipo tensão ou sintoma de perturbação
emocional. A modificação da frequência da cefaleia num paciente já diagnosti-
cado e em tratamento deve alertar-nos para a forte possibilidade de se tratar de
uma nova patologia e a cefaleia ter um curso autónomo da anterior, embora
possa ter no início características semelhantes o doente deve ser reavaliado.
Existem sinais associados às dores de cabeça que também contribuem para
a orientação do diagnóstico. No caso da enxaqueca, a dor é acompanhada
geral de náuseas, por vezes de vómitos, fonofobia e fotofobia, osmofobia, al-
terações da visão ou outros défices neurológicos. Na cefaleia de tipo tensão
podem ser visíveis sinais de ansiedade ou de alteração emocional no paciente.
Na cefaleia de tipo cluster o doente apresenta, do mesmo lado da dor, conges-
tão ocular, lacrimejo, ptose palpebral, congestão nasal, rinorreia, miose, e
sudorese facial. Os tumores cerebrais apresentam, por vezes, cefaleias acom-
panhadas de vómitos, rigidez da nuca e outros sinais neurológicos de acordo
com a localização cerebral. Na cefaleia de uma hemorragia subaracnoideia
podem ocorrer: náuseas, vómitos, rigidez da nuca, alteração do estado de
consciência até a perda da mesma, e défices neurológicos. Nas cefaleias cer-
vicogénicas pode ocorrer limitação dos movimentos do pescoço, hiperalgesia
e alodinia. Nas cefaleias secundárias a estados infecciosos como sinusite pode
existir hipertermia. Na arterite das células gigantes existe rubefacção, espes-
samento e sensibilidade das artérias do escalpe.
Por vezes a cefaleia pode ser precedida de sintomas premonitórios ou
pródromos, como alterações do humor, que podem ocorrer horas ou dias antes
da cefaleia, sobretudo na enxaqueca, ou mais próximos da dor de cabeça,
como bocejar, sonolência, tonturas. Pode também haver uma disfunção neu-
rológica focal transitória, designada de aura, que ocorre até ao máximo de uma
hora antes da cefaleia (fase álgica). Esta é uma característica da enxaqueca
com aura. Em geral o sintoma mais frequente é a aura visual e a mais comum
é a visão de uma fortificação brilhante (escotoma cintilante) e cintilante, que
intercepta o campo visual direito ou esquerdo e que se interpõe com a imagem
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