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Na maior parte dos pacientes com cefaleias crónicas não é evidente uma
causa orgânica, enquanto nas crises agudas ou em início deve ser sempre
ponderada uma causalidade orgânica e a cefaleia considerada um sintoma
a avaliar.
Se excluirmos a causalidade orgânica então temos que pensar que esta-
mos perante uma cefaleia primária e que temos que especificar qual, de acor-
do com os critérios de diagnóstico estabelecidos pela International Headache
Society (IHS).
Outro aspecto importante na avaliação é que os pacientes podem ter mais
de um tipo de dor de cabeça, sendo frequente nos pacientes com cefaleia
crónica a instalação de outro tipo de dor que em geral este paciente não dis-
tingue ou tem grande dificuldade em apresentar em separado. Nestes casos, a
perícia do examinador é fundamental para as determinar, colocando as ques-
tões adequadas e através da suspeição de diagnóstico.
Por vezes, na continuação do acompanhamento do doente podemos ter que
rever o caso clínico em face de novos sinais e sintomas ou de uma evolução
não característica, e aí temos que equacionar a possibilidade de estarmos pe-
rante uma causa orgânica de novo.
Frequentemente, os pacientes são avaliados sectorialmente de acordo com
a formação do clínico e fazem inúmeras consultas e tratamentos parcelares,
sem resultado ou sem diagnóstico, contribuindo para uma maior cronicidade,
prejuízo funcional e iatrogenia. Estes aspectos e consequências devem ser
ponderados e sempre que não se obtenha uma conclusão na avaliação o recur-
so a outros profissionais ou uma clínica de dor é a solução mais adequada.
A localização e a duração da dor de cabeça são aspectos a definir com
precisão desde o início. A localização unilateral, hemicrania, na enxaqueca e,
por vezes, a alternância na mesma crise, e de crise para crise, são caracterís-
ticas, embora em geral um lado é predominante. Na enxaqueca a duração pode
ser de horas a cerca de três dias, e quando persiste por mais tempo estamos
perante um estado migranoso. Na cefaleia de tipo tensão o predomínio de
localização é bifrontal e bioccipital, como uma banda à volta da cabeça, ou no
vértex e tem em geral a duração de trinta minutos a dias. As cefaleias secun-
dárias a um tumor cerebral são habitualmente no mesmo lado do tumor. As
cefaleias relacionadas com lesões vasculares são localizadas ou globais. A
cefaleia da arterite das células gigantes é temporal mas não só. Na hemorragia
subaracnoideia a cefaleia é occipital e na nuca e de duração variável. Uma dor
de cabeça unilateral periorbitária ou retroorbitária é comum na cefaleia de tipo
cluster com duração de trinta a cento e vinte minutos
O carácter e a intensidade da dor de cabeça são também muito importantes
para o diagnóstico. Por exemplo, na hemorragia subaracnoideia o início é
súbito, frequentemente crescente, e é o aviso do que se vai observar a seguir,
nomeadamente alterações neurológicas focais e do estado de consciência do
doente, o que deve alertar de imediato para a urgente intervenção deste
quadro sem qualquer demora. O carácter pulsátil e latejante da cefaleia é
característico da enxaqueca, mas não só. Se esta for crescente, contínua, sem
qualquer tipo de alívio ou variação de intensidade, é de suspeitar de ruptura
de alguma malformação vascular ou aneurisma. A sensação constante de aper-
to bifrontal e também bioccipital, a dor no vértex em peso, com sensação de
calor, são muitas vezes típicas da cefaleia de tipo tensão. As sensações como
água gelada a escorrer, picos, adormecimento, moedeira são também descri-
ções frequentes em cefaleias idiopáticas ou associadas a estados psicológicos.
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