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real, causando mal-estar e confusão na acuidade visual. Outras manifestações
visuais são possíveis produtivas ou deficitárias, e outros sintomas neurológicos
disfasia e alterações da sensibilidade cutânea, sobretudo na língua, face e mão.
Duas condições são bastante específicas: a enxaqueca hemiplégica e a basilar,
respectivamente, com sinais cerebelosos na primeira, e disartria, vertigem,
acufenos, hipoacusia, diplopia, sintomas visuais bilaterais, ataxia, redução do
nível de consciência e parestesias bilaterais, na segunda. Uma curiosidade é a
ocorrência de aura, por exemplo visual, exactamente igual à que acontece na
enxaqueca mas sem enxaqueca, mas após os quarenta anos de idade sem an-
tecedentes de enxaqueca deve-se excluir outro diagnóstico como o de aciden-
te isquémico transitório.
Na avaliação diagnóstica é também importante valorizar os factores associa-
dos ao início da dor de cabeça, pois estes são de grande utilidade para o diag-
nóstico. Assim, temos, por exemplo, o caso de uma cefaleia de tipo enxaqueca
poder estar associada ao período menstrual, ser desencadeada após a ingestão
de álcool, ao cheirar um perfume ou outro cheiro intenso, a um abuso de
chocolate, a uma alteração do sono, entre outros factores. O álcool também
pode ser o desencadeante da dor de cabeça de tipo cluster, e fora deste perí-
odo o consumo de álcool não tem qualquer efeito. No caso de uma cefaleia de
tipo tensão episódica, um estado agudo de stress ou uma alteração emocional
podem desencadear de imediato a dor de cabeça. A mudança de hábitos ao fim
de semana em pessoas com consumo excessivo de cafeína causa, frequentemen-
te, cefaleia ao sábado ou domingo por falta de ingestão do café. A actividade
sexual pode desencadear uma cefaleia intensa que merece investigação adequa-
da. A tosse pode ser um factor desencadeante de cefaleia onde deve ser exclu-
ída a natureza secundária. O riso pode, também ele, desencadear cefaleia.
O facto do paciente reconhecer estes factores é muito importante para o
objectivo da redução da frequência das crises e do tratamento do mesmo.
Outro aspecto a valorizar são os factores que aumentam a intensidade da
cefaleia. Como exemplo temos o stress, o esforço físico, estar na presença de
ruídos e luzes fortes, a postura física do doente, a ingestão de álcool, dormir
de mais ou de menos, a fadiga, estar horas sem comer, saltando refeições.
Outros factores melhoram a cefaleia, como descansar num quarto calmo e
escuro, comprimir a cabeça, dormir, melhoram a enxaqueca, mas, por exem-
plo, na cefaleia de tipo cluster os doentes sentem-se melhores a andar ou
sentados de pé. Na cefaleia de tipo tensão o facto de relaxar, descansar, dis-
trair-se ou dormir melhora a dor de cabeça. Outro factor importante na mulher
é a gravidez, que contribui para o alívio da enxaqueca na intensidade e frequ-
ência, sobretudo nos dois últimos trimestres.
Os fármacos que o paciente usa por automedicação levam a questionar o
paciente sobre este aspecto quando as cefaleias são crónicas, permanentes e
não melhoram com nenhum tratamento, pois podem resultar de abuso medi-
camentoso que o paciente só revela em ambiente relacional de confiança,
acontecendo além de situações de abuso de analgésicos, também dependência
física de substâncias analgésicas, sendo uma das manifestações a cefaleia por
abstinência.
Determinadas substâncias psicoactivas como a cocaína podem também
desencadear dor de cabeça na abstinência da mesma. O álcool é a substância
mais comum por efeito directo ou indirecto.
Os antecedentes pessoais do doente podem constituir uma chave para a
compreensão da maior parte dos casos de agravamento da cefaleia de tipo
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