Page 11
P. 11
tivos técnicos da entrevista médica é determinar qual a natureza do problema
do doente, defini-lo e proceder a uma orientação terapêutica efectiva sempre
que possível. Para este objectivo, o clínico pode necessitar de ajuda de outra
área médica no sentido de completar a avaliação e estabelecer um diagnóstico
e uma orientação terapêutica.
Tem que haver cuidado no que se comunica ao paciente sem termos ainda
um diagnóstico ou prognóstico efectivo, porque poderá influenciar actos ou
intervenções futuras ou decepções no paciente que podem levar anos a ultra-
passar devido a sentimentos negativos entretanto desencadeados. Assim, sem-
pre que existam dúvidas não se deve transmitir diagnósticos ao paciente e
recorrer a apoio esclarecedor.
Frequentemente, na maior parte dos pacientes com cefaleias os exames
físicos são negativos, e isto constitui uma grande surpresa ou dificuldade para
o doente pois não entende, não compreende então como tem as dores de ca-
beça. Pior ainda é quando o doente deduz que se está a dizer que não tem nada.
Este é outro aspecto central da comunicação com o doente com cefaleias que
é explicar, informar o doente sobre a sua condição e os mecanismos da dor
de cabeça que podem ser de ordem psíquica mas que não quer dizer que está
«maluco» ou que é «tudo da sua cabeça». É muito importante ligar nestes
casos a manifestação real somática e sensorial com os mecanismos psicológi-
cos desencadeantes ou de exacerbação de condições de dor prévias. Enquan-
to não se conseguir esta ligação, ou seja, a aceitação da cefaleia como sintoma
de outra condição, não se pode avançar no tratamento dessa outra condição que
pode ser, por exemplo, uma depressão. Para tal não se pode ser ambíguo, dico-
tómico, tem que se aceitar esta união entre o somático e o psicológico. Falar
sobre a realidade é o caminho a seguir, apresentar os dados concretos obtidos,
inserir a cefaleia no conjunto de sintomas e acontecimentos do paciente assi-
nalando a relação entre ambos. O paciente pode ser resistente à explicação
dada mas não se pode ser autoritário perante essa reacção do doente, temos
que a entender porque é que é assim e o que está a dificultar a aceitação. Há
prioritariamente que manter a empatia e a relação terapêutica. Tentar observar
quais são as diferenças de perspectiva da parte do doente ou se estas fazem
parte de um padrão de funcionamento e comportamento do paciente, ou de as-
pectos psicológicos mais graves mas não conscientes para o doente. Deste modo,
deve-se explicar a fisiopatogénese do sintoma dentro do contexto de ansiedade,
depressão ou mais fácil ainda com o stress, recorrer a exemplos práticos,
confrontar com episódios do doente, demonstrar no passado e presente a re-
lação entre o estado emocional e cefaleia.
Após esta estratégia, deve-se avaliar a aceitação da alternativa colocada e
o consenso obtido e estar atento se estes se mantêm. No caso de não ter sido
possível dever-se-á recorrer a ajuda de outro profissional se sentirmos esgota-
das as nossas possibilidades de sucesso.
Frequentemente, há necessidade de uma recapitulação antes de propor o
tratamento adequado.
No tratamento de doentes com cefaleias primárias é muito importante uma
relação médico-doente regular.
História clínica
É fundamental ao avaliarmos uma pessoa que se queixa de dor de cabeça estar
muito atento aos pormenores da descrição que a pessoa faz da sua dor actual,
dos episódios prévios, da evolução, características da dor, das condições en-
8