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Estas condições são muito complexas em termos de diagnóstico e com
fisiopatologia desconhecida mas compreensivelmente análoga à da cefaleia
pelos mecanismos de dor central e periféricos envolvidos. Por exemplo, no
caso da cefaleia após trauma na região do pescoço existe um componente
miofascial mas quase sempre são descritas como sendo de tensão ou cervico-
génicas. É muito importante em qualquer diagnóstico de dor procurar conhecer
o mecanismo envolvido e a fonte da dor pois se existir um componente mus-
cular este deve ser tratado nomeadamente através do tratamento físico, recor-
rendo a massagem, a ultra-sons ou ao biofeedback. Se ao tratarmos a cefaleia
o componente cervical se mantém presente é porque este existe e não foi
tratado. Também temos que rever bem as disfunções mecânicas das articula-
ções pois estas também podem ser causa de dor reflexa muscular local. O
recurso a bloqueios ou injecções locais pode felizmente aliviar a dor mas nem
sempre nos indica a causa ou a fisiopatologia.
Alguns quadros de cefaleia crónica constituem uma verdadeira síndrome
de dor crónica. O paciente tem um diagnóstico, está a fazer um tratamento e
não se vê razão aparente ou objectiva para a magnitude do sintoma. Nestes
casos, a dor é persistente, aparentemente sem solução, afectando dramatica-
mente a vida da pessoa. O paciente apresenta a dor de cabeça e o seu sofri-
mento, sempre queixoso, centrado na dor de cabeça, está incapacitado, por
vezes zangado, exibe um comportamento apelativo de uma cura imediata.
Assume-se que não há mais nada a fazer e que tudo é devido aos mecanismos
psicológicos ou a dor não é real. Mas na verdade, estamos perante uma falên-
cia dos mecanismos adaptativos da pessoa e do sistema de dor central, resul-
tando na persistência autónoma da dor de cabeça. Um estado alterado de
percepção de dor persiste num complexo puzzle fisiológico, emocional e neu-
roquímico. Isto é muito importante para que se pense e valorize esta evolução
e se previna através de uma outra atitude que implica o começar de novo, isto
é o começo do tratamento. A avaliação e o tratamento multidisciplinar está
indicado nestas condições. O paciente aceitará se entender que é o correcto,
nem tudo se pode explicar, não sabemos tudo e que não há outra alternativa.
Estes são os pacientes com situações clínicas mais difíceis e que temos que
estar preparados para acompanhar e ajudar e não pensarmos que é um insu-
cesso ou que a dor não é real.



























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