Page 37
P. 37



A dor de cabeça crónica












Nesta condição não existe um tipo de dor de cabeça mas um vasto leque de
tipos, causas de cefaleias que podem acontecer ou evoluir de um frequência
episódica para diária ou quase diária persistente e contínua (ao longo de
15 dias ou mais por mês durante mais de três meses). Cerca de 20% dos pa-
cientes têm cefaleia nova persistente diária desde o início e os restantes são
uma evolução de uma dor de cabeça episódica. Na maioria dos casos é
como se os mecanismos de auto-regulação da dor e de adaptação emocional
às situações de vida se tivessem perdido.
Este grupo de pacientes constitui o grupo mais difícil de tratar e de maior
cronicidade na experiência clínica. A maioria não tem apenas uma causa, ou
seja, não é uma forma pura. A comorbilidade com outras condições clínicas
existe em geral. Os pacientes com cefaleias crónicas são mais difíceis em
consulta. As queixas são dispersas, mais subjectivas, mais emocionais, centra-
das no sofrimento e no prejuízo causado pela condição, os pacientes não usam
termos específicos a respeito da dor, das características, dos factos, dos sin-
tomas, mas centram-se no alívio imediato da dor, na falta de sucesso do trata-
mento, na medicação e usam tudo o que possa ser sugerido para aliviar a dor,
experimentando múltiplas consultas e todo o tipo de fármacos, sendo ainda
resistentes aos tratamentos. Nestas condições crónicas a relação com os fac-
tores desencadeantes traumáticos perdem-se e a dor passa a constituir uma
síndrome de dor crónica.
As que se apresentam secundárias a uma causa orgânica podem ser devidas
a: alterações da pressão do líquido cefalorraquidiano; hipertensão intracrania-
na idiopática; hipotensão intracraniana; infecção sistémica; meningite; apneia do
sono; abuso de cafeína; nevralgia; arterite temporal em idosos, cefaleia cervico-
génica e cefaleia pós-traumática. A cefaleia pós-traumática é uma das mais fre-
quentemente observadas na clínica e pode levantar a questão se é uma cefaleia
orgânica ou secundária ao trauma, ou se já existir história prévia de cefaleia, se
trata de um agravamento da cefaleia pré-existente. Uma história clínica cuida-
da ajudará muito nesta distinção e o acompanhamento longitudinal do pacien-
te. Considera-se crónica quando a cefaleia persiste para além dos três meses
do trauma. A maioria ficará sem cefaleias mas em cerca de 20% continuam
com cefaleias persistentes. Por vezes este quadro é muito mais global do pon-
to de vista somático e psicológico e múltiplos factores se misturam nesta
condição constituindo uma síndrome pós-traumática.
As condições orgânicas são as mais raras nas cefaleias crónicas e as mais
frequentes são as cefaleias primárias.
A enxaqueca crónica antes designada de enxaqueca transformada é o termo
dado a uma enxaqueca que ocorre em 15 ou mais dias por mês e por mais de
três meses na ausência de abuso medicamentoso. Na maior parte dos casos é
uma doente que sofria de enxaqueca episódica e que evolui devido a stress,
trauma psicológico ou físico, para uma maior frequência e com episódios de


34
   32   33   34   35   36   37   38   39   40   41   42